Esta frase é fundamental porque ninguém deveria permitir ao outro que o/a rejeite e o trabalho emocional passa por colocar limites àquilo que permite que lhe façam.

A dificuldade é que o medo da rejeição tem origem frequente em alturas precoces da vida, onde num momento de fragilidade emocional (muitas vezes, infância ou adolescência) foi passada a mensagem (mais ou menos explícita) de que não se é suficientemente importante, desejado/a, bonito/a, competente, entre outras. Experiências de parentalidade com abuso (físico, verbal ou emocional), negligência ou abandono causam muito sofrimento às crianças e fazem com que normalmente se comece a formar um auto-conceito fragilizado e o medo de ser rejeitado começa a tomar forma.

Uma rejeição efectiva por parte dos pais ou a interpretação dos filhos de que os pais o/a estão a rejeitar (por exemplo, quando prestam mais cuidados a um irmão mais novo), podem começar a formar esta ferida. O desejo de receber amor e validação é tão grande quanto o sofrimento que surge quando esse amor não lhe é direccionado. E face a isto, a primeira reacção à rejeição é a fuga: física ou emocional (através da alienação emocional ou da tentativa desesperada de agradar para que a rejeição nunca mais aconteça).

A rejeição deixa as pessoas mais susceptíveis e vulneráveis e influencia directamente a forma como (não) se valorizam e (não) gostam de si mesmas.

É, muitas vezes, descrita a dificuldade em cometer erros pois, quando eles acontecem, confirmam “o falhanço que se é como pessoa” ou “o quanto não se merece ser feliz”. Todas as situações passam a ser interpretadas através da lente da rejeição e da auto-desvalorização. Algumas das formas desajustadas de lidar com este medo e sofrimento são os consumos (álcool ou estupefacientes), o isolamento, o refúgio no trabalho ou as relações dependentes.

Algumas pessoas colocam tantas expectativas nos seus parceiros românticos que as relações acabam por terminar, reforçando as suas crenças de rejeição e injustiça.

Lentamente, isto pode fazer com que se deixe de arriscar e fazer coisas de que se gosta pelo simples facto de poder sair magoado/a ou de que outros critiquem ou não gostem do que se está a fazer.

 Face a tudo isto, o que fazer?

Antes de mais, quero dizer-lhe que se não conseguir lidar com isto sozinho/a, deve procurar ajuda de um/a psicoterapeuta que lhe dará o apoio emocional para curar a sua ferida emocional e irá guiá-lo/a em todo o processo. Será importante numa primeira fase aceitar a existência desta ferida. Poderá também ser necessário zangar-se internamente (ou externamente) com todas as pessoas que o/a invalidaram na sua vida, que assuma a sua responsabilidade na imagem que tem de si mesmo. Os outros não sabem mais sobre nós do que nós próprios e por isso a sua opinião não deveria ter tanto peso quando nos relacionamos connosco mesmos.

É importante, também, perceber o quanto as suas acções são condicionadas por esse medo e se a rejeição é o mundo que conhece. Isto é, pode ser “mais fácil” (no sentido da zona de conforto, muitas vezes inconsciente) colocar-se em situações onde muito provavelmente será rejeitado/a. Seja bondoso/a consigo, desculpe-se quando erra, desconecte-se da pressão dos olhares dos outros, assuma a sua humanidade não perfeita.

Outra mudança fundamental é a de começar a cuidar de si mesmo, fazendo actividades que gosta (e não o que os outros lhe dizem para fazer) só pelo simples facto de se estar a divertir e porque merece, passando tempo de qualidade consigo para que consiga passar tempo de qualidade com os outros.

 E lembre-se, o que os outros pensam sobre si ou lhe dizem,  não o/a define!

Ana Sousa – Psicóloga Clínica

Psinove – Inovamos a Psicologia