Em setembro de 2020 lançaram o primeiro single, 'Ser Feliz', e chega este ano o álbum de estreia dos Todagente, uma banda composta por André Meneses, Francisco Reis e Mário Correia. O trabalho iria ser dado a conhecer no ano passado, mas os planos, por causa da pandemia, foram adiados para outubro de 2022.

Em entrevista ao Notícia ao Minuto, Francisco Reis detalhou que o álbum está "praticamente pronto", uma vez que, por terem sido obrigados a "arrastar" a data de lançamento, acabaram por fazer "acertos", alterando "pormenores importantes que fazem muito diferença". Um trabalho que vai contar com dez temas.

A "química" entre os elementos foi também destacada pelo músico, que se mostrou feliz por, até agora, "as coisas têm fluido muito facilmente". "Neste momento temos já quase mais tantas músicas como tem o álbum. O que é bom porque é sempre bom ter a mais do que a menos", afirmou.

Empenhados a que nos concertos ao vivo as pessoas "saiam de lá ainda mais felizes e com uma melhor 'vibe'", esperam que os próximos tempos sejam de consolidação dos Todagente.

Como surgiu esta união? Já eram músicos e tinham os vossos próprios trabalhos, mas depois como é que decidiram juntar-se?

Primeiro, o que nos juntou foi a música. Conhecemo-nos os três, não na mesma altura, mas através da música. Depois de estabelecer esse contacto e continuar a manter um relacionamento, acabámos por chegar à conclusão que tínhamos uma amizade espetacular. E que tínhamos também uma grande facilidade em trabalharmos juntos - que é muito importante ainda por cima num projeto que é partilhado. Por isso, aconteceu de uma forma natural.

Fazíamos muitas coisas até que chegámos aquele ponto em que pensamos: porque não fazer uma coisa mais à nossa maneira, mais profissional, ao nosso gosto e irmos para o mercado na nossa verdade... Foi isso que fez nascer os Todagente. Daí também um bocado o conceito de ‘toda a gente’, ou seja, somos personalidades diferentes, é uma mistura para nós e fazemos com todo gosto para chegar a toda a gente.

Melhor do que uma mensagem para pedir às pessoas e a desejar que as pessoas sejam felizes?! Sejam felizes, vivam os momentos

E como foi lançarem-se enquanto estava a 'rebentar' uma pandemia?

Por um lado nós tínhamos noção disso, mas também tínhamos a noção que não ia ser por causa da pandemia que íamos deixar de fazer as coisas e trabalhar. Mais condicionados, tivemos que repensar, que nos reinventar, mas isso também foi uma boa aprendizagem. Por outro lado, acabou por nos dar tempo para fazer as coisas com a calma com que elas necessitam de ser feitas. Não foi tudo mau. Por isso, a partir do momento em que o trabalho inicial estava feito - que foi o primeiro single, o ‘Ser Feliz’ -, lançamos para o mercado e ficamos um bocado à espera.

Começamos a trabalhar as redes sociais - que é uma coisa que também temos muito em conta, os nossos canais digitais - e isso acabou por ter um reflexo, nessa altura. Decidimos continuar a trabalhar – porque não poderia continuar assim, nem para nós nem para ninguém da nossa área. Continuamos a trabalhar, para que quando as coisas começassem a acontecer, o trabalho já estaria todo feito – que nunca está todo feito, mas para a parte do álbum já estaria todo feito ou muito perto disso. E é o que tem acontecido. Por isso, a pandemia teve coisas boas e más.

O que as pessoas nos dizem é que é muito bom ouvir a nossa música porque transmite uma boa 'vibe'. É a melhor coisa que podemos ouvir, porque é isso que nós queremos

O lançamento da música ‘Ser Feliz’ ter sido a primeira foi por algum motivo em particular? Acabou por ser uma mensagem…

Completamente! Os Todagente começaram - a parte da composição e a própria criação do projeto - com essa emoção, esse sentimento. Vamos procurar ser felizes, vamos fazer isto para nos divertimos. Isto vai dar muito trabalho, muita dor de cabeça, mas nunca podemos perder e esquecer da parte da diversão. Porque é muito importante estarmos sempre frescos e à procura dessa frescura. Daí, depois o trabalho acabou por se transformar nessa mensagem, que deu mote ao primeiro tema.

