Em Portugal somos confrontados com imagens de neve no Alentejo e desde Madrid, Espanha, chegam as notícias de temperaturas de 16 graus negativos, algo que não se verificava desde 2000. Ao mesmo tempo, na Grécia está calor e as praias são invadidas por pessoas que ignoraram a obrigação de confinamento daquele país.

Mas afinal, o que se está a passar na Europa?

“Estes eventos extremos, de alguns dias ou de poucas semanas de invernos exageradamente quentes ou exageradamente frios, estão a acontecer com maior frequência nos últimos tempos devido ao aquecimento global”, explica Alfredo Rocha, professor de Meteorologia e Clima do Departamento de Física da Universidade de Aveiro, em entrevista ao Expresso, sublinhando que este fenómeno ainda está em “discussão científica”.

“Tudo parece indicar que isto é um paradoxo aparente, um resultado do aquecimento global. Ou seja, a teoria que tem mais força no momento é a seguinte: o Ártico está a aquecer muitíssimo mais do que as latitudes mais baixas aqui na Europa e nos trópicos. Os ventos de Oeste para Este, que são ventos predominantes nas latitudes médias, onde nos encontramos até ao Norte da Europa, enfraquecem como resultado desse aumento de temperatura maior no Ártico do que mais a Sul. Há sempre algumas regiões com invernos exagerados e haverá outras, se calhar até na Sibéria ou Estados Unidos, que estarão com invernos mais quentes do que o normal.”

"Quando estes ventos são mais fracos, como resultado do aquecimento excessivo do Ártico, essas ondulações têm maior amplitude, são maiores, trazendo ar frio do Norte para o Sul e ar quente do Sul para o Norte", referiu.

Isto explica o que se está a passar na Península Ibérica, em contraste com a Grécia, sendo derivado do mesmo fenómeno, garante o professor da Universidade de Aveiro.

“O que não acontece é simultaneamente toda a Europa ou todas as latitudes da Europa estarem com um inverno exagerado. Há sempre algumas regiões com invernos exagerados e haverá outras, se calhar até na Sibéria ou Estados Unidos, que estarão com invernos mais quentes do que o normal.”