"Portugal não está livre de uma quarta vaga", afirmou à agência Lusa o cientista, segundo o qual, apesar de as novas infeções estarem todos os dias a diminuir no país, o ritmo é agora "mais lento" e o próprio Rt [índice de transmissibilidade], que está abaixo de 1, "tem estado a subir devagar, o que significa que estamos a reativar o número de contágios".

"Já não estamos a ir na direção do 0 e estamos a tender para um planalto", frisou.

Para o especialista da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, a experiência deste ano de pandemia de covid-19 já demonstrou que, "quando começarmos a desconfinar, é inevitável que o número de contágios vá aumentar".

Manuel Carmo Gomes advertiu que, nesta fase, a preocupação é de que os contágios "possam aumentar mais depressa" devido à presença das três novas variantes, tendo em conta que "as mutações fazem com que o vírus se transmita mais".

Para o especialista, a presença da variante detetada no Reino Unido "é uma das razões" que explicam o aumento exponencial de casos em janeiro.

O investigador sustentou que, no caso da variante do Reino Unido, a ciência já demonstrou que há uma "maior transmissibilidade", uma vez que as pessoas por ela infetadas "têm maior carga viral no trato respiratório superior".

Quanto à variante detetada no Brasil, há indícios, ainda por validar pela comunidade científica, de que "há reinfeções na região de Manaus por essa variante, o que é motivo de preocupação" e que "a proteção conferida pela variante mais antiga do vírus é apenas parcial".

Em relação à variante detetada pela primeira vez na África do Sul, advertiu, além da maior transmissibilidade, também pode reinfetar quem já foi atingido.

Além disso, no caso da variante inglesa, já há "evidências (provas) suficientes para dizer que nas pessoas que estão hospitalizadas o risco de morte é mais elevado se estiverem infetadas pela variante do que o vírus mais antigo".

Por estas razões, Manuel Carmo Gomes defendeu que o desconfinamento deve ser feito por fases, com base na avaliação do impacto de cada uma dessas fases e sem calendários pré-estabelecidos.

Na quarta-feira, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, admitiu que Portugal pode voltar a enfrentar uma nova vaga da pandemia de COVID-19 nos próximos meses, mesmo com a atual campanha de vacinação em curso.

A Organização Mundial de Saúde alertou hoje para o aumento de novos casos de contágio pelo SARS-CoV-2 na última semana na Europa, indicando que se interrompeu um ciclo de descida que durava há seis semanas.

A pandemia de COVID-19 provocou, pelo menos, 2.560.789 mortos no mundo, resultantes de mais de 115,1 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Portugal registou hoje 28 mortes relacionadas com a COVID-19, o valor mais baixo desde 27 de outubro, e 830 novos casos de infeção com o novo coronavírus, segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS). Desde março de 2020, Portugal contabilizou 16.458 mortes associadas à COVID-19 e 807.456 casos de infeção pelo coronavírus SARS-CoV-2.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

Vídeo - Como fazer gel desinfetante?