Afeta cerca de 15% das crianças portuguesas e, por norma, manifesta-se bastante precocemente. Na maioria delas, surge mesmo antes dos cinco anos. Trata-se de uma doença crónica que, consequentemente, se reflete em várias áreas da vida da criança, condicionando-a em termos de atividade física, do bem-estar psíquico e emocional e também do sucesso escolar. Por isso, é imprescindível que seja diagnosticada e tratada o mais cedo possível, evitando, assim, agudizações e interferência na qualidade de vida.

Identificada atempadamente, não avança, à partida, para formas mais graves com alterações, muitas vezes, irreversíveis. A asma é uma doença inflamatória crónica das vias aéreas que provoca episódios recorrentes de pieira, dificuldade respiratória (dispneia), opressão torácica e tosse. É uma das doenças crónicas mais frequentes na criança. Normalmente, através dos seus sintomas, é fácil reconhecê-la. "No entanto, nas crianças pequenas, não é assim tão identificável", afirma Ana Margarida Neves.

"Uma vez que algumas crianças podem não apresentar as manifestações habituais da doença, pode confundir-se com as vulgares bronquiolites, podendo cursar com febre ou ter apenas tosse espasmódica noturna e matutina ou ainda cansaço após esforços físicos", adverte a pediatra e imunoalergologista infantil. Os sintomas tanto podem surgir esporádica e intermitentemente como serem quase permanentes, com uma intensidade que pode ser ligeira, moderada ou grave, como sucede nalguns casos.

Como se manifesta?

Em resposta a vários estímulos, nomeadamente a ação de agentes alergénios ou irritantes, as vias aéreas das crianças asmáticas tornam-se mais estreitas e inflamadas e provocam sintomas como a tosse, uma sensação de aperto no peito ou uma pieira, marcada por uma chiadeira ou assobios na respiração. Falta de ar é outra das manifestações da asma infantil.

O que desencacadeia as crises?

As crises de asma podem ser desencadeadas ou agravadas por estímulos específicos (alergénios) ou inespecíficos. Dentro dos estímulos específicos, alergénios que provocam sintomas nas crianças alérgicas, mas não nas não-alérgicas, os mais frequentes são os ácaros do pó, os pelos dos animais, os pólenes das plantas, os bolores e, nalguns casos, determinados alimentos.

Quanto aos estímulos inespecíficos, aqueles que desencadeiam ou agravam os sintomas de asma, tanto nas crianças alérgicas como nas não-alérgicas, são de destacar as infeções víricas e os agentes irritantes, cheiros ativos como os dos perfumes, dos vernizes, das tintas, dos vapores de cozinhados, do pó de talco e/ou dos poluentes atmosféricos. O fumo do tabaco, as alterações climatéricas, a prática de exercício físico, o refluxo gastroesofágico e a sinusite também as podem desencadear.

Como prevenir?

A forma mais adequada de prevenir a asma nas crianças é evitando a sua exposição aos estímulos que a provocam, nomeadamente aos agentes irritantes referidos anteriormente, ao fumo do tabaco e aos ácaros, a pelos e penas de animais e a determinados alimentos. "Também é recomendável prolongar o aleitamento materno porque reforça o sistema imunitário e atrasa o contacto com alergénios alimentares", aconselha a pediatra e imunoalergologista infantil.

Depois de diagnosticada a doença, é possível controlar os seus sintomas. Mas, para isso, é preciso haver uma interligação grande entre os familiares e os profissionais de saúde. Apesar de não poder ser curada em definitivo, a asma pode e deve ser controlada. Assim, é possível dar às crianças asmáticas o bem-estar de que precisam para terem uma vida perfeitamente normal.

Como se diagnostica?

É essencial consultar de imediato um especialista. "Aos primeiros sintomas, os pais devem levar o seu filho ao médico de família que, consoante os resultados da sua avaliação, o referenciará para uma consulta de alergologia infantil", esclarece a pediatra Ana Margarida Neves. Aqui, para além da história da doença e de um exame físico da criança, são realizados vários exames, como testes cutâneos, para verificar a que alergénios a criança é alérgica ou o estudo da função respiratória.

Esse exame de diagnóstico tanto pode ser realizado com um aparelho muito simples chamado peak flow meter na terminologia anglo-saxónica ou com recurso a um outro, mais complexo, que serve para avaliar o grau de broncospasmo dos brônquios. Sempre que necessário, também são indicados exames analíticos ao sangue e às fezes. O especialista também pode solicitar a realização de exames radiológicos.

Como tratar?

O tratamento depende da gravidade e da natureza da doença, mas é essencial para controlar e aliviar os seus incómodos sintomas e para evitar crises mais graves. Existem vários medicamentos para a asma que só podem ser receitados pelo médico. Será ele a determinar as doses indicadas e a forma de administração, que pode ser feita através de inaladores, aerossóis e/ou medicação oral. "Também há vacinas, aplicáveis quando o agente que provoca a alergia é determinado e a doença o justifica", esclarece a médica.

Texto: Madalena Alçada Baptista com Ana Margarida Neves (pediatra e imunoalergologista infantil)