Os médicos tinham estimado anteriormente que a idade gestacional para que um bebé pudesse ser considerado viável fora do útero era de 28 semanas, altura em que pesam cerca de um quilo. Os bebés são considerados prematuros quando nascem antes de 37 semanas de gravidez.

Mas ao longo dos últimos 40 anos, esse limite de 28 semanas tem caído constantemente, e agora, alguns bebés nascidos com 24, 23 ou até 22 semanas (medidas pela última menstruação das mães) conseguem sobreviver, mesmo pesando meio quilo ou menos.

Um bebé japonês que pesava apenas 268 gramas quando nasceu com 24 semanas foi manchete em fevereiro: estava a ir para casa de boa saúde depois de cinco meses no hospital.

"Estou neste meio há 40 anos e vi o limiar da viabilidade recuar uma semana a cada cerca de 10 anos", disse à AFP Edward Bell, neonatologista do Hospital Infantil da Universidade de Iowa.

Japão. Bebé que nasceu com 268 gramas deixa o hospital ao fim de cinco meses
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A Suécia detém o recorde mundial de viabilidade neonatal precoce: 77% dos bebés nascidos entre as 22 e as 26 semanas, entre 2014 e 2016, sobreviveram por, pelo menos, um ano, comparativamente com 70% cerca de 10 anos antes, segundo um estudo publicado esta terça-feira no Journal of the American Medical Association (JAMA).

Nestes 10 anos, a Suécia padronizou os seus procedimentos para suporte avançado à vida neonatal: intubação imediata após o nascimento, administração de medicamentos e uma transferência rápida para uma unidade de terapia intensiva neonatal (UTIN).

Atualmente, quase 90% dos nascimentos na Suécia acontecem em um dos seis hospitais do país que possuem UTINs de primeiro nível.

"Antes, para um bebé nascido às 22 ou 23 semanas, um médico poderia dizer que não vale a pena fazer nada", disse Mikael Norman, coautor do estudo sueco e neonatologista do Hospital Universitário Karolinska, em Estocolmo.

Para bebés com menos de 22 semanas, a taxa de sobrevivência melhorou de 3,6% para 20% na última década, e para os nascidos com 26 semanas, oito em cada 10 sobrevivem.

Desde a década de 1990 houve três grandes avanços médicos no esforço de melhorar a sobrevivência de prematuros.

Os surfactantes artificiais ajudam a manter os pulmões dos bebés pouco desenvolvidos inflados quando eles expiram, enquanto as injeções de esteróides nas mães imediatamente antes do nascimento podem acelerar o desenvolvimento dos pulmões fetais, aumentando em um dia o que poderia levar uma semana, e técnicas de ventilação mecânica aperfeiçoadas também ajudam os bebés prematuros.

Essas técnicas estão amplamente disponíveis nos países desenvolvidos, mas ainda existem disparidades significativas, de país para paísm, e até mesmo entre vários hospitais.

Na Grã-Bretanha, França e Estados Unidos, cerca de metade dos bebés extremamente prematuros (menos de 26 ou 27 semanas) sobrevivem, segundo estudos realizados nos últimos anos.

Nos EUA, o sistema de saúde está repleto de desigualdades. Outro estudo publicado no JAMA mostra que a segregação racial geográfica no país se manifesta nos cuidados de saúde, uma vez que os prematuros negros têm maior probabilidade de nascer em hospitais de menor qualidade.