A Disfonia Espasmódica é um distúrbio da voz relativamente raro, mas com um grande impacto na qualidade de vida pessoal e profissional. Os músculos da laringe (órgão onde estão alojadas as cordas vocais) sofrem espasmos quando o doente tenta falar, alterando a qualidade da voz e dificultando a percepção da fala. Este problema pode afectar qualquer pessoa em qualquer idade, sendo mais frequente em mulheres entre os 30 e os 50 anos.

Qual é a causa da Disfonia Espasmódica?

Não há causa conhecida para a disfonia espasmódica. Evidências sugerem que esta condição inicia-se em regiões do cérebro que regulam o movimento muscular involuntário. 

São produzidos sinais anormais desde o cérebro até à laringe, causando espasmos em vários músculos. Fatores genéticos e níveis aumentados de stress podem colocar algumas pessoas em maior risco de desenvolver disfonia espasmódica. 

Quais são os sintomas?

A maior parte destes doentes (90%) pode exerimentar:

  • Voz tensa, “apertada”, “estrangulada” ou “sufocada”
  • Voz rouca e áspera  

Nestes casos, os espasmos fazem com que os músculos das cordas vocais encerrem com muita força (espasmos adutores), produzindo uma voz que, por vezes, pode soar como se a pessoa estivesse prestes a chorar. 

Em cerca de 10% dos pacientes os espasmos fazem com que os músculos das cordas vocais se abram (espasmos abdutores). A voz soa intermitentemente:

  • Ofegante
  • Quebrada 
  • Sussurrada

Finalmente, uma pequena percentagem dos doentes apresenta ambos os tipos de espasmos.

Em determinados casos, este problema pode tornar o discurso difícil ou impossível de compreender, no entanto tende a desaparecer quando a pessoa ri, sussurra, fala em voz aguda ou canta. Algumas pessoas têm problemas de tónus ​​muscular ou tremor em outras partes do corpo.

Como é diagnosticada?

A disfonia espasmódica é difícil de diagnosticar porque a laringe apresenta-se normal e os sintomas podem ser semelhantes a outras doenças. 

O diagnóstico deve ser realizado por um Otorrinolaringologista especializado na avaliação dos distúrbios da voz. 

Deve ser realizada uma estroboscopia para descartar outras patologias do aparelho vocal. Durante este exame, um tubo flexível equipado com uma luz estroboscópica e uma câmera é passado pelo nariz e posicionado acima das cordas vocais. Alternativamente, um endoscópio rígido pode ser introduzido pela boca. Um microfone é colocado perto do pescoço para detectar simultaneamente a frequência da voz. A luz pulsa conforme a frequência emitida pelas cordas vocais, permitindo uma avaliação pormenorizada do seu movimento.

É fundamental uma avaliação multidisciplinar com Neurologia e a Terapia da Fala e, em casos particulares, pode ser necessário recorrer a outros métodos de diagnóstico, como a electromiografia laríngea ou exames de imagem.

Qual é o tratamento?

Embora não haja cura para esta condição, pode-se oferecer alívio dos sintomas através de Terapia da Fala e aconselhamento psicológico. 

As injeções de toxina botulínica (Botox®) nas cordas vocais também são eficazes, uma vez que permitem relaxar certos músculos e diminuir a frequência dos espasmos. Cada tratamento dura alguns meses.

Um artigo do médico António Nicolau Fernandes, Otorrinolaringologista no Hospital Lusíadas Lisboa.