Uma situação que se deve às más condições do estabelecimento de ensino, com infiltrações, falta de isolamento térmico, entre outras, e que se arrasta “há anos”.

Agora, em plena pandemia de covid-19, o problema só se agravou porque “as janelas e portas têm de estar abertas”, para arejar as salas, relataram à agência Lusa vários estudantes.

Com um saquinho na mão, tal como diversos dos colegas e dentro do qual se vislumbra uma mantinha, Maria Vitoriano, de 12 anos, explicou à Lusa que este acessório faz parte do material que leva para a escola, quando o frio “aperta”.

“Na minha escola anterior não tinha este frio. Mas, quando vim para esta, deduzi logo que tinha que trazer mantas”, disse, realçando que a sua mãe, antiga aluna da mesma escola, lhe contou que, na sua altura, “também tinha frio e já havia rachadelas nas paredes”.

Mesmo com a manta para a aquecer, nas aulas, Maria nem tira as luvas, senão torna-se “difícil” escrever: “Temos que escrever com luvas, só que o lápis escorrega”.

Dificuldades partilhadas pelos cerca de 200 alunos desta escola alentejana que hoje, ao início da manhã, com uma temperatura a rondar os zero graus, protestaram contra as más condições do estabelecimento de ensino e o frio que, nestes dias mais gelados e de janelas abertas, sentem nas aulas.

“Sala gelada, cabeça parada” ou “Para estarmos ao frio, estamos na rua” foram alguns dos cartazes exibidos pelos jovens, de turmas desde o 7.º ao 12.º anos, enquanto gritavam “Estudantes unidos, jamais serão vencidos”.

Nesta escola há dois anos, Patrícia Ferro, de 17 anos, já sabe o que “a casa gasta” e, por isso, o frio que se faz sentir mais intensamente desde há dias não a apanha desprevenida. Mas nada resolve.

“Costumo trazer gorro, luvas, às vezes três ou quatro blusas, por vezes térmicas, e até pijama, calças e collants ou três pares de meias e casaco. Muita roupa, para não passar tanto frio, mas mesmo assim tenho frio”, indicou, embrulhada numa manta polar.

A concentração dos alunos, enquanto estão nas aulas, “é em estarmos quentinhos, não em trabalhar”, relatou, frisando que, este ano, “por causa da pandemia, ainda é pior, porque tem que abrir as janelas e portas para arejar a sala”.

“Queremos que melhorem a escola, pelo menos o mínimo, para termos melhores condições e conseguirmos escrever, sem os dedos gelarem”, reclamou, criticando: “Para outras escolas houve milhões, para nós nem um euro”.

Depois de cerca de uma hora de protesto, inclusive com a adesão de alguns professores que também se concentraram no exterior, os alunos rumaram até à Câmara de Serpa, onde uma delegação da associação de estudantes foi recebida pelo executivo.

Cá fora, quando chegaram aos Paços do Concelho, o vice-presidente do município, Carlos Alves, dirigiu-se aos estudantes e transmitiu-lhes a solidariedade da autarquia, sugerindo que a iniciativa deveria ter decorrido “junto ao Ministério da Educação, em Lisboa, porque esta obra é responsabilidade do Governo”.

O autarca assegurou, contudo, que o município “vai avançar com o projeto da obra” enviado pelo Governo e que, agora, vai ter de ser adaptado a esta escola e candidatado a fundos comunitários.

“Estamos a falar com o ministério há anos sobre esta escola, já devia estar feita”, afirmou Carlos Alves.

Francisco Oliveira, diretor do Agrupamento de Escolas N.º 2 de Serpa, onde este estabelecimento se insere, lembrou que há anos que faltam obras e também um acordo entre o Ministério da Educação e a câmara.

“Sempre que as condições climatéricas são complicadas, os miúdos é que pagam dentro das salas de aulas. Nunca se chegou a acordo e nós é que vamos ‘pagando as favas'”, frisou o diretor.