A pessoa que sofre necessita do que vem do seu coração

Se conhece alguém que está a sofrer com a perda de um ente querido, estará a pensar o que irá oferecer-lhe nesta época natalícia. Apesar da variedade de oferta em loja e compras online, não consegue encontrar nada que lhe pareça adequado. Lembra-se de uma peça de roupa, um perfume, um adorno para a casa, uma caixa de ferramentas, etc. Mas será isso adequado?

Se não consegue encontrar o presente certo, é porque está a procurar nos sítios errados. Saia das lojas e desligue o computador, porque o que a pessoa necessita vem do seu coração.

É importante que perceba em que fase se encontra essa pessoa

O Natal é sem dúvida, de todas as festas do ano, a que cria maiores alterações emocionais em todos nós. Naturalmente, a pessoa que está de luto, já fragilizada pela dor da perda, sofre nesta época ainda mais. O que deveria ser um período de alegria e estar na companhia dos entes queridos, contrasta com o sentimento de tristeza, dor e vazio deixado pela pessoa que partiu.

Deve compreender que viver o luto significa reaprender a viver, apesar da perda sofrida. Para a superar, a pessoa tem que fazer o luto passando por um processo, que pode ser consciente ou não. Este processo é inevitavelmente doloroso, traz dor e tristeza, sentimentos que podem ser muitos intensos, sobretudo quando se perde alguém próximo.

Conforme a faixa etária, o tipo de vínculo estabelecido, a personalidade e a estrutura emocional, cada pessoa reage de forma diferente à perda. No entanto, a vivência do luto geralmente deve seguir um padrão. Segundo a psiquiatra suíça Elisabeth Kübler-Ross, no processo de luto existem cinco estágios ou fases que a maior parte das pessoas vivencia:a negação, a raiva, a negociação, a depressão e a aceitação. Nem todas as pessoas têm de passar por estas fases, sendo que aqueles que o fazem nem sempre as vivenciam nesta ordem. Cada pessoa faz o seu próprio percurso no processo de luto, podendo ou não manifestar as caraterísticas mais frequentes de cada fase apresentada.

Se quer ajudar a pessoa que sofre, é importante que consiga perceber em qual das fases ela se encontra.

Negação. Aparece geralmente logo após a notícia da perda. Caracteriza-se por a pessoa tentar negar a realidade (“Eu não consigo acreditar!”), acompanhada por uma dor muito intensa. Pode ser vivida como uma sensação de aparente calma, como se não tivesse acontecido. Nesta fase é comum a pessoa isolar-se e evitar falar sobre o assunto.

Raiva. Surge devido à impossibilidade de manter a negação. A realidade começa a tornar-se evidente, deixa-se de negar a perda, mas não se aceita e surge a revolta. A raiva pode ser dirigida à pessoa que perdemos (porque nos abandonou), a outras pessoas (aos médicos, aos enfermeiros, etc.), à sociedade, à vida, a Deus, etc. A pessoa pode até sentir raiva de si própria.

Negociação. Consiste num processo mental, pelo qual algumas pessoas passam, em que fantasiam que podem reverter a perda. Nesta fase é comum haver um forte apelo religioso e pensar que, pedindo com fé, a perda será desfeita.

Depressão. Tende a acontecer quando tomamos consciência que a perda é inevitável. A forma de reagir a esta perceção depende muito de cada pessoa, mas é comum surgirem sentimentos profundos de tristeza, angústia, medo, vazio e impotência.

Aceitação. Quando aceitamos a perda, aprendemos a conviver com a dor da ausência de quem perdemos. Esta é a fase final do luto, quando assimilamos o que aconteceu e compreendemos que a nossa vida continua.

Os presentes que pode oferecer

Apresento-lhe algumas ideias do que pode oferecer à pessoa que está de luto, mas recordo-lhe que não é uma fórmula que sirva para todos. Por isso, é necessário que reserve algum tempo para ouvir e descobrir o que será mais adequado para o seu amigo ou familiar que está em sofrimento.

O presente de ouvir. Este presente funciona com todas as pessoas. A chave para o oferecer é saber o que não deve fazer. Não é para tirar a dor. Não é para falar muito. Não é para julgar ou dar conselhos. Oiça. Não tenha medo das lágrimas ou do silêncio. O mundo tem falta de ouvintes e este presente nunca perde o seu valor.

O presente da sua companhia. A sua presença e companhia pode ser tudo o que o outro necessita. Passe algum tempo com a pessoa que está a sofrer. Pergunte-lhe se quer fazer alguma coisa. Garanta-lhe que não há problema se tiver vontade de chorar. Seja paciente. O objetivo deste presente não é força-la a fazer algo, mas simplesmente estar presente.

O presente do espaço. Talvez o seu amigo ou familiar prefira ficar sozinho. Dê-lhe o espaço necessário para que sofra à sua maneira e possa readaptar-se às rotinas do dia a dia, mas recorde-lhe que se encontra disponível quando ele necessitar de companhia.

O presente do serviço. Ajude a pessoa a redescobrir o presente do serviço. Convide-a a ir consigo numa missão de ajuda a outras pessoas, por exemplo, num lar ou hospital. Reúna peças de roupa, alimentos ou brinquedos. Ajude a pessoa que está de luto a descobrir o presente de ser útil aos outros.

O presente da alegria do Natal. Estará a perguntar a si mesmo "onde está a alegria de quem está a sofrer e inundado pela dor?" A resposta é que a alegria do Natal está no meio dessa dor e sofrimento. Os cristãos celebram o nascimento de Jesus e acreditam que Deus quis enviar o Seu Filho para curar aqueles que estão a sofrer. A alegria do desta quadra reside precisamente no amor pelos outros, na esperança de um mundo melhor e paz para todos. Mesmo que seja em momentos de tristeza.

Avalie quais destes presentes são mais adequados para a pessoa que os vai receber. Poderão ser rejeitados, mas seja paciente. Lembre-se que as pessoas sofrem de acordo com o seu próprio ritmo e seguindo um processo de luto.

Espero que estas ideias o possam inspirar a encontrar outras formas de ajudar quem sofre neste Natal. Deve ter reparado que não necessita de gastar dinheiro, pois os presentes a dar a quem está de luto não têm preço. Eles vêm do seu coração!

Silvia Felizardo / Psicóloga Clínica

Elisabete Condesso / Psicóloga Clínica