O seu casamento em maio de 2018 com o príncipe Harry parecia algo saído de um conto de fadas.

A união de uma atriz americana e feminista fervorosa com o neto de Isabel II, sexto na linha de sucessão ao trono britânico, parecia destinada a modernizar a imagem da realeza.

Mas, dois anos depois, Meghan, de 39 anos, abalou a instituição com a decisão de abandonar as suas obrigações reais para se mudar com Harry e o seu bebé Archie para o Canadá e depois para os Estados Unidos, onde o casal atualmente trabalha produzindo documentários para a Netflix e podcasts para o Spotify.

E agora, numa entrevista potencialmente explosiva com a estrela da televisão americana e amiga Oprah Winfrey, programada para ir para o ar no domingo, Meghan posiciona-se contra o Palácio de Buckingham, "The Firm", acusando-o de dizer "inverdades" sobre ela.

Harry, 36 anos, apoiou-a em tudo, apesar de ter perdido o seu título de Alteza Real, o seu salário público, as boas relações com a família e as suas honras militares muito estimadas.

Fê-lo declarando que queria evitar um novo drama como o vivido pela sua mãe, a princesa Diana, que morreu num acidente de carro em 1997 em Paris após ter terminado com o seu marido, o príncipe Carlos, e os rigores de uma realeza que não sabia como assimilar a sua originalidade e o seu glamour.

Sexismo e racismo

No início, Meghan surpreendeu com gestos tão simples como ser ela a fechar porta do carro, ou ações comprometidas, como a sua participação num livro de receitas elaborado pelos sobreviventes do incêndio do Grenfell Tower fire, um arranha-céus social, em que morreram 71 pessoas, na sua maioria migrantes.

Meghan arregaçou as mangas, vestiu um avental e colocou a mão na massa na cozinha de um centro muçulmano para ajudar a preparar receitas da Europa, Médio Oriente e do norte de África.

Com a sua imagem de modernidade, despreocupação e compromisso social, o casal ganhou muita popularidade. A sua conta do Instagram, criada em abril de 2019, chegou a um milhão de seguidores em menos de seis horas, um recorde mundial.

Logo ambos começaram a mostrar o seu desconforto com o estilo de vida rígido imposto aos membros da realeza britânica, perseguidos por uma imprensa sensacionalista implacável, contra a qual romperam os moldes tradicionais. Um desses momentos foi quando decidiram não apresentar o seu primeiro filho Archie, nascido em maio de 2019, à saída da maternidade, como manda a tradição.

Acostumada ao estilo de vida de uma rica atriz americana, Meghan também foi criticada por uma viagem luxuosa a Nova Iorque para receber presentes das suas amigas, incluindo a advogada Amal Clooney e a tenista Serena Williams.

O príncipe Harry denunciou "o sexismo e o racismo" contra a esposa nas redes sociais, como o tweet de um apresentador da BBC que, após o nascimento de Archie, escreveu "o bebé real sai do hospital" junto com a foto de um casal que dava as mãos a um chimpanzé. Foi imediatamente demitido.

A tensão foi aumentando e, em janeiro, o casal provocou um terramoto ao anunciar que iam deixar o seu lugar de primeiro plano na família real britânica.

Perderam os títulos de altezas reais, o seu subsídio público, os cargos honorários militares de Harry e o respeito de muitos que os acusaram de querer continuar a aproveitar-se da sua condição financeira.

Após uma breve passagem pelo Canadá, foram morar para a Califórnia, onde Meghan cresceu e tem contactos profissionais.

Mas foi também ali onde, em julho, a duquesa de Sussex sofreu o aborto que ela mesma relatou nas páginas do jornal "The New York Times", num gesto contrário ao seu habitual receio em expôr a sua vida privada.

Perder uma gravidez é uma "dor insuportável" e um assunto que ainda é "tabu", "impregnado de (uma desnecessária) vergonha, que perpetua um ciclo de luto solitário", escreveu.

Escravos e um rei

Filha de Thomas Markle, um diretor de iluminação que ganhou um Emmy pelo seu trabalho na série "General Hospital", e de Doria Ragland, assistente social e professora de yoga, Meghan nasceu a 4 de agosto de 1981 em Los Angeles.

Por parte da mãe, descende de escravos negros das plantações de algodão da Geórgia, no sul dos Estados Unidos. Por parte de pai, do rei Roberto I da Escócia, que reinou entre 1306 e 1329.

Os seus pais separaram-se quando tinha dois anos e divorciaram-se cinco anos mais tarde.

Markle formou-se em teatro e relações internacionais na Northwestern University, perto de Chicago, o que a levou a seis semanas de práticas na embaixada dos EUA na Argentina.

A atriz alcançou a fama ao participar na série "Suits", sobre um escritório de advocacia de Nova Iorque.

Antes de se casar com Harry, esteve casada com o produtor Trevor Engelson, de quem se divorciou após dois anos.

Velhos amigos acusaram-na de os negligenciá à medida que avançava na vida. Os seus dois meio-irmãos, que não foram convidados para o casamento, criticaram-na ferozmente, sugerindo que teria vergonha deles.

O difícil relacionamento com o seu pai também gerou muita polémica.