Também coincidiu com a parte da pandemia em que estávamos todos a atravessar - e continuamos todos a atravessar um período difícil. E melhor do que uma mensagem para pedir às pessoas e a desejar que as pessoas sejam felizes?! Sejam felizes, vivam os momentos. Infelizmente estamos a atravessar uma fase no mundo difícil de compreender, com os valores um bocado subvertidos. E isso nota-se nesta situação que estamos a viver agora em relação à Rússia e à Ucrânia, e que nos afeta a todos nós. Vamos ver…

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No fundo, o ‘Ser Feliz’ é também uma mensagem de esperança…?

Uma mensagem de esperança, exatamente. Que é aquela que nunca podemos perder, ou será sempre a última a perder. E será sempre também o combustível que nos faz andar. Às vezes as coisas que nos fazem felizes são as que estão mais ao nosso alcance, as mais simples, e muitas vezes, infelizmente, são aquelas que nós nem damos por ela ou metemos em segundo plano. Mas isso faz parte do ser humano e também faz parte do nosso crescimento.

Como tem sido a reação do público?

Nesse aspeto estamos contentíssimos. O que queremos é transmitir esta nossa boa 'vibe' às pessoas e acho que temos conseguido. Temos tido reações muito boas. Em todos os programas que vamos, a expressão é a mesma. O que as pessoas nos dizem é que é muito bom ouvir a nossa música porque transmite uma boa 'vibe'. É a melhor coisa que podemos ouvir. Estejamos a cantar uma balada ou uma coisa mais séria, mais ligeira, a mensagem está sempre lá, transmitir uma boa energia. Está lá sempre uma boa energia.

Não devemos de ter medo de lhe chamar música comercial

Esta música mais recente, ‘Tudo Começa com um Fim’, qual a história por trás deste tema?

Geralmente, tudo o que compomos, tudo o que sai, surgem das nossas experiências do dia-a-dia, das nossas vidas, de experiências de vidas que conhecemos e que acabam por ser sempre lições para nós. Ou seja, a nossa preocupação ao compor, principalmente quando estamos a escrever, é que vá sempre com uma mensagem a transmitir. E essa mensagem que seja sempre o mais positiva possível, independentemente do tema que estejas a abordar. Ao fim ao cabo é uma chamada de consciência, a começar connosco próprios - porque ela nasce com os Todagente e depois queremos partilhá-la com as pessoas.

Este tema acaba por vir um bocado numa sequência de uma situação dessas. Ou seja, quantas vezes nós já fizemos planos, já tivemos em relações, ciclos que se repetem em que partimos para as coisas com um fim e, às vezes, o fim não é aquele que estávamos à espera. Por isso, tudo começa com um fim, mas independentemente do objetivo ou não, há sempre aquela parte do presente e de ‘anjinho despertador’… ‘tudo começa com um fim, ou não’.

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As vossas músicas é uma ‘fusão’ de vários estilos musicais, mas vão sempre de encontro ao pop, a uma música mais 'audível'...?

Podes chamar comercial. Não devemos de ter medo de lhe chamar música comercial, porque a partir do momento que o nosso intuito como compositores é entrar num mercado de música em que a música passa a ser um produto - que tem que ser visto como um produto industrial como outro qualquer -, passa a ser um comércio. Nós também temos de ganhar a vida com a música.

Foi uma aposta vossa para conseguirem singrar na indústria musical portuguesa?

O projeto nasce pelo amor que temos à música, e a música dos Todagente nasce pela identidade das três personalidades que constituem a banda. Mas depois disso, há uma preocupação quando estás a compor, porque não estás a compor para o teu umbigo. Estás a compor para pessoas, tu queres partilhar a tua música com pessoas, que ela chegue às pessoas. Então tens sempre que pensar nela, sem perder a tua identidade. Nós assumimos, não há problema nenhum em ir à parte comercial porque isso faz parte da indústria, e é assim que ela funciona.

A única diferença é que o projeto que construímos não é só música, é muito mais do que isso. Temos a parte audiovisual, os videoclipes são todos feitos por nós, ou seja, todo o trabalho, tirando o de agência e booking, é todo feito por nós. O que nos dá também um ‘know how’ e uma grande vontade de estar sempre a aprender e a fazer.

