Salvador, o bebé prematuro que nasceu de uma mãe em morte cerebral, teve alta na terça-feira (07.05), seis semanas depois do seu nascimento.

"Foi realmente um milagre e uma aprendizagem para todos nós profissionais desta casa", disse a médica Hercília Guimarães, diretora de Neonatologia do Hospital de São João esta quarta-feira (08.05).

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O bebé foi enviado para casa com um ventilador artificial para que possa receber oxigénio, uma situação que a médica considera "que não é nada anormal" tendo em conta o nascimento prematuro de Salvador. O bebé tem agora 2.600 kg, indica Hercília Guimarães, e continuará a ser acompanhado em ambulatório naquela unidade hospitalar. "É um bebé prematuro normal", disse a responsável clínica.

"Seguir-se-ão alguns anos de acompanhamento e de testes psicológicos. Cantaremos vitória quando o Salvador for um bom aluno a Matemática. Só descansamos quando entra em idade escolar", referiu a especialista, apontando: "Estes bebés nos nossos serviços são uns principezinhos".

Questionada sobre a situação do pai da criança e sobre o acompanhamento familiar futuro, Hercília Guimarães mostrou-se confiante.

"O salvador tem o pai a 100%. Faltava-lhe a figura feminina, mas tem as suas avós e uma madrinha preparadas para o acompanhar. O bebé tem o pai e uma família e essa família, quando quis, esteve sempre ao lado do bebé", referiu.

Já a psicóloga da equipa de Neonatologia Sara Almeida descreveu que o pai do bebé "acompanhou o processo desde o primeiro momento", frisando que o sente "completamente capaz de exercer todos os cuidados".

"No futuro, o Salvador entrará no protocolo de acompanhamento dos bebés, fazendo-se avaliações do desenvolvimento psicoafetivo e cognitivo em momentos chave para irmos avaliando e antecipando a possibilidade de existirem algum tipo de alterações que exijam cuidados específicos", disse Sara Almeida.

Salvador, também apelidado de "bebé-milagre", nasceu na madrugada de 28 de março com 31 semanas, seis dias e 1,7 quilos, quase quatro meses depois de a mãe ter entrado em morte cerebral em dezembro na sequência de um ataque de asma agudo.

Catarina Sequeira, canoísta com 26 anos e natural de Crestuma, Vila Nova de Gaia, foi mantida viva para que pudesse desenvolver o feto.

O parto estava programado para dia 29 de março, mas complicações com a criança obrigaram a antecipá-lo em um dia.

Avó admite guarda partilhada

A avó da criança afirma querer participar na vida de Salvador. "Se o Bruno (pai da criança) não aceitar, é mais uma dor que eu iria sofrer. O que é que eu vou fazer? Nada. Conhecendo o Bruno como conheço, acho que vamos conseguir um consenso", disse Maria de Fátima Branco, mãe da progenitora citada pelo jornal Observador.

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A avó assegura que mantém uma relação de entreajuda com o pai do neto - um militar de 25 anos - e sobre a possibilidade de avançar para um pedido de guarda partilhada afirma que "ninguém quer tirar o filho ao Bruno".

"Queria era guarda partilhada, como referência da família da parte da mãe, por todo o processo que acompanhámos. Acho que tenho esse direito, tanto moral como legal, de fazer parte da vida dessa criança", acrescenta.

Salvador é o segundo bebé a nascer nas mesmas circunstâncias em Portugal, depois de em 2016, na Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, nascer outro "bebé-milagre", Lourenço Salvador, filho de uma mulher em morte cerebral.

notícia atualizada às 13h12