“Esta é uma região icónica e que também está a sofrer bastante com o impacto das alterações climáticas e da subida da temperatura”, afirmou Lino Oliveira, investigador do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), uma das instituições envolvidas no projeto.

Do projeto, que arrancou em junho de 2019 e terminou em dezembro de 2021, resultou a plataforma INFRAVINI, que tem como principal objetivo apoiar os viticultores da região, na bacia hidrográfica do Douro, a adaptarem as suas culturas aos efeitos das alterações climáticas, “desafios” para os quais são necessárias “estratégias e políticas” tanto a curto, como a longo prazo.

“As alterações climáticas têm um grande impacto nas culturas e a videira é uma planta bastante sensível às condições atmosféricas, que podem pôr em risco tanto a qualidade da uva, como a própria cultura em si”, observou.

Apesar de a plataforma “não resolver o problema”, permite dotar e disponibilizar aos viticultores um “conjunto de dados e informação processada” que, aliada à experiência do dia a dia, permite tomarem uma “decisão mais informada”.

“Quisemos desenvolver um instrumento capaz de apoiar os viticultores a tornarem-se mais resilientes às alterações climáticas e, para isso, é necessária uma compreensão dos fatores contextuais, como do clima regional”, salientou Lino Oliveira.

A plataforma reúne informação de atores da região e de fontes externas como o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), mas também de uma rede de sensores integrada nas seis estações meteorológicas da região: Adorigo, Cambres, Canelas, Pinhão, Soutelo do Douro e Vilariça.

Agrupados e tratados, os dados resultam numa série de indicadores hídricos, como a precipitação anual e o índice de secura, e de indicadores térmicos, como o índice de noites frias e a temperatura do mês mais quente.

Ao mesmo tempo, a plataforma congrega a previsão do desenvolvimento fenológico em cada uma das estações meteorológicas, modelos que, aplicados à videira, são “ferramentas valiosas para ajudar na decisão de práticas culturais aos viticultores e enólogos”.

A par destes indicadores, a plataforma integra ainda o observatório, o catálogo, a informação climática previsional e a informação da rede de sensores.

Através da rede de sensores, os viticultores podem consultar informação sobre a temperatura, precipitação, humidade, insolação, evapotranspiração e a velocidade do vento, também em cada uma das estações meteorológicas.

“Para além de suportar as decisões do dia-a-dia, a plataforma permite aos viticultores terem uma previsão futura para perceberem a viabilidade da instalação de uma vinha em determinado local ou da forma como deve ser instalada para que possa ser mais resiliente e rentável”, observou o investigador, lembrando que a plataforma dá resposta a uma série de “necessidades e caminhos” apontados pelos viticultores da região, que no projeto foram representados pela Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense (ADVID).

O objetivo dos investigadores é agora, juntamente com a GEODOURO (entidade líder do projeto), “alagar e aplicar o conceito a outras regiões do país”.

“Esta plataforma não é o fim, mas o início, porque a partir daqui podem ser criados outros serviços que podem contribuir para criar mais valor e informação que seja pertinente para apoiar os viticultores nas diferentes regiões”, adiantou Lino Oliveira.

Além do instituto do Porto, participaram também neste projeto, investigadores da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).