A pandemia por COVID-19 expôs fragilidades e reduziu a disponibilidade de acesso aos sistemas de saúde, com assimetrias agravadas em determinadas regiões e grupos populacionais.

Precisamos de analisar o que está a acontecer. Atualmente, existe uma enorme pressão para a identificação da infeção por SARS-CoV-2, de tal modo que certos sintomas são desvalorizados pelos doentes, condicionando atrasos no diagnóstico. Enquanto Médico, considero imperioso manter o padrão de avaliação atenta e pormenorizada, com a capacidade de nos abstrairmos, por um momento, da crise sanitária que vivemos. Quero com isto dizer, que seria um retrocesso para o nosso sistema de saúde o atraso no diagnóstico, estabilização e início do tratamento de outras patologias.

Gostaria de destacar, também, as doenças cérebro-cardiovasculares, nomeadamente o Acidente Vascular Cerebral e o Enfarte Agudo do Miocárdio, que lideram as causas de morte em conjunto com as neoplasias no nosso país. O Acidente Vascular Cerebral, o Enfarte Agudo do Miocárdio e as infeções para além da COVID-19, entre outras, constituem verdadeiras emergências médicas, nas quais o fator tempo é essencial quer no diagnóstico, quer no tratamento. Deste modo, é fulcral garantir um acesso seguro aos sistemas de saúde.

Não pretendo, com estas premissas, desvalorizar a patologia COVID-19 nem as medidas de segurança pessoal e social adotadas para o combate à pandemia. Agora, após todos estes meses de luta contra este coronavírus, é indispensável que estejam criadas condições adequadas à avaliação e tratamento de qualquer doente, independente da sintomatologia.

No Serviço de Atendimento Urgente do Hospital Lusíadas Porto existe uma área dedicada a sintomas compatíveis com COVID-19 e outra para sintomas ditos comuns. O intuito é avaliar todas as pessoas, independentemente dos sintomas, garantindo o acesso a exames complementares de diagnóstico e procedimentos terapêuticos adequados, sempre com a merecida segurança de quem nos procura e dos nossos profissionais.

O uso de equipamento de proteção individual apesar de criar uma barreira física, não pode tornar-se uma barreira no acesso à saúde, nem à relação médico-doente. É necessário manter a ligação, é necessário encontrar a justificação para o teste negativo.

Um artigo do médico Nuno Zarcos Palma, especialista em Medicina Interna e coordenador do Atendimento Urgente do Hospital Lusíadas Porto.