Muitas são as plantas que existem nos jardins e que povoam os campos que constituem verdadeiros marcos na história da humanidade. Escolher algumas não é tarefa fácil mas começarei, talvez, pelo trigo, que ancorou o homem à terra, transformou o ser pré-histórico aos poucos de nómada, caçador e recoletor de sementes e raízes a observador dos ciclos da natureza, assim nascendo a agricultura e a sedentarização do ser humano. Os cereais são, ainda hoje, a base da dieta da população mundial. Entre os mais consumidos estão o trigo e o arroz.

12 milhões de quilómetros quadrados do mundo inteiro estão plantados com arroz. As grandes monoculturas deste cereal, que se cultivam na maior parte dos casos em água no sudoeste asiático acarretam, no entanto, variadíssimos problemas pois são mais vulneráveis aos ataques de gafanhotos que chegam a dizimar plantações inteiras e ao apodrecimento dos caules e raízes, pragas de ratos e por aí fora... Por esta razão os arrozais asiáticos estão muito associados a práticas religiosas e rituais de proteção das culturas.

É comum em Bali, na Indonésia, onde os rice paddies são uma atração turística, verem-se altares com oferendas de flores e frutos na beira dos campos. Padies é uma palavra de origem malaia que significa arroz. Ainda voltando à minha viagem a Bali, onde crescem algumas dessas plantas que fizeram história e que me impressionaram, o bambu, com o qual tudo se constrói nessa ilha, cresce por todo o lado em enormes florestas refrescantes. Existem cerca de 1.400 espécies de bambu no mundo.

As (muitas) coisas que se podem fabricar com bambu

Sabia que o primeiro carrinho de mão foi construído de bambu? E que a ancestral cerimónia do chá utiliza vários utensílios deste material incluindo o próprio bule e as taças? Com ele se constroem casas, mobiliário, barcos, cestos, agulhas para os gira-discos e para acupuntura, papel, alimentos e medicamentos para os asmáticos, caixões, roupa (a partir das suas resistentes fibras), cosmética (em cremes para pele e para o cabelo), guarda-chuvas, instrumentos musicais e até brinquedos.

O bambu está também muito associado à história do budismo na China, onde é venerado e considerado uma planta sagrada e cheia de simbolismo. Além de ser reto, é forte e flexível. O café, o cacau, o cravinho, o chá e a cana-de-açúcar são também plantas que muito marcaram a nossa história e que, em viagens pelo oriente, sempre se me atravessam no caminho.

Plantas que marcaram a história da farmacologia

Depois, existem outras que muito marcaram a história da farmacologia, como a papoila do ópio, o teixo (Taxus bacatta) para a extração do taxol, que é muito utilizado no tratamento do cancro da mama e do útero, além da pervinca-de-madagáscar (Catharantus roseus), que tem sido um verdadeiro caso de sucesso no tratamento de leucemias, graças a dois dos seus compostos, vincristina e vinblastina.

Não posso deixar de mencionar a planta que deu origem à aspirina e que, antes da sintetização da salicina em ácido acetilsalicílico a partir do salgueiro-branco (Salix alba), foi a discreta e perfumada Filipendula ulmária, também conhecida por rainha-dos-prados, muitíssimo rica em salicilatos. Esta é uma rápida abordagem a algumas das plantas que nos acompanham todos os dias e que são, de alguma forma, fundamentais na vida de tanta gente.

Texto: Fernanda Botelho (especialista em plantas e autora do blogue Malva Silvestre)