Os Todagente têm um lema, e o nosso lema é 'vamos na nossa verdade'

Tinham planeado lançar o álbum no ano passado, mas só vão lançar agora em outubro. O que se passou? Porque não lançaram no ano passado?

Não lançamos por causa da pandemia. Tivemos que adiar porque vimos que a nível de mercado, e mesmo a nível de tempo, de concertos… O que a pandemia fez foi ir arrastando isso. Nós também tivemos que seguir um bocado esse processo porque fazemos parte de uma indústria, não estamos sozinhos nela. E a indústria neste momento está a ‘sofrer’, tem que viver com todas essas adaptações e condicionantes, claro.

O que nos pode adiantar sobre este álbum?

Em princípio irá sair em outubro, se não houver mais condicionantes. Vamos fazer por tudo para que não haja. Vai ser o nosso primeiro bebé. Vai mostrar aquilo que os Todagente são em termos de identidade, de música, de gosto, de mensagem. Vai ser o nosso primeiro cartão de visita. E esperemos, sinceramente, que as pessoas gostem. Ele está a ser feito, não só com muito amor, mas com muita verdade. Aquilo que as pessoas vão ouvir, tanto musicalmente como a nível de letras, são coisas muito verdadeiras.

Os Todagente têm um lema, e o nosso lema é ‘vamos na nossa verdade’. Tentar ser sempre o mais honesto possível connosco próprios e com o nosso trabalho para que ele também chegue dessa maneira às pessoas. Porque nós queremos que as pessoas nos conheçam como nós realmente somos. Vamos tentar que as pessoas tenham um bocadinho disso, porque a nossa missão, a nossa vontade, é estar no mercado e nesta vida durante muitos anos. E se for junto das pessoas, muito melhor ainda. Por isso, a seguir a este virá outro, e outro... e as pessoas aos poucos irão conhecer os Todagente. Não será difícil, nós não somos complicados, acho eu.

Tendo em conta que têm todos estilos musicais distintos, haverá alguma surpresa de alguma música mais diferente das que têm saído até aqui? Mais ‘inclinada’ para o jazz, por exemplo?

Isso é uma excelente pergunta, mas vai ficar no segredo dos Deuses. Isso será surpresa, mas fica no ar. Não posso dizer que será para este primeiro. Já temos coisas dessas. Musicalmente, temos estilos diferentes e formações diferentes, e o que gostamos nos Todagente é misturar essas formações. É claro que há uma característica que é a parte clássica, principalmente na voz, que é uma caraterística que faz parte da identidade dos Todagente e que irá aparecer, mas quando aparecer vão perceber, de certeza absoluta.

Há planos para fazer parceria com alguém?

Sim, e isso hoje é muito importante. Essa interdependência entre a nossa classe é muito importante. Não posso dizer nomes, mas isso está. E possivelmente já para este primeiro álbum. Voltando à parte da surpresa, ela vai aparecer no álbum, em princípio, mas ao vivo ela está lá. Por isso, quem quiser ver a surpresa tem que nos ir ver e ouvir.

O poder político pensar um bocado mais na parte dos impostos porque nós não ganhamos todos o mesmo, não somos todos iguais, e durante muito tempo tudo isto foi metido dentro do mesmo saco

Já há espetáculos agendados?

Temos muitas possibilidades. Não está a correr nada mal em termos de contactos, mas toda a gente sabe que tanto para nós como para as entidades que estão a contratar, não só dos concertos e dos contratos que já estavam feitos para trás que tiveram de ser adiados e só agora é que estão a ser concluídos. Por isso, temos de estar um bocadinho neste jogo de cintura, mas estou convencido que este ano, mais ou menos, todos vamos trabalhar.

Sente que agora que as coisas já estão a começar a ‘voltar ao normal’, que existe uma maior união na indústria ou a pandemia não mudou nada?

Acho que houve várias coisas que mudaram em relação à pandemia. Vou por partes. Musicalmente, entre bandas, sejam formadas pelos mesmos elementos ou a trabalhar com outros, a pandemia fez com que nós ao estarmos em casa tivéssemos que usar plataformas que nos permitissem [trabalhar], e isso foi muito bom porque fez-nos ver que mesmo separados, conseguimos fazer muita coisa juntos. Tanto a nível musical como noutras situações. A nível da indústria, sofreu muito porque as pessoas deixaram de consumir e de haver espetáculos. Ou seja, a indústria não está numa situação nada fácil, e ao não estar também não nos põe a nós numa situação nada fácil.

