Uma infância difícil

PhilipMountabatten Schleswig-Holstein-Sonderburg-Glucksburg, príncipe da Grécia e da Dinamarca, nasceu a 10 de junho de 1921 na ilha grega de Corfu. Apesar do seu estatuto social e de ter nascido no seio da família real grega, com fortes ligações às Casas Reais da Dinamarca e da Prússia, não teve uma infância muito fácil. Fruto do casamento da princesa Alice de Battenberg com o príncipe André da Grécia, uma revolução obrigou a família a deixar a Grécia e a exilar-se em França.

“O HMS Calypso, um navio canhoneiro real, foi enviado [pelo rei George V] para retirar a família de Corfu. Reza a lenda que o príncipe de 18 meses foi levado dentro de uma caixa de laranjas”, refere um perfil sobre o duque de Edimburgo publicado pelo jornal britânico The Independent.

Na altura Philip, juntamente com os pais e as quatro irmãs, estabeleceram-se na comuna francesa de Saint-Cloud mas por pouco tempo. O casamento e consequente mudança das irmãs para a Alemanha, o abandono do pai e o internamento da mãe num sanatório na Suiça, fizeram com que Philip, o filho mais novo da família e na altura com 10 anos, ficasse aos cuidados de familiares.

A sua infância e adolescência foram passadas entre Inglaterra e Alemanha, tendo-se mudado para a Escócia em 1933 onde frequentou a escola Gordonstoun até ser admitido na Britannia Royal Naval College (BRNC). Foi nesta escola em Dartmouth que viria a conhecer Kurt Hahn - um pedagogo alemão que viria ajudá-lo a fundar o galardão DoEf - e a sua futura esposa, a princesa Isabel II, durante uma visita à instituição.

“[A minha casa] Era onde eu estava naquele momento. Tinha uma grande família. [...] Simplesmente vivi a minha vida. Nunca me tentei psicoanalisar a todo o momento”, disse quando questionado sobre o quão desconcertante foi a sua infância no documentário da BBC The Duke at 90.

O início da carreira naval

Durante os 12 anos em que esteve ao serviço da Marinha britânica, Philip recebeu diversas distinções e promoções, entre elas a “Greek War Cross of Valour”, uma das mais altas condecorações militares que distingue atos de bravura e liderança notável no campo de batalha. Aos 21 anos bateu um recorde ao tornar-se no Primeiro Tenente mais novo do navio de guerra HMS WALLACE. Para além da participação na batalha naval do cabo Matapan, Philip presenciou a rendição do Japão na Baía de Tóquio e que marcou o fim da Segunda Guerra Mundial.

“Estar na Baía de Tóquio com a cerimónia de rendição a acontecer no campo de batalha que estava a quê, a 180 metros e podia ver o que se passava com um par de binóculos, foi um grande alívio”, disse durante uma entrevista para o programa Britain at Sea da BBC Radio 4.

Após o seu enlace com a princesa Isabel II, foi destacado pela Marinha Britânica para servir em diversas partes do mundo, o que o obrigou a estar longe da família. Mas aquela que tinha tudo para ser uma carreira naval promissora, terminou de forma abrupta com a morte repentina do rei George VI. Após a coroação de Isabel II, Philip deixou a carreira naval e sucedeu ao sogro ao ser nomeado Capitão Geral da Marinha Real.

O casamento

O casal começou a namorar à distância, trocando correspondência enquanto Philip ainda estava na Marinha. De acordo com o perfil do The Independent, na altura o romance não foi muito bem visto pelo pai da princesa, o que obrigou a uma série de mudanças na vida do futuro duque de Edimburgo: naturalizou-se, fez a sua conversão religiosa e renunciou ao seu título real.

“Perdeu o que é seu por nascença, a sua casa, nome, nacionalidade e igreja”, refere o jornal britânico sobre o romance com aquela que, em 1952, viria a tornar-se na futura rainha de Inglaterra. Ao tornar-se cidadão britânico, Philip adotou o seu apelido de família: Mountbatten.

Príncipe Philip
créditos: AFP and licensors

Depois de um noivado relâmpago, subiram ao altar na Abadia de Westminster a 20 de novembro de 1947. Aquando do enlace recebeu três títulos reais: o de duque de Edimburgo, o de Conde de Merioneth e o de  Barão de Greenwich. Juntos tiveram quatro filhos: Carlos, Ana, André e Eduardo. De acordo com site da Casa Real, o título de Príncipe só lhe foi atribuído por Sua Majestade em 1957, ou seja, 10 anos após o casamento.

