HealthNews (HN)- A endometriose é uma doença crónica comum que afeta sobretudo mulheres em idade reprodutiva. Como explica ser tão subdiagnosticada?

Filipa Osório (FO)- Infelizmente para muitas mulheres sentir dor durante a menstruação ainda é considerado normal. Dentro das famílias este desconforto é apontado como algo comum e acabam por não procurar ajuda médica.

Por outro lado, a endometriose não é uma doença fácil de identificar por parte dos profissionais de saúde e isso leva a que seja subdiagnosticada. No entanto, tem havido bastantes ações de formação e já se começa a notar alguma diferença.

HN- Significa que normalização dos sintomas é um fator que explica as baixas taxas de diagnóstico?

FO- Se as mulheres ouvem em casa que a dor na menstruação é “normal” e que “depois passa”, os sinais e sintomas da endometriose são ignorados. Portanto, é importante transmitir a mensagem de que uma dor incapacitante e que interfere na qualidade de vida não pode ser vista como algo normal. Isso significa que se a mulher não se consegue levantar para ir à escola, ao trabalho ou para tratar dos filhos devido às dores é porque há algo que tem de ser investigado.

HN- Quais os principais sintomas associados a esta doença e o seu impacto na qualidade de vida das mulheres?

FO- As mulheres que têm endometriose queixam-se, sobretudo, de dores. Trata-se de uma dor incapacitante e que é habitualmente associada à dor na menstruação. Estas mulheres também podem apresentar dor ao urinar, dor na evacuação ou dor nas relações sexuais quando estas são mais profundas. Algumas doentes apresentam quadros de infertilidade.

HN- Quais as principais especialidades médicas que devem estar envolvidas no processo de diagnóstico e tratamento desta condição?

FO- Todos os médicos devem de estar atentos para a endometriose quando há sintomas, mas é claro que os médicos de família e o ginecologista têm um papel importante por serem os primeiros a ter um contacto com a doente. Estes profissionais devem fazer o primeiro diagnóstico e idealmente de uma forma rápida e atempada.

HN- Ainda não são conhecidas as causas desta doença. Como se explica ser ainda escasso o conhecimento sobre a etiopatologenia da endometriose?

FO- Há muita investigação a ser realizada à volta da endometriose e isso levou a que haja múltiplas teorias para tentar explicar a sua ocorrência, mas como esta doença se manifesta de diversas formas nem todas as teorias encaixam. No entanto, a teoria que até agora é mais “aceite” é aquela que aponta para uma predisposição genética da mulher para vir a desenvolver esta doença. Por outro lado, a nossa má qualidade de vida vai aumentando cada vez mais os níveis de stresse, podendo levar ao desenvolvimento da endometriose.

HN- Considera que os tratamentos atualmente disponíveis respondem às necessidades das mulheres?

FO- Há vários níveis de gravidade da endometriose e há várias ações possíveis. Cada mulher é diferente e isso implica que tomemos atitudes diferentes para tentar controlar a evolução e os sintomas da doença.

HN- E que “atitudes” são essas?

FO- Passam pela melhoria da qualidade de vida em termos de stresse, alimentação e da prática de exercício físico. Passa também por associar uma terapêutica hormonal ou por uma cirurgia para retirar as lesões provocadas pela endometriose.

HN- Em que fase a endometriose pode tornar-se num problema para fertilidade?

FO- Em qualquer fase em que a mulher tente engravidar e não consiga. A endometriose sendo uma doença inflamatória pode alterar várias etapas da obtenção de uma gravidez. Por outro lado, podemos estar perante uma mulher com uma endometriose ligeira e estar associada à infertilidade, mas podermos estar perante uma mulher com uma endometriose profunda grave e ela conseguir engravidar naturalmente… Há fatores que não conseguimos explicar e, portanto, nem sempre sabemos dizer quem é que precisa de ajuda ou não.

HN- Gostaria de deixar algum comentário a propósito do Mês de Sensibilização para a Endometriose?

FO- Apenar gostava de reforçar que se uma mulher tem dor na menstruação e que interfere na sua qualidade de vida, tem que procurar ajuda.

Entrevista de Vaishaly Camões