Depois de no sábado um dos coordenadores do Hospital Pulido Valente ter alertado para a falta de anestesistas em presença física na instituição, um grupo de doze médicos coordenadores e diretores escreveu uma carta ao diretor clínico do Centro Hospitalar Lisboa Norte onde lamentam a ausência de justificação e de comunicação sobre esta medida e pedem “um esclarecimento cabal da situação” para os profissionais e utentes.

Os médicos receiam que a falta de presença física de anestesistas ao fim de semana “não seja compatível com o tempo de resposta e a diferenciação que a gravidade e a complexidade dos doentes exigem”.

No domingo, a administração do Centro Hospitalar, que integra Santa Maria e Pulido Valente, divulgou um comunicado garantindo que, em caso de necessidade, será chamado um profissional de prevenção (a menos de 30 minutos de distância), e indicando que “as necessidades assistenciais ao fim de semana são distintas da realidade dos dias úteis”.

Os médicos recusam o uso de “indicadores pontuais de taxa de ocupação” ao fim de semana como argumento para justificar a medida e recordam que os serviços de cirurgia torácica e a unidade de cuidados intensivos médico-cirúrgicos “estão abertos ao exterior” e recebem doentes urgentes de toda a zona sul do país.

“É redutor presumir que não haja atividade cirúrgica ao fim de semana”, escrevem na carta endereçada ao diretor clínico e a que a agência Lusa teve acesso.

O grupo de 12 médicos com funções de coordenação vem reafirmar a sua apreensão e pedir que se esclareça se a decisão de não ter anestesistas na escala, em presença física, ao fim de semana é “pontual ou para aplicar sistematicamente” a partir de agora.

Criticam ainda a “ausência de justificação e falta de comunicação” desta medida.

“Nenhum serviço ou unidade do Hospital Pulido Valente foi informado da ausência de anestesistas durante o fim de semana. Não foi discutido nem avaliado o impacto desta decisão e não foi emitido nenhum comunicado oficial a esclarecer desta mudança e como proceder em caso de necessidade, nomeadamente na substituição dos anestesistas no contexto da equipa de reanimação interna e articulação com os outros membros da equipa”, escrevem os coordenadores do Hospital Pulido Valente.

A carta é assinada por 10 coordenadores de unidades do Pulido e ainda por dois diretores de serviço, o de Cirurgia Torácica e de Medicina III.

No sábado, médicos do Hospital Pulido Valente foram surpreendidos com a falta de anestesistas na escala do fim de semana, mostrando preocupação com o impacto da decisão nos doentes internados.

O coordenador da unidade de Cuidados Intensivos Médico-Cirúrgicos do Departamento do Tórax escreveu à diretora do Departamento a manifestar preocupação com o impacto na qualidade assistencial e na segurança dos doentes internados.

No e-mail, a que Lusa teve acesso, o médico Filipe Froes expressava ainda indignação pela ausência de anestesistas em presença física sem que tenha havido debate e avaliação do impacto da medida e recorda que o hospital é o maior centro do país de cirurgia torácica, de oncologia pneumológica e de insuficiência respiratória.

O médico recordava que a equipa de anestesia é responsável pela equipa de reanimação no Hospital e assume "funções críticas no âmbito da cirurgia de urgência/emergência", considerando que há funções que não são possíveis de assegurar em regime de prevenção e sem a presença física dos profissionais, sobretudo porque "não foi assegurada uma alternativa que não comprometesse a vida dos doentes".

Filipe Froes indicava também que o Pulido Valente é um Hospital Central e universitário – integrado no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), considerando que é mais “uma perda significativa para CHULN e para o SNS".

Em reposta, no domingo, a administração do CHULN disse entender as preocupações do médico e explicou depois, em comunicado, que estão no Pulido Valente, em permanência, quatro a cinco médicos para assegurar a assistência aos doentes internados nos serviços de Pneumologia, Medicina Interna, Cirurgia Torácica e Unidade de Cuidados Intensivos Médico-Cirúrgicos.

“Estes clínicos, que incluem médicos das especialidades de Pneumologia e Medicina Interna, bem como um especialista na Unidade de Cuidados Intensivos, têm diferenciação e experiência para proporcionar a resposta atempada às situações de urgência/emergência dos doentes internados e, se necessário, serão coadjuvados por anestesiologista chamado para o efeito”, a menos de 30 minutos de distância, alega o Centro Hospitalar.