São vários os pais que se sentem absolutamente absorvidos pelos filhos, como se, de repente, se apercebessem que os filhos parecem não ser capazes de fazer nada sem a sua presença. E, se por um lado, num primeiro olhar, isto faz uma mãe, ou um pai, sentir-se no centro do mundo daquela criança e encontrar um propósito valioso, por outro lado, isto torna-se absolutamente castrador para uma mãe, ou um pai, que de repente, sentem toda a sua energia absorvida por um filho.

Mas, afinal, porque é que algumas crianças parecem não ser capazes de tomar banho, dormir, fazer os trabalhos de casa, ou até brincar, sem a presença de um dos pais?

Aquilo que se passa é que, muitas vezes atrás desta ‘dependência parental’, está uma certa sensação de vazio e insegurança por parte de uma criança e, porventura, uma tendência à superproteção por parte dos pais. E, aí, a criança, tolhida pela insegurança, parece incapaz de estar sozinha e parece querer absorver toda a energia dos pais. É como se, para ter a certeza que os pais a protegem e, no limite, gostam dela, sentisse sempre uma necessidade da sua presença física.

Ora, quando a dependência parental assume proporções desta dimensão, quebrar o ciclo é essencial, quer para o correcto desenvolvimento da criança, quer para a estabilidade e bem-estar dos pais.

Nesta sequência, é essencial sermos capazes de sentir cada uma destas crianças, para lá desta necessidade constate de ter a presença física dos pais e analisar - por vezes, com apoio especializado - a origem desta dependência, tantas vezes aparentemente inexplicável.

Para além disso, os pais devem ter consciente que sempre que uma criança ‘treme’ de insegurança, precisa que os pais ajam com firmeza e afeto, e não que se deixem contaminar pela insegurança da criança.

Isto é, quando os pais - com todo o amor do mundo - se deixam contaminar pela insegurança da criança, agem em conformidade com o que a criança sente, ou seja, de forma absolutamente insegura. Acabando, por exemplo, por estar sempre presentes fisicamente e, isto, tende a  alimentar a ideia da criança de que, de facto, não pode estar segura sem a presença dos pais.

Por outro lado, sempre que os pais agem com firmeza e afeto, isto é, ouvem aquilo que a criança sente, dão colo ao vazio e à insegurança da criança, atribuindo-lhes um significado. E, depois, firmemente conseguem colocar um travão de forma a que a criança perceba que é capaz de estar sozinha, como quem lhe diz ‘eu sei que, mesmo que possas ter medo, consegues estar aqui a desenhar, enquanto eu preparo o jantar”. E, assim, de passo em passo, fortalecem a segurança da criança.

No fundo, aquilo que todos desejamos, é que à medida que uma criança cresce comece, gradualmente, a ser capaz de se tornar autónoma e segura de si própria. Uma criança autónoma e segura de si, será sempre uma criança mais capaz de encontrar soluções para as adversidades, de ser criativa perante momentos de frustração, de confiar em si e de dar espaço aos pais, confiando no seu amor e protecção, para lá da necessidade exacerbada da sua presença física.