Esta patologia geralmente apresenta um impacto negativo na qualidade de vida da pessoa e afeta a esfera familiar, social e profissional dos doentes. Mas as repercussões a nível emocional e os custos económicos associados fazem com que esta patologia seja um tabu e muitas vezes vivida em segredo. A maioria dos doentes não procura avaliação médica por medo do estigma social e, uma grande franja da população, considera que a incontinência urinária como algo normal do avançar da idade ou como consequência de processos fisiológicos.

Existem várias causas que podem levar à IU e, na grande maioria dos casos, são mais do que uma causa, mas falando nas mais frequentes:

  • idade (é mais frequente em idades mais elevadas);
  • sexo (mais comum nas mulheres devido às circunstâncias da gravidez, partos e menopausa);
  • tabagismo;
  • obesidade;
  • obstipação;
  • stress;
  • cirurgias pélvicas;
  • medicação associada (diuréticos, relaxantes musculares, etc).

As causas podem ser transitórias ou permanentes. As causas transitórias estão associadas a infeções urinárias, ingestão de álcool, cafeína, bebidas gaseificadas ou alimentos irritantes para a bexiga, ingestão excessiva de líquidos ou toma temporária de alguns medicamentos. Já as permanentes podem passar por doenças neurológicas (Doença de Parkinson, AVC, esclerose múltipla), cirurgias pélvicas, obstruções urinárias, menopausa ou diminuição da força dos músculos do pavimento pélvico. A gravidez, os partos vaginais e a menopausa, bem como as cirurgias pélvicas, são os principais fatores de risco para o enfraquecimento dos músculos do períneo.

Sendo assim, perceber de que tipo de incontinência estaremos a falar é também importante para a definição da abordagem terapêutica. Assim se explica a identificação de diferentes tipos de incontinência urinária:

Incontinência urinaria de esforço (IUE):

É a forma mais comum de incontinência. Ocorre na sequência de uma atividade ou de um esforço físico, como por exemplo saltar, espirrar, tossir, rir ou levantar objetos pesados. Nos casos mais graves, a perda pode acontecer em atividades leves como, por exemplo, andar, sair da cama ou mesmo sentar-se numa cadeira.

Quando falamos em IUE, a fraqueza dos músculos do pavimento pélvico, músculos esses que suportam a bexiga e a uretra – canal que conduz a urina da bexiga ao exterior – são os grandes causadores. Por isso, movimentos repentinos ou que aumentem a pressão na zona abdominal e nos músculos pélvicos (movimento semelhante a um pistão) não conseguem suportar a carga excessiva, que leva a perdas de urina (que podem ser gotas ou jatos).

Incontinência urinária de urgência (IUU):

Neste caso, as perdas de urina estão associadas a episódios de urgência, ou seja, a uma vontade repentina e intensa de urinar, por exemplo, quando chegamos a casa ou ouvimos água a escorrer. Nestas situações, o músculo da bexiga contrai-se demasiado cedo e não se consegue controlar a saída de urina pela uretra. Outras queixas associadas à IUU são:

  • dor na região pélvica ou ardor quando urinam;
  • necessidade de urinar mais de oito vezes por dia;
  • acordar de noite para urinar.

Incontinência urinária mista (IUM):

Este tipo de incontinência urinária combina sintomas da incontinência urinária de esforço e da incontinência urinária de urgência. Neste tipo de incontinência o doente pode sentir necessidade urgente de urinar, como a seguir perder urina enquanto pratica desporto.

Incontinência por extravasamento:

Deriva da incapacidade de a bexiga suportar grandes volumes de urina e porque a sua pressão excede a capacidade de resistência da uretra.

Incontinência funcional:

É uma realidade em portadores de patologias como demência, Alzheimer ou Parkinson e que incapacitam os doentes de chegar atempadamente à casa de banho.

Enurese noturna:

Muito frequente em crianças mas também em adultos, caracterizando-se pela perda de urina durante o sono.

Estes são problemas que afetam mais ou menos a qualidade de vida dos afetados. Torna-se então importante o seu diagnóstico precoce e a adoção do tratamento adequado, apostando sempre que possível na prevenção. Pensar nos cuidados pélvicos como pensamos nos nossos cuidados de saúde no dia a dia deveria ser a norma.

As explicações são da fisioterapeuta Soraia Coelho, especializada em Reabilitação do Pavimento Pélvico.