No âmbito do Dia Mundial da Alimentação, que se assinala a 16 de outubro, José Presa, presidente da Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado (APEF), falou ao Healthnews da importância da mesma no que respeita à prevenção e ao tratamento da esteatose hepática, doença mais conhecida como fígado gordo. O especialista lembra que se trata de uma patologia prevenível e reversível nas suas fases iniciais e que tudo passa pela alimentação, a par do exercício físico e ausência de consumo de bebidas alcoólicas.

A APEF está a lançar uma campanha, que pretende consciencializar a população para esta doença e para o facto de a alimentação saudável ser fundamental na sua prevenção e controlo.

Healthnews (HN) – A esteatose hepática é uma das doenças do fígado mais frequentes e que, aliás, tem vindo a aumentar, correto? Em que consiste esta doença e quais as suas causas?

José Presa (JP) – Correto, estima-se que um terço da população adulta em Portugal tenha esteatose hepática, ou seja, mais de 3 milhões de pessoas.

Mais conhecida por fígado gordo, a esteatose hepática é a acumulação de gordura nas células do fígado, que resulta da sua ingestão em excesso, de modo que o organismo não a consiga processar.

Considera-se que o fígado é gordo quando a gordura corresponde entre 5 a 10 por cento da massa do fígado. Pode ser uma situação simples, que não cause lesão do fígado, ou, pelo contrário, pode evoluir para inflamação do tecido deste órgão, podendo levar ao comprometimento da sua função e a formas graves da doença, como cirrose hepática ou cancro do fígado.

Como causas da esteatose hepática é de destacar a sua relação direta com os excessos da alimentação “moderna” e o estilo de vida sedentário. Esta doença está ligada a casos de obesidade, diabetes e a situações que levam ao aumento de gordura no sangue. Outra causa, não menos importante, é o consumo excessivo de álcool.

HN – Podemos então deduzir que estamos a falar de uma doença cuja prevenção é possível?

JP – Sim e a sua prevenção passa essencialmente pela adoção de uma alimentação saudável, com menor consumo de gorduras e hidratos de carbono, em especial pelo abuso do consumo de alimentos processados e promover a maior ingestão de vegetais e uma redução nos consumos de bebidas alcoólicas.

Aliás, a Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado está a lançar uma campanha, no âmbito do Dia Mundial da Alimentação, que se assinala a 16 de outubro, com o objetivo de consciencializar a população para a importância de uma alimentação saudável como forma de prevenção do fígado gordo. Mas não é só: uma alimentação saudável previne uma série de outras doenças graves, hepáticas ou não.

Além disso, e voltando ao assunto do fígado gordo, é de lembrar que, além da alimentação e do consumo moderado de álcool, é também fundamental fazer atividade física regular.

HN – Quais os sinais e os sintomas da esteatose hepática?

JP – Na maior parte das vezes, sobretudo no início, é uma doença que não apresenta sintomas. Contudo, não podemos esquecer que pode ter consequências na função do fígado, que é um órgão essencial.

Em alguns casos, pode provocar cansaço e dor ou desconforto no quadrante superior direito do abdómen. Outras manifestações possíveis são a perda de apetite, náuseas e vómitos, icterícia, febre e ascite, isto é, a distensão do abdómen por acumulação de líquido nas formas graves e avançadas de doença.

Idealmente, todas as pessoas devem consultar o seu médico assistente frequentemente e fazer exames diagnósticos de rotina, por forma a detetar a esteatose hepática precocemente ou qualquer outra entidade. Depois da prevenção, um diagnóstico precoce é essencial para que se possa tratar a doença atempadamente, evitando que avance e se torne numa situação mais grave.

HN – Como é feito o tratamento do fígado gordo?

JP – A alimentação tem um papel essencial também no que diz respeito ao tratamento. Não existe nenhuma terapêutica específica nem medicamentos eficazes para o tratamento da esteatose hepática, pelo que uma dieta equilibrada é fundamental, tendo em vista a perda de peso na ordem de 10% e o controlo das doenças associadas, como a diabetes e as alterações do colesterol e dos triglicéridos. Tal como já referi, evitar o consumo de bebidas alcoólicas e praticar exercício físico regular é igualmente importante.

Apesar de poder ter consequências graves nas suas formas mais avançadas, ao início o fígado gordo é reversível e é até prevenível. A alimentação é essencial na prevenção e no tratamento do fígado gordo e é importante que a população em geral esteja consciente deste facto e seja educada nesse sentido.