Em dezembro, explicou à Agência Lusa o dirigente da Zero Paulo Lucas, deverão ser abertas candidaturas para proprietários que tenham terrenos que precisam de ser ambientalmente valorizados, seguindo-se em janeiro a angariação de fundos para os investimentos nos terrenos selecionados.

Lembrando que tradicionalmente a economia funciona de uma forma em que apenas tem valor o que é transacionável, o dirigente da associação ambientalista disse que a iniciativa pretende valorizar os ecossistemas, que não sendo transacionáveis produzem benefícios para a sociedade, contribuindo por exemplo para a regulação do clima, do ciclo da água ou do ciclo dos nutrientes, sem esquecer o sequestro do carbono.

“Os proprietários têm terrenos e não são remunerados pelos serviços que esses terrenos fornecem” e o sistema de “ecocréditos” vai ter esse papel, disse. A importância de remunerar esses serviços, como por exemplo uma floresta ou um bosque, tem sido defendida também pelo ministro do Ambiente e Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes.

Na mesma linha, explicou Paulo Lucas, a iniciativa vai valorizar esses serviços prestados pela natureza, mas não através do Estado e sim de cidadãos e empresas e instituições, que podem “investir” em “ecocréditos” para reabilitar ecossistemas em perigo. Paulo Lucas deu um exemplo: “Imagine-se uma área onde existem plantas raras e ameaçadas”.

O projeto da Zero, que tem financiamento do Fundo Ambiental, pretende que os apoios de ecossistema sejam a 10 anos e que o processo seja auditado e os financiadores tenham conhecimento do trabalho realizado e possam também executar, nos locais que financiam, ações de voluntariado.

“Cada um de nós tem uma pegada ambiental associada e o que propomos é uma solução de compensação desse impacto, um investimento num crédito à natureza”, disse Paulo Lucas, explicando que cada “ecocrédito” de um euro corresponde a um metro quadrado de terreno.

O projeto (em https://eccocreditos.zero.ong) dá prioridade a “pequenos investimentos na natureza” e os investidores, ainda que não tenham um beneficio direto, estão a melhorar o planeta e o clima, disse.

Num comunicado a propósito da iniciativa a Zero explica que as ações de restauro a ser financiadas serão preferencialmente em espaços da Rede Natura2000 e que precisem de ações para melhorar o estado de conservação, seja de habitats seja de espécies, aves incluídas.

“O investimento será alocado a ações que permitam promover a resiliência e incrementar o fornecimento de serviços dos ecossistemas e à preservação da biodiversidade (70%), à remuneração dos proprietários/gestores dos terrenos que contratualizem a aplicação de ecocréditos com o sistema (25%) e à auditoria, monitorização e avaliação das ações concretizadas (5%)”, explica-se no comunicado.