“A exploração dos recursos marinhos é um tema muito pouco estudado e, numa escala cronológica como vamos fazer, nunca foi feito. Queremos perceber como, onde, quando e de que forma estas extrações dos recursos marinhos tiveram consequências para as sociedades humanas ao longo do tempo”, disse hoje à Lusa Cristina Brito, diretora do Centro de Humanidades (CHAM) da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (NOVA FCSH), que coordena em Portugal o projeto internacional.

A investigadora explicou que o projeto, intitulado '4-OCEANS' e financiado em 10,4 milhões de euros pelo European Research Council no âmbito do programa Synergy Grant, visa compreender a história dos recursos marinhos nos dois milénios anteriores à época industrial (1850).

“Queremos perceber como é que seria no passado a exploração dos recursos marinhos e qual a importância desta exploração e extração dos quatro oceanos para as sociedades humanas”, explicou Cristina Brito.

Para perceberem quando e onde os recursos marinhos se tornaram importantes para as sociedades, os investigadores vão identificar “horizontes de eventos marinhos” que envolveram picos rápidos e generalizados de consumo humano, bem como uma aceleração nas extrações marinhas.

Nesse sentido, vão debruçar-se sobre um conjunto de dez espécies que foram “alvo” de exploração e que, ao mesmo tempo, foram “impactadas” pela ação humana, como o bacalhau, o salmão, o atum, os tubarões, as baleias e morsas.

O projeto vai também ter em conta dois mercados, Lisboa e Londres - cidades que ”colocaram diferentes partes do mundo em contacto” - e estudar padrões de consumo dos recursos marinhos em quatro oceanos: o Ártico, o Atlântico, o Índico e o Pacífico.

“Vamos perceber de que forma é que a utilização dos recursos, o conhecimento, tecnologia, trocas comerciais e redes económicas se estabeleceram entre as sociedades em função da exploração, mas também de que forma é que essas sociedades tiveram um impacto nos recursos naturais e nos ecossistemas marinhos”, destacou Cristina Brito, esclarecendo que o projeto pretende dar "uma resposta à escala global".

O projeto, que arranca no próximo ano, permitirá, ao consolidar conhecimento e informação sobre os oceanos, “abrir portas” a novas investigações, ajudar a encontrar respostas para “políticas ambientais e desafios societais da atualidade e do futuro”.

“Vamos ter de lidar com questões de subsistência, portanto, os recursos dos oceanos enquanto alimento para as sociedades atuais é um assunto premente e urgente”, salientou Cristina Brito, acrescentando que a par disso, os resultados vão informar a Década da Ciência do Oceano para o Desenvolvimento Sustentável da ONU.

Do 4-OCEANS resultará ainda um Atlas da Exploração Histórica dos Recursos Marinhos que, de acesso livre, vai "disponibilizar a informação e mapeamento da investigação a qualquer pessoa interessada" na temática.

Além de Cristina Brito do CHAM, a investigação tem como investigadores principais Poul Holm e Francis Ludlow, do Trinity College Dublin e James Barrett da universidade de Cambridge, Reino Unido.

O projeto, que vai desenvolver-se durante os próximos seis anos, irá envolver uma equipa de cerca de 30 investigadores de áreas como a arqueologia e zooarqueologia, biologia molecular, história ambiental marinha, ecologia histórica, história económica, social e da ciência, geografia e climatologia histórica, e ainda modelação e humanidades digitais.