Apesar de não ser um dos temas cardiovasculares mais falados, representa um problema de saúde global, afetando todos os grupos etários. As estimativas sugerem uma prevalência de 1% na população geral, sendo muito superior nos indivíduos com idade superior a 65 anos (cerca de 10%).

Existem muitas causas que podem contribuir ou causar hipertensão pulmonar - entre as quais: hereditária; induzida por drogas ou toxinas; associada à Infeção VIH, à cardiopatia congénita, à doença pulmonar e/ou hipoxia e ao tromboembolismo crónico.

É indispensável ter presente que existem diferentes tipos de hipertensão pulmonar, porque o tratamento para cada um é distinto.

Independentemente da causa, a presença de hipertensão pulmonar persistente determina mau prognóstico e provoca incapacidade e limitação importante na qualidade de vida.

É possível alterar favoravelmente o prognóstico dos doentes

Vale a pena recordar o caso de um adulto, de 41 anos, que se apresentou há cerca de um ano e meio na consulta de cardiologia da CUF com desmaios de repetição, quase sempre associados ao esforço.

Já há muito tempo que se cansava. Faltava-lhe o fôlego, inicialmente para esforços mais intensos, mas à medida que o tempo passava, para esforços progressivamente menores até ficar praticamente incapacitado. Era incapaz de subir um lanço de escadas e praticamente não saía de casa porque ficava ofegante, mesmo ao caminhar em ruas planas. Ao longo do tempo, adaptou o seu estilo de vida e desvalorizou as queixas. Mas nos últimos 6 meses já tinha sido internado múltiplas vezes em hospitais portugueses e estrangeiros. Era compensado com alguns medicamentos e oxigénio e tinha alta.

Quando o observei apresentava sinais de insuficiência cardíaca, como inchaço das pernas e da barriga e o tom da pele e das mucosas era azulado - o que reflete um baixo teor de oxigénio no sangue (cianose). Ainda nessa consulta, foram realizados exames complementares, facilmente acessíveis como: eletrocardiograma, radiografia de tórax, analises clínicas e ecocardiograma.

O ecocardiograma, quando realizado por um cardiologista experiente, permite despistar a maioria das situações clínicas cardíacas que causam este tipo de sintomatologia. Neste caso, a presença de todos estes sintomas e sinais, bem como o resultado dos exames, determinava uma probabilidade alta para o diagnóstico de hipertensão pulmonar, com critérios de gravidade.

Rapidamente foi orientado no sentido de fazer exames adicionais. Começou pelo cateterismo cardíaco direito que é um exame invasivo de baixo risco e indispensável para a confirmação do diagnóstico de hipertensão pulmonar. A etapa seguinte é estudar a causa. Para isso, habitualmente, são realizados outros exames como provas de função respiratória, cintigrafia pulmonar de ventilação-perfusão e angio-TAC pulmonar.

Neste doente, foi confirmada hipertensão pulmonar tromboembolica crónica. Dada a gravidade, foi iniciado tratamento farmacológico agressivo com medicamentos específicos (vasodilatadores pulmonares) e submetido a 6 sessões de tratamento por cateterismo, denominado angioplastia pulmonar de balão, que consiste na dilatação de um balão nas artérias pulmonares com a finalidade de desobstruí-las.

Não ficou curado, pois ainda depende de fármacos, mas, atualmente, não necessita de oxigénio, não teve outros internamentos e já faz uma vida normal, sem limitações.

Sem tratamento, probabilidade de sobrevivência diminui

As estatísticas dizem-nos que, sem tratamento, a probabilidade deste doente não estar vivo dentro de um ano é superior a 15%. Tenho poucas dúvidas que, da forma como se apresentou, seria muito próximo de 100%.

A hipertensão pulmonar é uma doença progressiva e de mau prognóstico que quando não tratada origina insuficiência cardíaca e morte.

Sem tratamento, mais de metade dos doentes morrem nos primeiros 3 anos desde o diagnóstico.

Felizmente, nas últimas duas décadas surgiram medicamentos vasodilatadores pulmonares que alteraram drasticamente o prognóstico dos doentes. Além da terapêutica farmacológica, para a hipertensão pulmonar tromboembólica crónica, como o caso apresentado, existem intervenções (cirúrgicas ou por cateterismo) com potencial curativo.

Infelizmente, são muitos os doentes que vêm ao médico já tarde, com risco elevado. Mesmo em centros experientes, o tempo desde o início dos sintomas até ao diagnóstico é superior a 14 meses. Divulgar a doença junto dos profissionais de saúde e da população em geral, tem sido uma prioridade dos especialistas em hipertensão pulmonar com o principal objetivo de diagnosticar mais precocemente, identificar a causa e tratar atempadamente. Essa será, sem dúvida, a chave para garantir o sucesso do tratamento a longo prazo.

Um artigo da médica Filipa Ferreira, Cardiologista no Hospital CUF Tejo.