Há uma categoria de alimentos que, de facto, podemos considerar afrodisíacos?

Os alimentos afrodisíacos normalmente possuem esta conotação pela sua forma, ou seja pelo facto de se assemelharem aos órgãos genitais femininos ou masculinos, ou por serem alimentos com algumas propriedades termogénicas, vasodilatadoras ou excitantes (do metabolismo), favorecendo a eventual sensação de calor ou de energia. Em termos objetivos, é neste contexto que podemos afirmar que um alimento é afrodisíaco.

Claro que nestas coisas há sempre o fator psicológico, quando acreditamos que algo tem determinado efeito, estamos predispostos a percecionar os resultados em que acreditamos.

Três dos exemplos mais óbvios quando falamos de alimentos afrodisíacos são as ostras, o chocolate e os espargos. Podemos, nestes casos, encontrar uma relação de causa-efeito entre a sua ingestão e o desempenho sexual?

A associação das ostras e dos espargos a estes aspetos prende-se, essencialmente, com a sua forma. Quanto aos chocolates, por serem excitantes e ligeiramente termogénicos. O chocolate é também um alimento que tem substâncias que estimulam as hormonas associadas ao prazer.

Estes alimentos constituem ainda fonte de algumas vitaminas, como as vitaminas do complexo B que constituem importantes neurotransmissores ou intervenientes no metabolismo energético, mas este tipo de nutrientes não existe apenas nestes alimentos ou especificamente no alimento A ou B.

A associação das ostras e dos espargos a estes aspetos prende-se, essencialmente, com a sua forma. Quanto aos chocolates, por serem excitantes e ligeiramente termogénicos.

Este é um erro comum em alimentação, que devemos ingerir especificamente um alimento porque tem esta ou aquela propriedade. São variadíssimos os alimentos que são fonte destas vitaminas, como as leguminosas [grão, feijão, lentilhas, favas] ou os cereais, em particular não refinados.

Atualmente também se fala dos suplementos alimentares com poderes afrodisíacos. Será que precisamos mesmo deles?

Quando existe uma disfunção fisiológica a nível sexual há que procurar ajuda e tratamento médico especializado e não recorrer a suplementos sem critério.

espargos
créditos: Keegan Houser/Unsplash

Talvez mais importante do que pensarmos em alimentos afrodisíacos é refletirmos um pouco em como a nossa alimentação, em geral, pode contribuir para a nossa saúde e, consequentemente, para uma vida sexual também saudável…

Para uma vida sexual saudável, devemos fazer uma alimentação saudável, caracterizada por um consumo adequado de hortícolas, cereais  integrais, frutas, leguminosas, pescado e moderado em carnes, lacticínios e gorduras, evitando o consumo excessivo de açúcar e sal.

Existem micronutrientes específicos necessários para a correta maturação e desenvolvimento dos caracteres sexuais, como o Zinco, mas o seu consumo, para além das necessidades diárias, não melhora o desempenho sexual.

O Zinco está também presente numa grande variedade de alimentos, como cereais não refinados, leguminosas, pescado  (onde se incluem as ostras) e a carne.


Cláudia Viegas é Professora Adjunta na Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa. Os seus principais interesses de investigação estão relacionados com Alimentação em contexto de Hotelaria e Restauração na relação com a Saúde Pública, Promoção e Proteção da Saúde e Estilos de Vida.