Cada vez mais a idade adulta é associada a diversas responsabilidades profissionais, familiares e de autonomia, onde o espaço de lazer é esquecido ou associado a atividades à frente de ecrãs (TV’s, telemóveis e computadores). É frequente em psicoterapia encontrar adultos que, pelas mais diversas razões, perderam a relação e conexão com o prazer, o lazer e a alegria e isso tem um impacto enorme na forma como vivem os seus dias e as suas emoções.

É importante transmitir que todas as emoções devem ser sentidas, vividas, acolhidas e integradas, sejam elas agradáveis ou desagradáveis mas para muitas pessoas algures entre a infância e a idade adulta, a capacidade de brincar parece ter-se desvanecido e com ela a conexão com algumas emoções importantes como a alegria, surpresa ou deslumbramento.

O acto de brincar nos adultos, assim como nas crianças, estimula capacidades de simbolização, imaginação, fantasia, resolução de problemas, regulação emocional e criatividade, sendo também uma fonte importante de relaxamento e estimulação sensorial só para citar alguns dos benefícios. Brincar ajuda-nos a ser sociais, de uma forma desconstruída, genuína e criativa, permitindo-nos entrar em contacto com várias memórias, sensações, crenças e emoções.

Atividades tão simples como contar piadas, jogos ao ar livre, dançar em casa com a família, brincar com os animais, jogar com amigos depois do jantar, pintar livremente ou andar de bicicleta podem e devem ser promovidas várias vezes na semana, como forma de equilibrar com outras obrigações mais “sérias” do dia a dia.

Brincar traz benefícios, tais como:

Alivia o stress: o acto de brincar ativa a libertação de endorfinas, que promovem normalmente uma sensação generalizada de bem-estar e até podem ajudar a aliviar temporariamente processos de dor física. O acto de brincar muitas vezes está também associado ao relaxamento e a um menor estado de preocupação.

Melhora a função cerebral: jogar xadrez, fazer puzzles ou envolver-se em atividades divertidas que desafiem o cérebro pode ajudar a prevenir problemas de memória e a melhorar o funcionamento do cérebro de uma maneira geral. A interacção social de brincar com a família e os amigos também promove muito frequentemente emoções agradáveis que contribuem para o bem-estar geral.

Estimula a mente e aumenta a criatividade: As crianças normalmente aprendem melhor quando estão a brincar e os adultos também! Aprendemos de forma mais rápida quando há diversão e relaxamento envolvidos e estas atividades aumentam também as conexões com novas ideias e formas de pensar, o que promove a criatividade e capacidades de resolução de problemas, tão importantes para o quotidiano pessoal e profissional.

Ensaia/Melhora formas de relacionamento e conexão aos outros: A partilha de experiências agradáveis e prazerosas ajuda a desenvolver competências como a empatia, compaixão, confiança e intimidade com os outros, estreitando-se laços e favorecendo uma comunicação mais genuína e profunda, até com pessoas que não conhece. Não quer isto dizer que tenha de comunicar necessariamente durante a brincadeira mas que isso pode acontecer de forma mais natural e relaxada durante esses períodos. A brincadeira também ensina sobre cooperação, negociação, linguagem não verbal, limites, trabalho de equipa e estabelecimento de regras comuns de funcionamento. Todas estas competências tornam-se fundamentais na resolução de conflitos e por isso na promoção de relações mais satisfatórias e saudáveis.

Há uma frase de George Bernard Shaw da qual gosto muito e que diz o seguinte: “Nós não deixamos de brincar porque envelhecemos, nós envelhecemos porque deixamos de brincar”.

Brincar com outras pessoas (a forma de brincar que mais benefícios traz) pode ajudar-nos a descobrir aspetos de nós que desconhecíamos, assim como a descobrir e transformar aspetos das nossas relações com os outros e com o mundo. Esta atividade ajuda-nos também a contactar com experiências lúdicas precoces (da infância) que podem ser bons indicadores de transformações pessoais e relacionais que precisam ser feitas e que podem depois ser trabalhadas em psicoterapia, por exemplo.

Ana Sousa - Psicóloga Clínica e Arte-Psicoterapeuta