No silêncio reencontro o som que sempre soou sem que eu o ouvisse; aquele que ecoa dentro do útero da minha alma como a voz da eternidade debruçada sobre o tempo.

No silêncio não encontro o longe nem o perto, pois tudo é momento. Ali a vida se desfaz num ato criativo de puro amor, permitindo que eu alcance as bordas do meu espírito sem nunca lhe tocar, pois a sua pele está dentro e toca-me como um afago de mãe sobre o rosto sereno da criança que dorme.

No silêncio todos falam uma única língua, sem dialetos nem alfabetos, e ali todo o conhecimento se dilui na presença do amor cuja fragrância é a liberdade.

No silêncio eu sou sem máscaras, despido e despojado, igual a todos e em todos presente pela continuidade do único som.

E quando um dia despertar nesse silêncio, vazio de todos os personagens, contemplarei o drama humano com um sorriso compassivo que tudo consumará como quem acorda de um sonho e agradece por estar vivo.

Pedro Elias
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