Agora, acho também que isto nos veio dar uma chamada de atenção, puxar um bocadinho a orelha a todos. ‘Isto pode acontecer e precisamos de começar a estar mais preparados para situações destas’, seja pandemia ou o que for. Saber estruturar melhor as coisas. A nível governamental, o poder político pensar um bocado mais na parte dos impostos porque nós não ganhamos todos o mesmo, não somos todos iguais, e durante muito tempo tudo isto foi metido dentro do mesmo saco. É preciso ter cuidado com isso. É preciso ver que mal isto aconteceu, a nossa indústria foi das poucas que esteve completamente parada. E como é que as pessoas vivem?

Chamo aqui a atenção da classe política. Deviam fazer um exercício muito simples que é porem-se na posição das pessoas que estão a passar por isso. Se passassem por isso dois ou três meses iam ver o que é que isso custa. Vivemos em verdades e realidades diferentes. E isso afeta mais uns, afeta mais outros.

Creio que disso tudo veio uma boa aprendizagem, não só na parte de fazer reconhecer o trabalho que toda a gente faz, saber defendê-lo e saber que quando é preciso ir à luta para fazer uma reclamação ou uma chamada de atenção, nós estamos cá. Isso foi feito, e continua a ser. O planeamento dos concertos por causa da questão da saúde, continuam-se a fazer, ainda que condicionamentos, mas continuam-se a fazer. O que é bom. Nós arranjamos formas de não parar as coisas, embora elas sejam condicionadas, mas não parar porque se parar então é que isto morre. E isso é que não pode ser.

A Cultura é a cara de um povo, é o que mostra o quanto evoluído um povo é ou não

Ainda agora disse: “quando é preciso ir à luta para fazer uma reclamação ou uma chamada de atenção, nós estamos cá”. Quando diz “nós”, refere-se a todos os artistas? Ou seja, sente que há essa união da indústria e que quando é preciso lutar por um, lutam todos?

Sim, sim. A Cultura é a cara de um povo, é o que mostra o quanto evoluído um povo é ou não. Senti que da pandemia houve muito mais essa necessidade, o prazer e a procura de fazer com este ou com aquele - ‘eu nem conheço mas vou tentar mandar um e-mail’. Nós fizemos isso e estamos a fazer. Há uma partilha, as pessoas respondem. Isso é muito unido, isso faz andar as coisas. E as rádios. Temos que agradecer muito às rádios e aos meios de comunicação. São fundamentais para a nossa arte.

Notaram diferença assim que a vossa música começou a tocar nas rádios?

Sim. A nossa opinião, e opinião geral de quem tem um projeto que quer partilhar com as pessoas, é que o meio de comunicação mais rápido e eficaz é a rádio e a televisão. E hoje em dia quem diz radio, diz podcast…

Mesmo agora que já existem plataformas como o Spotify, a rádio continua a ter um lugar de destaque?

Muito. Falo por mim, tirando uma ocasião ou outra, só vou ao Spotify à procura de um grupo que não conheça se de repente vou a conduzir e ouço uma música que me chama a atenção - e vou logo ao Shazam e fico a ouvir, só assim é que cheguei lá.

Quais os desejos para daqui a uns dois, três anos? O que gostavam de conquistar num futuro próximo?

Para não sermos muito gananciosos, gostaríamos de já termos alcançado o nosso lugar dentro do mercado da música portuguesa e podermos, dessa maneira, fazê-la chegar à maior parte das pessoas. E que a mensagem e a missão continue a ser a mesma, fazer as pessoas sentirem-se o melhor possível com a nossa música. Estou convencido que se for feito de maneira honesta, verdadeira... a honestidade e a verdade chegam sempre às pessoas. Nós não vivemos sem o público, o público não vive sem nós, uma coisa não vive sem a outra. É uma interdependência que cria uma energia que vai muito além de tudo, de nós, da música…. São linguagens muito fortes, e a música como linguagem universal é uma coisa que nos ultrapassa.

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