 A vida pública

Com a coroação de Isabel II, Philip foi obrigado a colocar um ponto final na sua promissora carreira naval. Esta mudança fez com que tivesse de encontrar o seu lugar dentro da família real.

“Ele criou uma muito vida agitada e extremamente influente para si. E isso, mais do que qualquer coisa, é uma lição em dever”, afirmou o secretário pessoal do Duque de Edimburgo, Brigadier Sir Miles Hunt-Davis no documentário The Duke: A Portrait of Prince Philip.

A preservação ambiental e a vida selvagem tornaram-se nas suas grandes causas, tendo assumido a presidência da World Wildlife Fund (WWD) durante 15 anos. A instituição, atualmente presidida pelo príncipe Carlos, criou um prémio com o seu nome – o Duke of Edinburgh Conservation Award - que todos os anos premeia indivíduos que tenham contribuído para a conservação da vida selvagem e recursos naturais.

Príncipe Philip
créditos: DAMIEN MEYER / AFP

Enquanto príncipe consorte acompanhou Sua Majestade em grande parte das digressões reais pela Commonwealth e Reino Unido assim como nas suas visitas de Estado ao estrangeiro. Conhecido pelo seu sentido de humor politicamente incorreto, algumas destas visitas e encontros ficaram marcados pela mordacidade e irreverência das suas intervenções.

Descrito pela prima, Countess Mountbatten of Burma, como um homem sem “qualquer tipo de tato”, Philip admitiu que dizer aquilo que pensa lhe trouxe alguns dissabores, principalmente com a imprensa que acabou por criar uma ideia errada a seu respeito. “Acho que, ocasionalmente, sim, mas acho que têm a sua própria agenda e, é assim. Temos que aprender a viver com isso”, disse o duque de Edimburgo que, em 1961, se tornou no primeiro membro da família real a dar uma entrevista televisiva ao programa Panorama e a autorizar o primeiro documentário sobre a realeza, intitulado ‘Royal Family’ (1969).

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De acordo com o site oficial da Família Real, ao longo da sua vida realizou 22.219 compromissos a solo, 637 visitas ao estrangeiro a solo e fez mais de 5400 discursos.

“Acho que fiz a minha parte, por isso quero aproveitar um pouco, com menos responsabilidade, menos correria, sem ter que pensar no que dizer. Para além disso tenho perda de memória, não me lembro de nomes e coisas”, disse no documentário The Duke at 90, altura em que começou a abrandar o ritmo da sua agenda. “É melhor retirar-me antes de atingir o prazo de validade.”

A despedida de Philip de Edimburgo no seu último ato oficial
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Em 2017, a Casa Real anunciou que Philip, na altura com 97 anos, a partir do outono desse ano “não iria dar continuidade ao seu programa de compromissos públicos, apesar de poder escolher estar presente em certos eventos, juntamente com a Rainha, de tempos a tempos.”

Foi considerado “o membro masculino mais velho da família real” e, em 2009, bateu o recorde de Charlotte de Mecklemburgo-Strelitz, rainha consorte do rei George III, ao tornar-se no “consorte com o reinado mais longo da história britânica”: 68 anos ao lado de Sua Majestade.

Trabalho filantrópico

Desde que se tornou membro da família real, Philip passou a dedicar parte do seu tempo a projetos de caridade e a apoiar causas que lhe são próximas. Apesar de não ter realizado compromissos públicos nos seus últimos anos de vida, continuou a ser patrono e membro de 780 instituições, tendo especial interesse em causas relacionadas com o exército, pesquisa científica e tecnológica, conservação ambiental e desporto, pode ler-se no site da Família Real.

Foi ainda responsável pela criação do The Duke of Edinburgh's Award. Lançado em 1956, o DofE é um programa que, alicerçado em quatro áreas distintas (voluntariado, parte física, competências e expedição), tem como objetivo ajudar a preparar jovens, entre os 14 e os 24 anos, para a vida e mundo profissional.

Hobbies e interesses

Príncipe Philip

Para além da caça, Philip sempre foi um grande fã de polo e corridas de carruagem, um desporto que despertou o seu interesse aos 50 anos. “Gosto de vir aqui [a Sandringham] com os póneis porque conseguimos guiar por todo o lado e ir em direcções diferentes todos os dias”, disse durante o documentário The Duke: A Portrait of Prince Philip.

Quando o assunto são atividades náuticas a vela era o seu desporto de eleição. Nos tempos livres também gostava de pintar e jogar cricket.

Para além das questões ambientais e vida selvagem, a ciência, engenharia e a tecnologia são outros dos seus interesses. De acordo com a Casa Real, publicou alguns livros sobre estas temáticas.