O majestoso edifício mandado construir em 1747 pelo futuro D. Pedro III, consorte de D. Maria I, voltou a ser azul, a cor que ostentava no século XVIII. «Durante uma ação de manutenção, nos anos 80 e 90 do século XX, foram encontrados dois vestígios de azul atrás de bustos, em fachadas distintas do Palácio Nacional de Queluz. As análises então realizadas pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil e, mais recentemente, já no âmbito do projeto da Parques de Sintra, pelo Laboratório HERCULES da Universidade de Évora, confirmaram tratar-se de reboco tradicional de cal e areia e pigmento azul claro acinzentado», refere a empresa que gere o monumento em comunicado.

«A observação microscópica de grãos angulares de silício e a identificação do elemento cobalto indicaram a utilização de um pigmento feito a partir de vidro moído, como o azul de esmalte ou vidro de cobalto, pigmento nobre utilizado desde a antiguidade clássica até meados do século XIX, mas pouco estável quando utilizado em revestimentos tradicionais de cal. O azul empalidece, tornando-se pardacento», pode ler-se no documento.

«Foi precisamente essa cor pardacenta que, em 1799, foi referida por um viajante e, enquanto alguns dos vestígios encontrados durante a intervenção tinham este tom, outros, por terem estado protegidos sob camadas de reboco, apresentavam ainda um tom vibrante. A cor azul nas fachadas do palácio é corroborada por um desenho aguarelado, de autor desconhecido, existente no Arquivo Nacional da Torre do Tombo e datado de 1826, que mostra ainda molduras relevadas com painéis de cor amarela nalguns paramentos entre vãos», refere a mesma fonte.

Outras intervenções que foram feitas

A pesquisa e o estudo de diversos registos históricos, gráficos e fotográficos comprovaram a existência de molduras e permitiram a definição das dimensões, das formas e das cores dos paramentos. «Face à acentuada deterioração das fachadas do palácio, optou-se por substituir os rebocos e os barramentos degradados, uniformizando o acabamento das fachadas com uma solução mais próxima da original. A caiação tradicional, em cores obtidas a partir de pigmentos de origem mineral, sobre rebocos de cal e areia», informa a empresa.

«Durante a obra, foram encontrados mais vestígios de azul e uma moldura original que vieram confirmar os resultados da investigação», revela ainda o comunicado. Além da recuperação e da pintura das fachadas, os vãos do edifício também foram reparados. «Os trabalhos foram realizados de modo a recuperar, sempre que possível, os materiais existentes, reduzindo a substituição de elementos e garantindo uma maior autenticidade do objeto tratado», garante a Parques de Sintra.

As cantarias em lioz, pedra de tipo Ançã e outro calcário dolomítico também foram alvo de limpeza, de eliminação de colonização biológica, de colmatação de lacunas e de refechamento de juntas com argamassas tradicionais de cal e areia. «Nos elementos em pedra mais friável procedeu-se também a alguns testes de consolidação, cuja análise de resultados a longo prazo poderá contribuir para a escolha de um consolidante a aplicar no futuro. Todas as fixações dos blocos de pedra foram revistas e foi ainda instalado um sistema para afastar os pombos, composto por espigões em aço inox», informa a empresa.

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A recuperação das coberturas do Pavilhão Robillion e da Sala de Jantar

Outro dos trabalhos feitos incidiu na recuperação das coberturas do Pavilhão Robillion e da Sala de Jantar. A intervenção «consistiu no tratamento e revisão da estrutura metálica e na substituição do revestimento composto por lajes aligeiradas de tijolos armados e argamassas de cimento, em avançada degradação, por um sistema mais leve em elementos de madeira e painéis de contraplacado marítimo. Foram acrescentadas placas de aglomerado de cortiça para melhorar a resistência ao fogo e o desempenho térmico dos sótãos», explica a empresa.

«As telhas originais foram mantidas sempre que possível», garante ainda a administração. «Para solucionar os problemas de infiltrações, o sistema de drenagem foi substituído por novas caleiras em cobre e foi introduzida impermeabilização no forro das coberturas. A par destes trabalhos, as infraestruturas de energia e de comunicações existentes nos sótãos foram revistas e reorganizadas e foi instalado um moderno sistema de proteção contra descargas atmosféricas que cobre agora a totalidade do palácio», informa ainda esta entidade.

«O diagnóstico do estado de conservação efetuado logo após a Parques de Sintra ter recebido a gestão do palácio, no final de 2012, confirmou o avançado estado de degradação do conjunto, devido à carência de investimentos», justifica a empresa. A intervenção, com início em janeiro de 2015, faz parte do projeto global de recuperação dos jardins e no Palácio Nacional de Queluz, representando um investimento total de cerca de 600.000 euros, executado «tanto por questões de conservação como por questões estéticas».

Texto: Luis Batista Gonçalves com Wilson Pereira (fotografia)