O Mieloma Múltiplo é a segunda neoplasia hematológica mais frequente e, em Portugal, conta com cerca de 600 novos casos por ano.

Ao contrário do que acontece com algumas neoplasias, no caso do Mieloma Múltiplo  ainda não foi possível estabelecer uma contribuição directa de nenhum factor de risco, no entanto, a exposição a radiação e substâncias tóxicas, como benzeno, pesticidas e herbicidas, tem vindo a ser implicada, e alguns estudos mostram que a obesidade pode favorecer o desenvolvimento desta doença. Apesar de não se tratar de uma doença hereditária, estão descritos casos familiares em que o risco de desenvolver doença, dos parentes directos, é quatro vezes superior.

O Mieloma Múltiplo caracteriza-se pelo aumento descontrolado de plasmócitos, um dos vários tipos de glóbulos brancos responsáveis pela produção de anticorpos e com funções importantes na imunidade. Os plasmócitos anómalos ocupam a medula óssea e levam à produção, em excesso, de imunoglobulinas disfuncionais, sendo estes os dois mecanismos responsáveis pelas principais manifestações da doença.

Trata-se de uma doença que surge habitualmente em doentes mais velhos, com mais de 60 anos, e é mais frequente nos indivíduos do sexo masculino e nos de raça negra.

Os sintomas são inespecíficos e são muitas vezes relacionados com outras doenças muito mais comuns. Os sintomas mais frequentes são o cansaço de agravamento progressivo até aos mínimos esforços – explicado habitualmente pelo aparecimento de anemia grave, dores e fraturas ósseas espontâneas (sem traumatismo). Os sintomas menos comuns, mas que também devem levantar a suspeita de Mieloma Múltiplo, são infecções de repetição (sobretudo respiratórias), com necessidade de antibiótico, e alteração da função renal nas análises.

O diagnóstico de Mieloma Múltiplo necessita da conjugação dos resultados de vários exames. Inicialmente são feitas análises de sangue e de urina para verificar se existe anemia, cálcio aumentado, alteração da função renal, ou produção anormal de proteínas. Atendendo às dores ósseas, são realizados exames de imagem, como a radiografia do esqueleto, para verificar a presença das lesões ósseas típicas.

Mediante estes resultados, se houver uma forte suspeita de Mieloma Múltiplo, o doente deverá ser referenciado a um Hematologista para orientação diagnóstica e terapêutica. Para completar o estudo, é muitas vezes necessária uma biópsia à medula óssea.

O Mieloma Múltiplo é considerado uma neoplasia incurável, mas as várias modalidades terapêuticas disponíveis permitem obter sobrevivências longas: acima dos 15 anos após o diagnóstico. No entanto, como em todas as situações médicas, o mais importante é que cada doente seja avaliado individualmente para se poder traçar um plano terapêutico adequado, que consiga controlar a doença e prolongar a sobrevida do doente, sem toxicidade acrescida e mantendo a sua qualidade de vida.

Um artigo da médica Mafalda Pimenta de Castro, Assistente Hospitalar de Hematologia Clínica na Unidade Local de Saúde de Matosinhos.