Coordenado pela investigadora do Comprehensive Health Research Centre da Universidade de Évora (UÉ) Lara Guedes de Pinho, o “Treino Metacognitivo Para Pessoas Mais Velhas com Depressão (MCT-Silver)” pretende colmatar a falta de respostas não farmacológicas do Serviço Nacional de Saúde (SNS) para esta questão.

O objetivo do programa, segundo Lara Guedes de Pinho, é “capacitar os participantes para reconhecerem e corrigirem os seus padrões de pensamento automáticos e disfuncionais e o comportamento”, uma estratégia que já está a ser aplicada na Alemanha com “resultados muito positivos”.

“As pessoas com depressão tendem a focar-se em tudo aquilo que é negativo e ignoram o que é positivo”, explicou a professora do Departamento de Enfermagem da UÉ.

Nesse sentido, após a realização de uma avaliação individual dos pacientes e de um conjunto de exercícios realizados pelo terapeuta, ocorre um momento de partilha entre todos os participantes do programa.

A coordenadora destacou o impacto “de poder haver esta partilha e de os participantes se identificarem também com os sentimentos de outros e perceberem que não estão sozinhos, que não são os únicos que têm aqueles sintomas”.

De acordo com Lara Guedes de Pinho, “muitas vezes é a depressão que leva à dependência” das pessoas idosas e não a doença física.

Por exemplo, “a pessoa que fratura o colo do fémur e precisa de reabilitação após a operação, se tiver depressão, não vai ter motivação nenhuma” para reabilitar-se, ou seja, tem capacidade física para o fazer, “mas a depressão faz com que não tenha motivação nem vontade”.

“Não foi a capacidade física que a impediu de voltar a ser independente, mas a capacidade mental e o facto de não ter vontade para a sua recuperação. Isto acontece com muitas patologias em que há possibilidade de reabilitar, mas a parte mental não permite. É isto que falta olhar no tratamento e reabilitação da pessoa. Temos de dar este passo”, apontou.

Segundo o ‘site’ da Organização Mundial de Saúde, a depressão afetava, em 2021, pelo menos 5,7% das pessoas com mais de 60 anos, números que serão “inferiores à realidade”, uma vez que “muitas vezes a depressão não é logo diagnosticada” e os valores “aumentaram com a pandemia” de covid-19.

A agravar o problema, sublinhou a investigadora, o SNS “tem muito poucas respostas não farmacológicas” para este problema e a solução passa, “por norma”, pela prescrição de antidepressivos sem qualquer intervenção complementar.

“Portanto, este treino metacognitivo é uma das estratégias para vir a colmatar este problema. Já se iniciou no Hospital Garcia de Orta e pretendemos implementar também noutros hospitais do SNS”, frisou.