A importância da relação pessoa-animal é resultado da satisfação de duas importantes necessidades humanas, designadamente cuidar e ser cuidado. Os animais permitem que o ser humano seja invadido por uma sensação de valorização e bem-estar, associada à importância do seu papel para o animal, enquanto ser dependente. Por conseguinte, o animal providencia uma sensação de segurança, proteção e aceitação incondicional, totalmente ausente de críticas ou julgamentos.

Os animais de companhia providenciam todos os fatores identificados como cruciais para o bem-estar, com impacto na saúde física (por exemplo, redução dos fatores de risco para doenças cardiovasculares, maior tendência à implementação de mudanças e de um estilo de vida saudável, como o exercício físico) e na saúde mental (por exemplo, redução da sensação de solidão, ansiedade, depressão; aumento do afeto positivo, dos níveis de relaxamento e satisfação com a vida).

Especificamente, no contexto pandémico atual, a presença de animais de companhia permite:

  1. Manter as rotinas (por exemplo, alimentação, higiene) e a atividade física (por exemplo, os passeios, correr). À luz dos humanos, os animais também apreciam a segurança associada às rotinas, as quais devem ser mantidas, ainda que reinventadas. É fundamental que o animal continue a ter o seu espaço pessoal para brincar e estar sozinho, no sentido de, aquando do regresso em plenitude às rotinas e à normalidade, estes não se sentirem abandonados.
  2. Sentir alguma sensação de liberdade e prazer, sem sentimentos de culpa ou de irresponsabilidade, dado que os passeios são totalmente necessários e imprescindíveis para o bem-estar do animal de companhia.
  3. Colmatar a sensação de solidão, vazio e aborrecimento, com a interação e carinho providenciados pelo companheiro de quatro patas.
  4. Recorrer à sensação de segurança e proteção. Enquanto fonte de suporte emocional, os animais proporcionam conforto e ajudam na regulação das emoções perante circunstâncias stressantes. Sabe-se que, particularmente as crianças, recorrem aos animais aquando de conflitos familiares, pois facilitam o relaxamento e a atenuação da tristeza. Numa fase de potencial fragilidade familiar, os animais podem ser os principais aliados das crianças.
  5. Facilitar a interação entre os membros da família (por exemplo, brincadeiras e momentos lúdicos entre os adultos e crianças) e a interação social, como sucede aquando dos passeios com o animal. Apesar de distantes e a respeitar todas as medidas de segurança, é possível dialogar com outras pessoas que passeiam os respetivos animais, com os vizinhos que podem estar à janela ou na varanda.
  6. Potenciar uma sensação de bem-estar. Os estudos demonstram que o contacto com os animais de companhia aumenta os níveis de oxitocina, considerada a “hormona do amor”.

É fundamental não entrar em pânico com notícias falsas ou distorcidas. Não existem evidencias científicas de transmissão de covid-19 pelos animais de companhia e, por isso, não devem ser abandonados. Deixe-se contagiar pela alegria e sensação de segurança que, para algumas pessoas, apenas um animal pode transmitir.

Naturalmente que existem algumas medidas a seguir, como por exemplo:

- Evitar partilhar comida e beijos.

- Durante os passeios, manter uma distância de segurança face a outros animais e pessoas.

- Higienizar as patas do animal após os passeios.

É igualmente importante assegurar que possui alimentação, produtos de higiene e outros cuidados para o período de quarentena, evitando as saídas de casa, mas sem cometer excessos. Se necessitar de levar o animal ao veterinário, contacte-o primeiro. Como precaução adicional, no caso de adoecer, tenha estabelecido um plano que integre algumas decisões, como quem gostaria que ficasse responsável pelo animal.

Para pessoas consideradas de risco pode ser importante recorrer à ajuda de terceiros para passear o animal, por exemplo plataformas de dog walking ou a amigos e/ou familiares. No caso dos amigos e família, pode ser uma oportunidade para fazer outros pedidos, como bens alimentares e, por sua vez, evitar o contacto com o exterior.

As explicações são de Mauro Paulino e Sofia Gabriel, da MIND – Psicologia Clínica e Forense.