Vulgarmente conhecido por chá verde, a infusão das várias partes da Camellia sinensis tem a sua origem na cultura chinesa, desde a dinastia Tang, no século VI. Desde então é conhecido pelos seus efeitos estimulantes a nível do sistema nervoso central e de melhoria da saúde em geral.

Teremos sido nós, os portugueses, os primeiros europeus a contactar com esta bebida em 1543 no Japão. Já no século XVIII, foi introduzido o seu cultivo na ilha de São Miguel, Açores. Terá sido Catarina de Bragança, princesa portuguesa que desposou Carlos II da Inglaterra, a responsável pela introdução desta bebida no Reino Unido, através da realização de Tea Parties entre as amigas.

Daqui advém igualmente a expressão “falta de chá” como a falta de algo que só as classes sociais mais abastadas poderiam adquirir.

Mas a verdade é que, nos tempos atuais, o acesso ao chá verde tornou-se democratizado - e ainda bem, pois tudo indica constituir o tão sonhado elixir para a juventude.

O envelhecimento é caracterizado pela alteração das ligações cruzadas das proteínas com menor renovação das mesmas e maior rigidez dos tecidos - ocorre, por exemplo, a reticulação do colagéneo.

Sabemos que o excesso de peso, o açúcar e o stresse oxidativo potenciam o envelhecimento dos tecidos. Rugas e flacidez da pele, doenças neurodegenerativas como o Alzheimer e depressão, aterosclerose, osteoartrite, cataratas, diabetes, doença renal - todas estas patologias são mais frequentes à medida que a idade avança.

A ciência tem-se debruçado, cada vez mais, sobre o modo como a nossa alimentação pode moldar a forma como envelhecemos.

Vários estudos têm verificado que vitaminas antioxidantes (sobretudo a C e a E) são capazes de diminuir o envelhecimento do colagénio, de forma independente dos níveis de açúcar e do peso corporal.

Os ingredientes poderosíssimos do chá verde

Em 2013, a investigadora americana Kathryn Rutter e a sua equipa, verificaram que o extrato de chá verde conseguia combater o envelhecimento do colagénio.

O chá verde contém 5 ingredientes poderosíssimos: catequinas (90%), aminoácidos, cafeína, vitaminas e sais. O chá verde japonês Kawanecha, após preparado de forma Sen-cha típica (primeira infusão de 1 minuto a 90 ° C), contém 13 g de catequinas, 2,3 g de cafeína, 250 mg de vitamina C e 65,4 mg de vitamina E por cada 100 g de folhas de chá.

As propriedades antioxidantes das catequinas (da família dos polifenóis) chegam a ser duas a quatro vezes mais potentes do que as vitaminas C e E. Os seus efeitos benéficos contra o cancro, as doenças inflamatórias, a aterosclerose e a catarata estão comprovados cientificamente.

Mais recentemente, em 2019, Rothenberg e a sua equipa publicaram na revista científica Nutrients uma investigação onde postulam que o consumo regular do chá verde oferece efeitos anti-inflamatórios e consegue modular de forma eficaz a dopamina (hormona do prazer) e o eixo intestino-cérebro, com uma redução coletiva no risco de depressão. Além disso, vários estudos têm comprovado o seu efeito benéfico a nível das doenças neurodegenerativas, inclusive no Alzheimer.

Mas os benefícios não se ficam por aqui - o chá verde também parece combater o envelhecimento e as doenças da pele. A Camellia sinensis, pelo seu alto teor em polifenóis (propriedades antimicrobianas, anti-inflamatórias e anticancerígenas), consegue após ingestão oral ou uso tópico, regular a produção de sebo pelas glândulas sebáceas da pele e ajudar no controlo da acne, prevenir o risco de queimadura solar e até mesmo diminuir os danos oxidativos da radiação ultravioleta A (UV-A) e B (UV-B), revertendo estádios iniciais de cancro cutâneo. O chá verde consegue aumentar a elastina da pele e suprimir a degradação do colagénio, ou seja, apresenta um comprovado efeito antirrugas.

Finalmente, os polifenóis (catequinas) do chá verde conseguem induzir a autofagia, isto é, a eliminação pelo próprio individuo, de moléculas envelhecidas e com informação errada, muitas vezes implicadas nas doenças cardíacas ou nos cancros.

Em resumo, a ingestão crónica e a aplicação tópica de chá verde, conduzem ao atraso generalizado no processo de envelhecimento e estimulam o prolongamento da vida.

Portanto, o elixir para a juventude pode bem ser produzido há mais de dois séculos no nosso belíssimo país, no centro do Atlântico, em São Miguel. Posto isto, hão há desculpas para falta de chá!

Artigo da Dra. Sofia Santareno, Cirurgiã Plástica do Board Europeu e Diretora Clínica da The Dr. Pure Clinic. 

Dra. Sofia Santareno, Cirurgiã Plástica do Board Europeu e Diretora Clínica da The Dr. Pure Clinic.
Dra. Sofia Santareno, Cirurgiã Plástica do Board Europeu e Diretora Clínica da The Dr. Pure Clinic. créditos: The Pure Clinic