Este impacto do exercício físico na saúde reflete-se principalmente no sistema cardiovascular, mas também é evidente a nível respiratório, endocrinológico, músculo-esquelético, psicológico, neurológico, oncológico, entre outros.

No que respeita ao sistema cardiovascular, o exercício físico associa-se a redução da mortalidade e de eventos agudos como o acidente vascular cerebral e o enfarte agudo do miocárdio. Esta proteção decorre fundamentalmente pela capacidade do exercício impedir o desenvolvimento ou o descontrolo de alguns fatores de risco cardiovascular, tais como a hipertensão arterial, a dislipidemia e a diabetes.

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A regras dos 150 minutos

Neste contexto, a prática de exercício físico constitui uma das recomendações para a prevenção da doença cardiovascular, sendo aconselhada a prática de 150 minutos por semana de exercício de intensidade moderada ou 75 minutos de intensidade elevada. Estas recomendações tem como principal alvo a população geral, com ou sem fatores de risco cardiovascular.

No entanto, nos indivíduos com antecedentes de eventos cardiovasculares (ex. enfarte agudo do miocárdio), o exercício físico também constitui uma intervenção essencial para melhorar o prognóstico.

Nestes casos de prevenção secundária, sobretudo na fase aguda após eventos cardiovasculares, o exercício deve ser prescrito de forma individualizada e enquadrado em programas multidisciplinares de reabilitação cardíaca, facto com impacto favorável comprovado.

Avaliação médica essencial

A evidência crescente dos benefícios do exercício e a maior acessibilidade e diversidade de atividades tem levado ao aumento crescente do número de praticantes de desporto, tanto em nível recreativo como competitivo. Esta tendência é muito positiva, mas do ponto de vista médico pode acarretar ‘novos’ desafios e ‘novos’ problemas.

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A avaliação médica prévia ao início da prática de exercício físico é essencial. Se no desporto federado existem regras e metodologias definidas e obrigatórias, na maioria dos ‘atletas’ da atualidade, aqueles que praticam desporto em nível recreativo, esta realidade é muito diferente.

Esta problemática assume uma maior preponderância nos atletas ‘veteranos’, visto muitos iniciarem exercício apenas na meia idade, já com fatores de risco cardiovasculares, frequentemente descontrolados, sem avaliações médicas prévias regulares e cada vez mais, envolvidos em atividades desportivas caracterizadas por elevada intensidade.

Importa realçar que em indivíduos suscetíveis - com risco cardiovascular elevado ou portadores de algumas doenças cardíacas - o exercício pode despoletar eventos clínicos graves incluindo morte súbita.

Neste âmbito, a avaliação prévia é fulcral para identificar os indivíduos com risco elevado. A metodologia a adotar dependerá das características do atleta, do tipo de exercício e objetivos pretendidos. Nos atletas ‘veteranos’, como a doença coronária é a principal causa de morte súbita, esta metodologia deverá focar-se na deteção desta doença numa fase precoce (pré-clínica), daí ser frequentemente realizada uma prova de esforço.

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Por outro lado, nos jovens (<35 anos), como as principais causas de morte súbita são doenças cardíacas hereditárias, a prova de esforço não é essencial, sendo mais relevantes além da avaliação clínica, o eletrocardiograma e eventualmente o ecocardiograma transtorácico.

Dose de exercício prejudicial?

Um aspeto ainda mal esclarecido e controverso, mas na ordem do dia, é a potencial existência de uma ‘dose’ de exercício a partir da qual possa ser prejudicial.

Apesar desta hipótese necessitar de comprovação, são já conhecidos alguns ‘efeitos adversos’ cardíacos induzidos pelo exercício extremo, nomeadamente o desenvolvimento de fibrilhação auricular, disfunção do ventrículo direito, fibrose miocárdica e até doença coronária.

O racional desta relação poderá fazer sentido, visto como em qualquer terapêutica, se a dose for inferior à recomendada não terá o efeito desejado, mas se for superior poderá originar efeitos adversos.

Lembre-se

  1. O exercício físico associa-se a múltiplos benefícios cardiovasculares, incluindo o aumento da sobrevida e a redução de eventos clínicos graves.
  2. A avaliação prévia à prática regular de exercício físico é essencial para estratificar o risco cardiovascular e diagnosticar doenças ‘ocultas’.
  3. A maioria das pessoas com o diagnóstico de algumas doenças cardíacas podem realizar exercício físico, mas este deve ser individualizado e devidamente prescrito por profissionais diferenciados.

 As recomendações são do médico Hélder Dores, cardiologista na Corclínica.