Naquela que é a sua primeira colaboração em conjunto, Teresa e João Gameiro decidiram desenhar uma cadeira. O sonho de criarem algo os dois era antigo e materializou-se recentemente com o lançamento da Capsule Armchair. O ponto de partida para a criação desta peça – cujo design e formato brinca com a geometria do círculo e do quadrado, e cujas linhas nos remetem para a arquitetura moderna californiana dos meados do século XX - foi uma clínica médica.

“Como esta clínica tinha uma abordagem mais holística da medicina e as pessoas iam lá para tratar de si e não da família, quisemos explorar um pouco as noções de privacidade e criar esta espécie de bolha, daí lhe chamarmos Capsule porque era uma espécie de defesa e proteção contra a pessoa que estava ao lado. Daí ter estes braços elevados”, aponta João Gameiro sobre o conceito desta peça decorativa, originalmente criada para outro contexto, durante a apresentação à imprensa. “É interessante porque quando olhamos para a cadeira achamos ‘com estes braços se calhar vou-me sentir um pouco apertada ou desconfortável’, mas isso não acontece”, complementa Teresa Gameiro. Graças ao feedback positivo que receberam após a sua criação, em 2022 a dupla de irmãos decidiu aprimorá-la e criar uma versão 2.0 que se pudesse enquadrar em outros contextos. Desta forma, acharam que fazia sentido implementar algumas mudanças.

Para além de lhe tentarem dar uma estética mais doméstica, tiveram a preocupação de produzir a Capsule Armchair em diferentes materiais e cores. “Houve uma delicadeza em escolher os materiais e o tecido do assento e das costas”, esclarece a designer têxtil sobre este upgrade que veio conferir mais robustez e firmeza a este artigo cujos braços, entre outras coisas, permitem trabalhar confortavelmente ao computador. “Dá às pessoas, a nível sensorial, outra experiência porque o tecido do assento e das costas é bastante texturado, então é interessante passar a mão na cadeira e perceber as várias texturas.  Enquanto o outro era mais aveludado, este é feito de outra forma.”

Outras das novidades deste modelo prendem-se com o facto de toda a estrutura de ferro lacada a branco matte estar revestida com tecido – o que permite que a Armchair possa ser usada em espaços exteriores ainda que com os devidos cuidados - e de o cliente poder ainda escolher os pés que pretende para a cadeira, que resulta do casamento perfeito entre a tradição e o contemporâneo.

Sustentabilidade e slow design, o ADN do nome Gameiro

Capsule Armchair
créditos: Tiago Casanova

Apesar de a sustentabilidade estar na moda, esta é uma preocupação que tem acompanhado o trabalho de Teresa Gameiro desde o início da sua carreira. A reciclagem têxtil e a tecelagem são uma marca registada dos projetos que, ao longo dos anos, tem vindo a assinar enquanto designer de moda e que decidiu incorporar nos objetos de decoração que começou a desenvolver em nome próprio. Uma vez que no atelier de arquitetura e interiores Studio Gameiro, João sempre teve a preocupação de trabalhar em projetos que incorporassem tradição, design sustentável e soluções feitas à medida, fez todo o sentido que a Capsule Armchair incorporasse esta visão partilhada por ambos.

Para o assento da cadeira, Teresa e João apostaram em algodão 100% reciclado e certificado da marca inglesa Yarn Collective, sendo que as partes laterais foram forradas com restos de desperdício têxtil que a designer recolhe das indústrias portuguesas e que, juntamente com linho e linha de algodão, passaram por um processo de tecelagem manual. Mas trabalhar com desperdício é um processo desafiante. “Tem que se garantir que a Teresa tem [desperdício] suficiente para que todos [os exemplares] sejam iguais ou o mais parecidos possível. Se agora nos pedirem para fazer 20 cadeiras exatamente iguais a esta, com o tecido da estofagem conseguimos, mas com o tecido do desperdício é possível que não seja exatamente o mesmo tom porque vai ter que se arranjar junto do desperdício que existe nas várias fábricas para se consiguir esses tons. Mas isso dá-lhe esse carácter de único”, afirma o arquiteto designer, que esclarece que o objetivo inicial era usar linho como matéria-prima principal, mas que por este ficar gasto mais facilmente, acabaram por optar pelo algodão.“O martindale mede a resistência que o tecido tem e [no caso do algodão] normalmente anda à volta dos 20, 30, 40. E este tem 100 mil. É muito resistente”, frisa.

Mas mais do que lançar produtos únicos, de qualidade e que oferecem durabilidade, a dupla acredita que parte do seu trabalho também passa por contribuir para um consumo mais responsável e sustentável através do slow design. “Este tipo de objetos são feitos e pensados com mais tempo, de forma cuidada e eticamente responsáveis”, refere Teresa que adianta que também é da responsabilidade dos designers dar resposta a esta nova consciência ecológica que começa a existir nos consumidores. “Nós somos responsáveis pela vida desse produto, como é que esse produto vai estar em casa das pessoas e como é que ele pode ser tratado.”

Uma cadeira 100% personalizável

Capsule Armchair
créditos: Tiago Casanova

A personalização é outro aspeto a salientar neste projeto familiar e que permite que cada cliente possa ter, em sua casa, uma peça única, exclusiva e feita à sua medida. Na Capsule Armchair praticamente tudo pode ser customizado: desde tecido do estofo, aos pés da cadeira, passando pela própria inclinação do assento que ser ajustada consoante o gosto do comprador. Para além da capsule box – que é uma espécie de manual de instruções da cadeira onde é possível ter acesso aos diferentes acabamentos disponíveis -, em breve a concept store Banema Studio vai ter em loja um catálogo de tecidos que os clientes vão poder consultar e, assim, iniciar o seu projeto de personalização.

Uma vez que esta é uma cadeira 100% personalizável, os clientes podem reunir-se com Teresa e João de forma explicarem a sua visão e, em conjunto, criarem a Capsule Armchair dos seus sonhos. “Nós somos criativos por isso gostamos de desafios”, diz Teresa, que adianta que o preço base se fixa nos 2.800 euros. “Tudo o que seja alterado já é bespoke e sob consulta: diferentes pés, diferentes texturas, diferentes tecidos.” Todos os pés disponíveis são feitos com restos de desperdício de carpintaria cortados em diferentes formatos e que os clientes podem personalizar consoante o seu gosto pessoal. Nogueira, acácia e candal são alguns dos tipos de madeira disponíveis.

Desenhada em Lisboa e com produção na zona centro de Portugal, todos os exemplares da Capsule Armchair que chegam ao mercado são numerados e incluem um certificado de autenticidade, onde o cliente poderá ter acesso ao ADN da cadeira que deverá ser apenas o primeiro de muitos projetos a dois. Segundo João Gameiro, o próximo passo centra-se na criação de uma linha de tecidos e de tapetes que poderão ser incorporados nos projetos de interiores que desenvolve no seu atelier.

A Capsule Armchair está à venda, em exclusivo, na Banema Studio, em Campo de Ourique.