A MedicineOne nasceu na área dos Cuidados de Saúde Primários mas cedo avançou para os demais níveis de cuidados de saúde, particularmente o hospitalar. Ao mesmo tempo, a empresa preparou-se para a prestação de cuidados de saúde à distância tendo criado soluções simples que quebraram as barreiras impostas pela pandemia da COVID-19. Após alguns anos a investir nas soluções digitais para suportar os telecuidados, a MedicineOne estava pronta para oferecer ao mercado a importante solução de teleconsulta, exatamente na primeira semana em que Portugal iniciava o primeiro confinamento. Em entrevista ao HealthNews, João Miguel Domingues fala do percurso já feito e do muito que ainda falta percorrer

HealthNews – Caracteriza-se como uma pessoa orientada para ajudar os profissionais de saúde a alcançar todo o seu potencial. E fá-lo através do desenvolvimento de tecnologias de apoio. Como e quando surgiu este seu gosto pela saúde?

João Miguel Domingues (JMD) – Sou por natureza uma pessoa curiosa e que gosta de aprender. Por motivos profissionais e, também por gosto pessoal, acompanho desde a minha juventude os principais avanços e as novas tendências de tecnologia aplicadas à saúde. A saúde tem conhecido grandes avanços graças à relação sua próxima com outras ciências como as engenharias, a química, etc. Este trabalho conjunto tem permitido avanços incríveis que permitem diagnosticar doenças mais cedo, tratá-las mais rapidamente e aumentar a esperança e qualidade de vida das pessoas.

HN – Quando é que percebeu que poderia utilizar os seus conhecimentos e a sua formação na área da informática em prol da área da saúde?

JMD – Na década de 80 quando em Portugal não existiam referências ou projetos idênticos ao nosso e percebi que o setor da saúde em Portugal carecia de inovação. Para mim era clara a ideia de que unir medicina e tecnologia iria trazer ganhos importantes. Soluções dotadas de sistemas de inteligência clínica ditam a diferença na atuação dos médicos, ajudando-os a identificar riscos e a decidir melhor perante a realidade única de cada pessoa.

HN – A MedicineOne foi criada em 2003. No entanto, as suas origens remontam a 1988, altura em que começou a trabalhar no projeto. Conte-nos um pouco desta história. Como surgiu o projeto inicial e de que forma se desenvolveu, depois, para a criação da MedicineOne?

JMD – Na verdade, o início do projeto remonta a 1988, sem grande pretensão empresarial. Em Portugal, nos anos 80, assistia-se, à chegada dos primeiros computadores pessoais e não existiam, como já aqui referi, projetos idênticos ao nosso. Fomos a primeira empresa a disponibilizar no país este tipo de serviço. Entrar cedo no mercado foi um grande desafio pois a comunidade médica não estava ainda desperta para a importância do uso da tecnologia na sua prática diária.

Já na década de 2000, o desejo de avançarmos para a internacionalização levou-nos a mudar o nome da empresa, que até então se chamava “Ideias Sem Fim”.

Durante a primeira década concentrámo-nos no investimento em tecnologia e no desenvolvimento do produto. Foi preciso conquistar a comunidade médica e fazer ver-lhe a nossa importância no apoio clínico para a eficácia do trabalho médico.

Em 2008 tínhamos uma equipa de 13 pessoas e faturávamos 400 mil euros por ano. Em 2014 éramos 60 pessoas, tínhamos escritórios em Portugal e no Brasil e faturámos um pouco mais de dois milhões. Em 2021 a nossa equipa tem mais de 80 pessoas e vamos faturar cerca de 5.5 milhões de euros.

Nos últimos anos temos feito um grande investimento para alargar o âmbito de ação da nossa solução para cobrir as áreas hospitalares, de cuidados continuados e de saúde ocupacional. Pretendemos oferecer uma plataforma de trabalho que cubra toda a jornada do doente e apoie os profissionais em cada momento dessa jornada.

HN – Qual o balanço que faz destes 18 anos de MedicineOne?

