Quando ouvimos as avós a aconselharem os netos a dormir sem roupa interior, será que se trata de um conselho antigo e old fashion ou terá algum fundo de verdade? Devem ser adquiridos hábitos corretos de higiene íntima desde criança, já que estas rotinas tendem a perpetuar-se ao longo da vida.

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E quando falamos em higiene íntima, a que nos referimos? Falamos relativamente à higiene da zona íntima, ou seja, da vulva, vagina e períneo que também inclui a região perianal. A zona íntima apresenta um pH mais ácido do que o da restante pele, no entanto ao longo da vida da mulher - por causa dos níveis hormonais - existem alterações ao nível do pH.

Mantermos um pH estável e adaptado à fase da vida da mulher vai permitir evitar alguns desconfortos genitais e infeções vulvovaginais. As queixas mais habituais são o prurido ou comichão, a sensação de ardor e irritação, muitas vezes acompanhadas por corrimento vaginal, que poderá ter um cheiro desagradável. Como é que os hábitos de higiene íntima poderão minimizar e mesmo evitar o surgimento destas queixas e sintomas?

A higiene íntima diária é muito importante, no entanto deve ser realizada em média duas vezes por dia. Tanto a higienização em excesso, como a insuficiente, são prejudiciais. Para tal, deve ser utilizada água corrente e um produto de higiene íntima em gel, adaptado à fase da vida da mulher.

O gel de banho não apresenta as características adequadas à higiene da zona íntima. A higiene deve ser realizada externamente utilizando a mão, fazendo movimentos da frente para trás. Os duches vaginais, ou seja, a lavagem interna da vagina, não estão recomendados (salvo em casos pontuais e aconselhados pelo médico).

A mulher em idade fértil apresenta um pH vaginal mais ácido do que a mulher em fase pré púbere ou na menopausa, em que o pH da vagina é mais elevado. A escolha de um produto adaptado com ácido láctico vai permitir regular o pH da zona íntima e manter uma flora vaginal saudável e equilibrada, prevenindo os desvios da flora vaginal e as queixas associadas.

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É também importante o uso de roupa interior de algodão, com cores claras ou branca. O algodão é um tecido com maior poder de absorção e menos alergénico. É normal a mulher ter corrimento, sendo a quantidade muito variável de mulher para mulher. Desde que o corrimento não apresente um cheiro intenso e desagradável, e não cause sintomas como os descritos anteriormente, o corrimento é considerado fisiológico, ou seja, normal.

Está recomendado dormir sem roupa interior e utilizar no dia-a-dia roupa larga, para que a zona íntima possa estar mais “arejada”. A utilização de pensinhos diários por rotina deve ser evitada, podendo ficar reservados, por exemplo, para os últimos dias da menstruação. E já que falamos "nestes dias especiais", neste período, a higiene íntima também deve ser reforçada. A substituição do penso/tampão ou copo menstrual deve ser realizada de forma regular e frequente.

Numa perspetiva de vida saudável, é na prevenção que se deve apostar. Se antigamente estes assuntos da zona íntima eram tabu, hoje em dia faz todo o sentido esclarecer e informar sobre os corretos cuidados que irão permitir prevenir desconfortos e sintomas desagradáveis com impacto no dia-a-dia e qualidade de vida da mulher.

Um artigo da médica Patrícia Isidro Amaral, especialista em Ginecologia-Obstetrícia.