De acordo com uma página na rede social Facebook criada pelo Movimento de Desobediência Civil, que conta com 150 mil subscritores, médicos, dentistas, enfermeiros e trabalhadores de 74 hospitais e centros de saúde em mais de 30 cidades juntaram-se à mobilização.

A convocatória foi lançada um dia antes por um grupo de médicos da cidade de Mandalay, no norte do país, defendendo que o pessoal de saúde não deveria trabalhar para um “governo golpista”.

“Vamos protestar pacificamente com uma campanha de desobediência civil a partir de 03 de fevereiro e fazemos um apelo aos restantes médicos para que se juntem ao protesto contra o Governo”, podia ler-se no texto, assinado por funcionários de um hospital pediátrico na capital, Naypyidaw.

“Obedeceremos unicamente ao nosso Governo eleito democraticamente”, escreveram os profissionais de saúde na declaração comum. “Deixaremos de ir trabalhar nos hospitais que se encontram agora sob uma autoridade militar ilegítima”, acrescentaram.

O Movimento de Desobediência Civil foi iniciado por um grupo de ativistas, Yangon Youth Network, “como resposta imediata” ao golpe.

A greve segue-se ao protesto de dezenas de pessoas ao som de buzinas e panelas, em vários bairros da capital, Naypyidaw, na noite de terça-feira, durante o qual se ouviram apelos à libertação da líder de facto do país, Aung San Suu Kyi, detida pelo Exército na segunda-feira.

Em resposta, o Ministério da Informação publicou um comunicado avisando os órgãos de comunicação e os cidadãos para não difundirem “rumores nas redes sociais” ou “incitarem distúrbios”.

Os militares começaram a levantar as restrições à circulação dos 400 deputados que se encontravam em detenção domiciliária numa residência do Governo, tendo-lhes sido permitido regressar a casa, disse um porta-voz do partido de Aung San Suu Kyi, a Liga Nacional para a Democracia (LND).

As detenções e o golpe de Estado militar ocorreram horas antes de o parlamento eleito nas anteriores eleições iniciar a sua primeira sessão.

O Exército de Myanmar declarou na segunda-feira o estado de emergência e assumiu o controlo do país durante um ano, após a detenção de Aung San Suu Kyi, do Presidente do país, Win Myint, e de outros líderes governamentais.

Myanmar emergiu há apenas 10 anos de um regime militar que estava no poder há quase meio século.

Para justificar o golpe de Estado, imediatamente condenado pela comunidade internacional, os militares asseguraram que as eleições legislativas de novembro passado foram marcadas por “enormes irregularidades”, o que a comissão eleitoral nega.

Os militares evocaram ainda os poderes que lhes são atribuídos pela Constituição, redigida pelo Exército, permitindo-lhes assumir o controlo do país em caso de emergência nacional.

O partido de Aung San Suu Kyi, que está no poder desde as eleições de 2015, venceu por larga maioria as eleições de novembro.

A vitória eleitoral de Suu Kyi, Prémio Nobel da Paz 1991, demonstrou a sua grande popularidade em Myanmar, apesar da má reputação internacional pelas políticas contra a minoria rohingya, a quem é negada a cidadania e o voto, entre outros direitos.