Ana Calha partiu para Inglaterra aos 19 anos em busca de um fascínio antigo pelo interculturalismo. Lá fez o curso de Estudos da Comunicação e trabalhou como correspondente para várias publicações portuguesas na área da música. Regressou a Portugal passados sete anos e rapidamente deixou o jornalismo para se dedicar à área da Educação e da Formação. Em 2001 tornou-se professora de inglês e foi para os EUA para fazer um mestrado no ensino do inglês através da Pedagogia para a Criação de Valor.

Mãe de uma menina de dois anos, hoje centra as suas atenções nos cursos English for Life, que criou em 2014. Considera-se uma facilitadora de competências para vencer a dificuldade em falar em inglês livremente e sem auto-crítica. Entende a língua como um veículo para as pessoas se ouvirem e criarem pontes umas com as outras.

Quem é a Ana Calha, empreendedora?

Sou uma apaixonada pela arte do diálogo que vence todas as barreiras. Este é sem dúvida o elo de ligação entre todo o trabalho que faço desde os 19 anos de idade. Do jornalismo, ao ensino do inglês, passando pela formação nas áreas do diálogo intercultural e inter-religioso.

No teu rico percurso enquanto empreendedora, foste estagiária numa ONG com caráter consultivo nas Nações Unidas. O que aprendeste com esta experiência?

É uma experiência que nunca vou esquecer. Ao sentar-me todos os dias naquela sala imensa, onde assistia todos os dias ao Conselho dos Direitos Humanos, pude ver as gigantescas dificuldades de comunicação entre todos os países. Várias vezes chorei. Ao mesmo tempo, assisti ao trabalho diário de centenas de pessoas que trabalham todos os dias para defender os direitos de todos os seres humanos. Nas reuniões a que tive a oportunidade de assistir, nas quais se formulavam novas propostas para a defesa de direitos humanos, percebi a importância de todos serem ouvidos. Até conseguirem chegar a acordo sobre a posição de uma vírgula ou um ponto que podiam fazer a diferença para este ou aquele grupo ser excluído. Em termos pessoais, ficou claro para mim que não gosto do trabalho feito a este nível macro. Percebi que sou mais obreira e menos arquiteta. A este nível das Nações Unidas é muito difícil ver resultados e eu gosto de poder chegar às pessoas de uma forma muito pragmática.

Deste aulas de inglês numa escola que utilizava as pedagogias Waldorf e Escola Moderna, onde introduziste a Pedagogia de Criação de Valor. Quais as especificidades desta abordagem relativamente ao ensino tradicional?

A pedagogia de Criação de Valor foi desenvolvida por um professor japonês, Tsunesaburo Makiguchi, no início do século XIX, no Japão. Hoje em dia há escolas e universidades em várias partes do mundo com base na sua visão pedagógica. Eu fiz o meu mestrado para professores de inglês na Califórnia numa dessas universidades, a Soka University of America. Soka é japonês para criação de valor.

A essência do trabalho dele, e que eu tento aplicar hoje em dia, é o desenvolvimento das capacidades únicas de cada aluno. Dou um exemplo. Depois de ter estudado em Portugal, onde aprendi muito mas não senti que tenha sido estimulada a pensar por mim, quando comecei a entregar trabalhos de pesquisa na universidade nos EUA, devolviam-me os trabalhos com a nota “Ainda não consigo ouvir a tua opinião, a tua voz”. Lembro-me de, na cadeira de gramática, partilhar na aula a sensação de que eu não tinha quaisquer ideias pessoais. Pouco a pouco fui percebendo que tinha imensas mas nunca tinham sido exploradas.

O English for Life é o teu novo projeto. O que o diferencia de outras iniciativas de ensino de inglês?

A gramática, o vocabulário e a pronúncia ingleses são o que são. A diferença está na forma como se ensinam. O meu trabalho nestes cursos desenhados por mim foca-se na conversação. Trabalhamos as outras competências mas sempre com o objectivo de as pessoas conseguirem aplicar tudo no diálogo com os outros. Deixei há bastante tempo de dar aulas individuais porque acredito que é tão importante ouvir e aprender com outros pares. Falar, realmente falar.

Hoje dou aulas para grupos que vão até quatro pessoas, com temas escolhidos pelos alunos. A premissa por trás de tudo o que faço é que uma das principais formas de vencer os bloqueios de falar inglês é estarmos mesmo interessados em chegar aos outros.

5 dicas para quem quer iniciar a aprendizagem de inglês na idade adulta:

  • É preciso estar muito claro que falar inglês ou outra nova língua qualquer nada tem que ver com inteligência. Tem sim que ver com muita tentativa e erro;
  • Aprender uma nova língua requer vencer o pensamento rígido que naturalmente se instala em muitos adultos: de não gostar de errar frente aos outros ou de gostar pouco de experiências novas. Falar inglês é uma ótima oportunidade para aprendermos a ser mais flexíveis;
  • Falar faz-se unicamente falando e isso faz-se com outras pessoas. Desafiando a vontade de fazer tudo certinho, procurem falar com o máximo de pessoas em inglês sempre que tiverem oportunidade. Vão ver que os outros estão muito menos preocupados com os nossos erros do que nós;
  • Hoje em dia temos podcasts e vídeos no Youtube que são ferramentas preciosas para nos expormos ao inglês caso não tenhamos outras oportunidades. Atenção apenas ao facto de tentarem ouvir e perceber todas as palavras. Conforme o vosso nível de inglês, tentem focar-se em perceber contextos e as ideias principais do que ouvem;
  • Curiosidade, curiosidade e mais curiosidade. Esta é a maior ferramenta de quem quer aprender uma nova língua. Quando nos interessamos realmente pelo que os outros têm para nos dizer, ficamos menos centrados nos nossos erros e, quando damos por isso, já estamos a falar inglês.

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