A Reumatologia é, por consequência da sua formação e dedicação específica, a especialidade médica que se dedica ao estudo e tratamento das doenças e alterações funcionais do sistema músculo-esquelético de causa não traumática, tendo um papel fundamental que nenhuma outra pode igualar. A avaliação dos doentes com doenças reumáticas reveste-se de particularidades e especificidades que introduzem um grau de complexidade elevado.

Existem mais de uma centena de doenças reumáticas, cada qual com vários subtipos. No seu conjunto as doenças reumáticas representam o grupo de patologias mais frequentes nos países desenvolvidos e constituem um dos primeiros motivos de consulta médica nos cuidados primários, a principal causa de invalidez, absentismo e mesmo de aposentações antecipadas.

Portugal não é excepção. De acordo com o recente estudo epidemiológico realizado em Portugal, o EpiReumaPt, 26,4% dos portugueses sofrem de lombalgia crónica e a osteoartrose da mão, joelho e anca afectam, respectivamente, 8,7%, 12,4% e 2,9% dos portugueses. Em relação às doenças inflamatórias crónicas estima-se uma prevalência de 1,6% para as espondilartrites e de 0,7% para a artrite reumatóide, o que indica um valor elevado de doentes.

A população afetada abrange desde a idade pediátrica até à idade mais geriátrica, e em particular nesta faixa, associam-se a muitas comorbilidades e afetação psico-motora.

A Medicina Contemporânea tem vindo a estender o foco da sua atenção para além do tratamento, abordando as causas das mesmas como potenciais alvos de intervenção. Nesse sentido, e à semelhança de outros grupos de patologias, importa abordar a questão da prevenção das doenças reumáticas.

No que diz respeito à prevenção primária, ou seja, à tentativa de evitar que uma doença se desenvolva, vários factores têm sido estudados, nomeadamente ligados à dieta, hábitos e estilo de vida. Uma dieta equilibrada, do tipo mediterrânica, com quantidade suficiente de frutos e vegetais (antioxidantes) e sem excesso calórico, nem de gorduras e com uma quantidade moderada de proteínas, pode contribuir para a prevenção primária em várias Doenças Reumáticas. Por outro lado, tendo em conta o atingimento do aparelho músculoesquelético na maior parte das doenças reumáticas, a manutenção de uma actividade física com exercício físico moderado é também um contributo que poderá ajudar na prevenção primária. Ainda no que diz respeito a hábitos, há estudos que apontam para o tabaco como potenciador de doença ou de agravamento de doença estabelecida, sendo esta mais uma razão para promover a evicção tabágica em todas as idades.

Os estudos científicos mostram importantes resultados na prevenção secundária, ou seja, no tratamento da doença, com tentativa de eliminar ou minorar o impacto da mesma no indivíduo. Um tratamento correto e numa fase precoce (habitualmente dentro do que designa “janela de oportunidade”) da doença é crucial, potenciando a probabilidade de um doente reumático ter uma vida praticamente normal, ficando a doença num estado de remissão, ou seja, sem actividade clínica que leve a dano ou incapacidades futuras. Independentemente da gravidade da doença, os resultados obtidos são tanto melhores quanto mais precocemente e criteriosamente os tratamentos sejam iniciados, sendo para isso fundamental a avaliação por uma equipa multidisciplinar liderada pela Reumatologia.

Torna-se assim importante que o acesso a esta especialidade no SNS seja promovida, garantindo melhor eficácia e rentabilização dos recursos disponíveis, estreitando a ligação entre os reumatologistas e a população de que deles precisa. Nesse sentido urge capacitar muitas instituições do nosso país, que ainda não possuem esta valência, dando cumprimento à Rede Nacional De Especialidade Hospitalar e de Referenciação De Reumatologia, actualizada em 2015, mas que tarda em ser implementada.

Um artigo do médico José António Costa, especialista em Reumatologia.