No contexto da pandemia COVID-19 instalou-se um receio geral no acesso aos cuidados de saúde. Tem sido feito um esforço para explicar à população que processos de diagnóstico e tratamento não devem ser interrompidos, principalmente no contexto das doenças oncológicas. As situações de urgência cardiovasculares e neurológicas também não devem ser ignoradas nem deixadas sem tratamento.

Mas e as outras situações? Quando surge um sintoma ou sinal de novo e não sabemos bem o que significa e se deverá ou não ser valorizado e investigado. Neste contexto é importante perceber o que são os sinais de alarme e em que situações é fundamental recorrer ao médico.

A vigilância do cancro da mama é uma destas situações, na qual a deteção e diagnóstico precoces fazem a diferença no tratamento e prognóstico da doença.

Todas as mulheres devem fazer regularmente (pelo menos uma vez por mês) um auto-exame da mama para perceber se têm nódulos ou outras alterações das mamas. Não se espera que saibam perceber se é “bom ou mau”, mas sim que percebam que há uma alteração. Sempre que há alguma alteração e que esta não desaparece passado alguns dias (o que pode estar relacionado com as alterações da mama com o ciclo menstrual) deve ser procurado um médico e realizado um exame de diagnóstico, ecografia mamária e/ou mamografia, dependendo da idade e situação clínica.

E quando está “tudo bem”, sem queixas e sem nódulos, o que devemos fazer?

Todas as mulheres devem fazer uma mamografia anual, de preferência complementada por ecografia mamária, a partir dos 40-45 anos. Este intervalo de idade em vez de uma idade fixa tem a ver com a incerteza que ainda existe na evidência científica sobre qual será a melhor idade para iniciar esta vigilância sistemática. É importante fazer estes exames num centro com experiência em patologia mamária e sempre que possível levar os exames anteriores, porque a comparação e evolução são muito importantes.

As mulheres com risco aumentado de cancro da mama como por exemplo: familiares diretos com cancro da mama, alterações genéticas conhecidas, mamas densas e antecedentes de patologia benigna, devem ser avaliadas entre os 25-30 anos para que o seu risco seja corretamente determinado. Nestes casos é estabelecido um plano de seguimento que habitualmente se inicia mais cedo e envolve a realização de mais exames complementares como a tomossíntese ou a ressonância magnética.

Mesmo na atual situação de pandemia os exames de diagnóstico e de rastreio devem ser mantidos. Várias entidades internacionais na área da oncologia expressaram a sua preocupação pela omissão e adiamento de exames de diagnóstico e emitiram alertas e recomendações para a população não deixar de procurar os cuidados de saúde neste contexto. As unidades de saúde responderam, ajustando os procedimentos para garantir a segurança dos doentes e profissionais de saúde.

Um artigo da médica Sara Carvalhal, especialista em Cirurgia Geral no Hospital CUF Descobertas.

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