“Isso tem ajudado bastante as crianças e está a facilitar a aprendizagem”, explica à Lusa, Américo Semente, professor na Escola Primária de Messica-sede, província de Manica.

Sentadas no chão ou em minúsculos bancos de troncos de árvore, no pátio da escola, as crianças de classes iniciais lançam britas em canecas, numa máquina improvisada para adição e multiplicação.

De um bidão amarelo são recortados números, de restos de caixotes de papelão nascem placas de um puzzle com letras.

O professor garante que, graças às brincadeiras, conseguiu fazer crescer o número de alunos que sabem ler, escrever e contar.

Outros docentes seguiram o exemplo e passaram a produzir os seus próprios materiais didáticos desde 2020 com recurso a papelão, bidões e sacos de ráfia, oferecidos pela comunidade, em substituição do material didático tradicional, que além de ser caro, era de pouca duração, referem.

Os professores reaproveitam assim o lixo da comunidade.

“Eu faço uma sopa de letras e junto sílabas e números” numa árvore falante, fazendo com que a criança “aprenda” em vez de apenas memorizar “uma letra ou um número”, diz Celestina Daniel, professora primária, numa turma animada da terceira classe.

“Dentro desta sopa de letras nós encontramos letras de máquina, que facilitam a leitura, e letras cursivas, que ajudam na escrita”, exemplificou.

O ensino com esta vertente lúdica é novo por estas bandas e o material didático local mostra-se crucial para a retenção no ensino de milhares de alunos de zonas recônditas de Messica.

Já assim foi quando as escolas foram encerradas, por causa da covid-19: as famílias não tinham meios para haver ensino à distância e o docente José Jambo transformou-se num professor ambulante, a levar as aulas ao domicílio.

“Quando chegava a casa dos alunos com esses materiais” havia quem considerasse ser “um exagero”, mas depois, “pais e encarregados concluíram que o material era importante” para a assimilação das matérias, disse à Lusa.

Teresa Faife, diretora da Escola Primária de Messica, disse à Lusa que com os professores a produzirem o seu próprio material didático as aulas são menos afetadas pelos défices orçamentais crónicos no setor público.

“Antes era normal o professor entrar na sala de aula sem material didático” e assim continua “durante um longo período”, às vezes porque durante um mês inteiro não havia papel ou marcadores.

A docente estima que o número de alunos que passou a chegar ao fim do ensino primário com domínio completo da leitura e da escrita, disparou de 20% para 75% num escola com 8.083 alunos.