“O número de mortes pode chegar a 10 milhões no próximo ano, pelo que não vacinar o mundo seria um fracasso, algo contra os nossos interesses e a nossa segurança”, declarou o embaixador da Organização Mundial de Saúde (OMS) para o financiamento sanitário mundial e ex-primeiro-ministro britânico Gordon Brown, em conferência de imprensa.

Brown e o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, apelaram aos países do G20, em antecipação à cimeira que se realiza na próxima semana, para que aumentem as doações de vacinas aos países em desenvolvimento, por forma a atingir a meta de imunizar 40% da população mundial em 2021.

“Se os países mais ricos não conseguem mobilizar doses estão a cometer uma irresponsabilidade vergonhosa, podemos estar a perder a última oportunidade de salvar centenas de milhares de vidas”, alertou Brown.

O ex-primeiro-ministro classificou de “inaceitável e trágica” a divisão entre os países ricos onde poderão acumular-se até fevereiro de 2022 cerca de 600 milhões de doses (e 100 milhões poderão desperdiçar-se por falta de uso), face a nações pobres, com baixas taxas de imunização e maior risco de novas vagas de covid-19.

“Que as vacinas estejam disponíveis numa metade do mundo e faltem na outra é um dos maiores fracassos da política internacional imagináveis. É uma catástrofe de proporções históricas que vai chocar as gerações futuras”, assegurou.

Brown sublinhou que as previsões da OMS não só falam de cinco milhões de mortes adicionais em 2022 sem repartição de vacinas, como também em mais 200 milhões de contágios, numa pandemia que já causou, segundo os dados oficiais, 240 milhões de infetados.

“Se isto acontecer, só vimos metade do dano que pode causar a pandemia”, afirmou o embaixador da OMS, recordando que só 5% dos adultos estão vacinados contra a covid-19 em África.

Brown insistiu em acelerar a repartição equitativa de vacinas: “A alternativa é impensável. Um mundo partido em duas velocidades, onde a doença se alastra em lugares não protegidos e pode mutar em novas variantes capazes de infetar iclusive os completamente vacinados”.

A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e tem atualmente variantes identificadas em vários países.