“A seca é um problema gravíssimo que vai ficar connosco nos próximos anos e o fundamental que temos que fazer, além da solidariedade para com as pessoas que estão a ser atingidas agora e que precisam de ser apoiadas, é adaptarmos a nossa vida a estas circunstâncias, nomeadamente na agricultura”, disse à agência Lusa Francisco Cordovil.

O também professor aposentado do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa falava à margem da conferência “Portugal, Agricultura e Política Agrícola – os próximos anos”, na qual foi o principal orador e que decorreu hoje na vila de Vidigueira, no distrito de Beja.

Segundo Francisco Cordovil, Portugal precisa de desenvolver “uma agricultura que respeite muito a utilização da água, de uma maneira que chegue a todas as pessoas”, mas também produzindo culturas que “possam resistir  a condições climáticas mais duras”.

O investigador manifestou-se “muito” preocupado com “o problema dos incêndios florestais”, cujo risco “vai aumentar muito” devido à seca.

Num prazo “relativamente curto”, avisou, “os incêndios, que normalmente começavam no verão, vão começar na primavera”, e, por isso, é preciso “manter a agricultura nas zonas que atualmente têm maior arborização, porque, sem isso, a floresta é muito vulnerável”.

“A mensagem principal é adaptar a paisagem e o tipo de agricultura que temos a um contexto muito difícil de seca”, alertou, avisando: “Não podemos ter uma floresta tão contínua de espécies altamente inflamáveis, precisamos de ter maior compartimentação”.

A “curto prazo”, deve-se apoiar os agricultores para haver agricultura “nos territórios vulneráveis”, porque “grande parte deles tem muito pinhal e muito eucaliptal e, sem uma agricultura de interposição, ficam muito expostos”, defendeu.

“É muito importante o apoio a esse tipo de agricultores que está nas zonas montanhosas, mais arborizadas”, disse, sublinhado que “a agricultura, naturalmente, é protetora do ambiente”.

Sobretudo a agricultura “pequena e de proximidade, a qual “cria interposição entre os meios florestais e, normalmente, uma cintura verde em torno das povoações”, o que “também é um fator de segurança”.

“Portanto, a agricultura nestas zonas mais vulneráveis é sempre um fator que ajuda a dar mais segurança e a proteger a floresta”, vincou.

Quanto ao regadio, o investigador reconheceu que “é fundamental numa agricultura mediterrânica, mas levanta problemas sérios em relação à questão da água”.

Por um lado, é preciso “ver até que ponto” existe “água suficiente para o regadio” que se está a criar no país e, por outro, “a utilização da água em agricultura” até pode “ser mais eficiente em culturas de outono-inverno”.

E a instalação de regadios “envolve uma despesa grande financiada pelos contribuintes”, pelo que o professor sugeriu que os proprietários agrícolas que beneficiam das infraestruturas de rega, sobretudo os grandes, possam “ir pagando, não só com impostos correntes, mas também com taxas, uma parte do que foi o custo do investimento inicial”.