Já ouviu falar da neuralgia do trigémeo?

O nome é estranho mas é facilmente compreensível: a neuralgia do trigémeo é descrita pela International Classification of Diseases, 11th revision, como uma “desordem de dor crónica neuropática orofacia” caracterizada pela sensação de repentinos choques elétricos ou dor forte na região da face.

O nervo trigémeo é o “V par craniano”, inerva a face e é assim chamado  por se dividir em três ramos, oftálmico, maxilar e mandibular, controlando principalmente a musculatura da mastigação e a sensibilidade da face.

O diagnóstico da neuralgia é clínico, por vezes complexo e baseado em três critérios principais relacionados com diferentes tipo de dor: restrita a uma ou mais divisões do nervo trigémeo, dor repentina intensa de curta duração - menos de um segundo até cerca de 2 minutos - e descrita muitas vezes como “choque elétrico” ou “sensação elétrica”, ou dor provocada por estímulos na região da face ou “intraorais”.

No consultório médico-dentário, deve ser avaliada a cavidade oral  para realizar o diagnóstico diferencial, uma vez que a fratura ou cárie dentária podem apresentar alguns destes sintomas.

Quando necessário, podem ser requisitados exames complementares de diagnóstico, como a ressonância magnética, para concluir o diagnóstico.

Os gatilhos mais comuns para despoletar a neuralgia são estímulos que envolvem atividades normais diárias, como o toque suave na face, falar, mastigar, escovar os dentes ou mesmo apenas uma brisa de vento em contacto com a face.

A dor da neuralgia do trigémeo afeta com mais frequência a segunda (maxilar) e terceira (mandibular) divisão do nervo, sendo que o lado direito da face é frequentemente mais afetado que o lado esquerdo. Esta neuralgia é mais comum em mulheres e aumenta com a idade.

Existem três tipos definidos desta neuralgia: a clássica, a secundária e a idiopática. A tipo clássica, mais comum, é causado por compressão vascular intracraniana da origem do nervo. A secundária é atribuída a uma doença neurológica identificável como por exemplo a esclerose múltipla ou o tumor do ângulo cerebelopontino, que altera a entrada da origem do nervo trigémeo ou comprime o nervo no seu percurso.Finalmente, a idiopática, que não apresenta causa aparente para este distúrbio nervoso. 

Na maioria dos casos, a utilização de fármacos é o tratamento de eleição para a primeira abordagem, através da toma de medicação anticonvulsionante e/ ou antidepressiva, independentemente da causa.

A neuro-estimulação, a radiocirurgia Gamma Knife, a aplicação de toxina botulínica e a neurocirurgia são opções a considerar caso a terapêutica farmacológica seja contraindicada ou ineficaz. Felizmente podemos oferecer a quem nos procura todos estes tipos de tratamento. 

Um artigo do médico Francisco Santos, especialista em Medicina Dentária na Clínica CUF Medicina Dentária Braamcamp e nos Hospitais CUF Cascais e CUF Torres Vedras.