"Vincent morreu esta manhã às 8H24 no hospital de Reims" (nordeste da França), afirmou o sobrinho François Lambert, que expressou "alívio após anos de sofrimento para toda a gente". "Estávamos preparados para deixar que partisse", completou o sobrinho.

Procurado pela AFP, Jean Paillot, um dos advogados dos pais de Vincent, Viviane e Pierre Lambert, confirmou a informação e disse que chegou o momento do "recolhimento".

Dicionário

Eutanásia: É o ato médico de abreviar a vida de uma pessoa, a pedido da própria, no quadro de uma doença incurável associada a uma situação de sofrimento físico e psicológico.

Suicídio assistido: Neste caso é o doente que põe termo à vida. Há colaboração de um terceiro - que pode ser o médico que receita o fármaco.

Ortotanásia: Suspensão de tratamentos que prolongam a vida de um doente em estado terminal, sem que se traduzam numa melhoria do estado de saúde.

Distanásia: É o oposto da ortotanásia. É o prolongamento da vida de um doente em fase terminal, com recurso a tratamentos desproporcionados. É considerada má prática clínica.

Lambert, um ex-enfermeiro de 42 anos que sofreu um acidente de trânsito em 2008, transformou-se no símbolo do debate sobre a morte digna na França.

Os médicos iniciaram a suspensão do tratamento na semana passada, para cumprir uma decisão do Tribunal de Cassação, a maior instância jurisdicional de França.

Os profissionais interromperam o funcionamento das sondas que o alimentavam e hidratavam e administraram uma sedação profunda e contínua.

Em 2008, Vincent Lambert acabara de completar 32 anos e estava prestes a tornar-se pai quando a sua vida mudou para sempre num acidente de carro perto de sua casa, na cidade de Chalons-en-Champagne, região nordeste da França.

Tetraplégico e em estado vegetativo desde então, o seu destino virou uma batalha legal que provocou uma divisão na família.

Os seus pais, Viviane e Pierre, católicos devotos, lutavam para mantê-lo com vida, com a ajuda de advogados e de várias associações como o "Comité Apoio a Vincent".

"Anunciamos com o coração partido que Deus acolheu o nosso amado Vincent", declarou à AFP David Philippon, meio-irmão do paciente e também contrário à interrupção do tratamento.

A mãe insistiu até ao fim na tentativa de manter Vincent com vida. "Está minimamente consciente, mas não é um vegetal", declarou Viviane na segunda-feira, num último apelo por ajuda apresentado na ONU em Genebra, onde denunciou uma tentativa de "assassinato".

A esposa de Vincent, Rachel, o sobrinho François e os seis irmãos e irmãs do paciente denunciavam, por oposição, uma "crueldade terapêutica".

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Rachel afirmava que lutava para ver Vincent "livre" e pelo "respeito pelas suas convicções". Rachel disse ainda que o marido tinha deixado claro antes do acidente que não desejava ser mantido com vida artificialmente, mas não registou essa intenção por escrito.

Diversas avaliações médicas ordenadas pelos tribunais concluíram que Lambert não tinha nenhuma possibilidade de recuperação e que o estado vegetativo era irreversível.

O Comité de Direitos das Pessoas com Deficiências da ONU solicitou a França que Lambert continuasse vivo enquanto organizava a sua própria investigação sobre o caso, um pedido que o governo considerou que não era vinculante.

Ao contrário de outros países europeus como Holanda, Bélgica ou Suíça, a eutanásia ativa ou o suicídio ativo são proibidos em França. No entanto, a lei Léonetti, aprovada em 2005, prevê a possibilidade de interromper um tratamento em caso de "obstinação irracional".