JMD – O balanço é muito positivo. Aprendemos muito e transformámos essa aprendizagem em boas ferramentas que nos permitiram conquistar um lugar de referência no mercado nacional. Estes 18 anos foram cheios de lutas, de sucessos e fracassos. Nesta longa maratona tivemos a capacidade de nos reinventar, preservando os valores que nos inspiram desde os primeiros dias, entre os quais, o foco nas pessoas, o espírito de serviço, a inovação orientada ao bom desempenho dos profissionais, a transparência e a melhoria contínua.

HN – Nos últimos cinco anos, o crescimento tem sido mais marcado, correto? A que se deve?

JMD – Sim. A MedicineOne nasceu na área dos Cuidados de Saúde Primários. No entanto, percebemos há muito que a nossa solução necessitaria de cobrir as restantes áreas da prestação de cuidados, em especial a área hospitalar. O alargamento do âmbito das nossas soluções, permitiu-nos um crescimento mais sólido e rápido. Ao mesmo tempo, preparámo-nos para a prestação de cuidados de saúde à distância e criámos soluções simples que quebraram as barreiras impostas pela pandemia da COVID-19. É interessante que, após alguns anos a investir nas soluções digitais para suportar os telecuidados, estávamos prontos para oferecer ao mercado a importante solução de teleconsulta, exatamente na primeira semana em que Portugal iniciava o primeiro confinamento. A pandemia confirmou a nossa visão de que os telecuidados viriam a desempenhar um papel importante para garantir maior acessibilidade e disponibilidade dos cuidados.

Neste último ano e meio, o mundo da saúde percebeu com maior clareza a relevância que os sistemas de informação e a tecnologia podem ter no bom funcionamento das unidades de Saúde.

Hoje mais do que nunca, o utente deseja estar no centro dos processos e ter ao seu dispor um atendimento personalizado que lhe garanta a melhor experiência em cuidados de saúde, sejam eles presenciais ou através de teleconsultas realizadas numa aplicação de telemóvel.

HN – Quantas unidades de saúde em Portugal têm soluções MedicineOne e são utilizadas por quantos profissionais de saúde?

JMD – O alcance da MedicineOne é crescente, especialmente na área privada. As nossas soluções são usadas diariamente por cerca de 30.000 profissionais de saúde, sendo quase metade deste número, médicos. Servimos uma população de quase 7 milhões de pessoas que têm o seu processo clínico detalhado nas nossas soluções. A nossa presença mais forte é na área privada onde temos como clientes os principais grupos de saúde como a Luz Saúde, Lusíadas Saúde, CUF, grupo Sanfil e outros. Temos também alguns milhares de clientes de pequena dimensão que usam o My M1, a versão simplificada do M1, residente na cloud. O M1 é usado ainda no SNS no continente (Unidades de Saúde Familiar) e na Região dos Açores onde toda a rede de unidades de cuidados primários é gerida pelo M1.

Já em Cabo Verde somos responsáveis pela informatização global do SNS, cinco hospitais, 35 unidades de cuidados primários e utilizados por 4.000 profissionais e servindo toda a população do país. A nossa carteira de clientes tem crescido significativamente o que nos motiva muito a continuar a evoluir e a inovar.

HN – De que forma a MedicineOne apoiou/apoia as unidades de saúde durante a pandemia covid-19?

JMD – O nosso esforço em ajudar as unidades de saúde é permanente. Nesta fase especialmente difícil, destaco a capacidade de realização de teleconsultas. Numa altura em que as unidades foram obrigadas a reduzir muito a sua atividade, a teleconsulta revelou-se uma ferramenta essencial no acesso aos cuidados de saúde. Ajudou milhares de utentes nacionais e estrangeiros a receberem cuidados que de outra forma, não tinham sido prestados.

HN – Projetos para o futuro?

JMD – O nosso objetivo principal é continuar a desenvolver soluções de software que sejam determinantes no desempenho dos profissionais de saúde. Pretendemos ter um papel cada vez mais relevante no momento das decisões críticas e ser um apoio eficaz na formação contínua dos médicos, disponibilizando os melhores e mais relevantes conteúdos de evidência clínica dentro da nossa solução. Temos também um grande foco na área da Value Based Healthcare, um novo modelo, essencial para ajudar a resolver alguns dos desafios que a saúde enfrenta. Ambicionamos continuar a competir internacionalmente e vir a ser reconhecidos como a melhor solução de gestão clínica mundial.

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