O antigo monarca esteve sete dias em Espanha, os primeiros na Galiza, em Sanxenxo, para participar em regatas de barcos à vela, e os últimos no País Basco, em Vitória, para consultas médicas.

Juan Carlos Bórbon, envolto em suspeitas de corrupção e outras polémicas relacionadas com comportamentos considerados desrespeitosos das instituições espanholas, vive exilado nos Emirados Árabes Unidos desde 2020 e deixou hoje de manhã Espanha, num voo privado, segundo imagens registadas pelos meios de comunicação social locais.

Esta visita suscitou críticas de diversos setores, com as mais duras a serem verbalizadas por ministros da Unidas Podemos (que integra a coligação de Governo liderada pelos socialistas), partidos de esquerda e independentistas da Catalunha e do País Basco.

Os partidos Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) e EH-Bildu (basco) entregaram mesmo requerimentos para dois ministros irem ao parlamento explicar quanto custou ao erário público esta deslocação de Juan Carlos de Borbón, que obriga a um dispositivo de segurança, e quanto deve às finanças o antigo monarca, alvo de investigações judiciais por fraude e evasão fiscal.

O ministro do Consumo e dirigente da Esquerda Unida (uma das forças da Unidas Podemos), Alberto Garzón, afirmou que Juan Carlos I "carrega muitos processos judiciais" que, apesar de arquivados ou prescritos, "mostraram que não é inocente".

A ministra dos Direitos Sociais e líder do Podemos, Ione Belarra, defendeu que está na hora de os espanhóis elegerem o chefe de Estado para não assistirem com "certa vergonha" a situações como esta do regresso do antigo monarca ao país.

Outros deputados de partidos de esquerda e regionais condenaram o antigo monarca, a quem chamaram um "corrupto" que pode "passear-se alegremente" em Espanha "com a proteção do Governo", algo que "é absolutamente inaceitável em democracia".

Os ministros e deputados do Partido Socialista (PSOE) evitaram fazer comentários, enquanto a direita se limitou a dizer que Juan Carlos de Borbón é um cidadão espanhol que pode visitar o país, a título privado, como qualquer outro.

"Se o fizer da forma mais discreta possível, melhor para todos. Queremos que preserve o bom nome da Casa Real", reconheceu, porém, o deputado do partido Cidadãos (direita) Edmundo Bal.

O rei emérito, que abdicou em 2014, já esteve em maio do ano passado na Galiza, naquela que foi a sua primeira viagem a Espanha desde 2020 e que acabou por ser alvo de críticas de vários setores, pela forma como anunciou a estadia e se expôs publicamente, arrastando atrás de si 300 jornalistas acreditados e organizados por um clube náutico ou aceitando uma cerimónia de homenagem pública.

Quando naqueles dias um jornalista lhe perguntou se iria dar explicações aos espanhóis, como reclamaram então muitas vozes, incluindo a do primeiro-ministro, Pedro Sánchez, o antigo monarca respondeu: "Explicações do quê?".

A justiça espanhola arquivou em março do ano passado os três casos que estavam relacionados com o rei emérito, por alguns dos alegados crimes já terem prescrito e por Juan Carlos I não poder ser processado pelas "irregularidades fiscais" de que foi culpado entre 2008 e 2012 devido à sua imunidade como chefe de Estado.

A visita do ano passado acabou com uma escala em Madrid antes do regresso a Abu Dhabi em que Juan Carlos I se encontrou em privado com o filho e Rei de Espanha, Felipe VI.

Fontes da equipa de Felipe VI revelaram à imprensa que o atual chefe de Estado soube pelos meios de comunicação social que o pai aterraria na semana passada na Galiza.

As mesmas fontes da Casa Real disseram que Felipe VI tinha pedido ao pai para regressar a Espanha só depois das eleições municipais e regionais de 28 de maio, para a coroa e o futuro da monarquia não se transformarem num assunto da campanha eleitoral.

Apesar de aparentemente ter regressado a Espanha numa decisão unilateral, sem atender ao calendário que lhe deu a Casa Real, Juan Carlos de Borbón foi desta vez discreto na estadia, durante a qual não falou com jornalistas e só abandonou o local onde ficou alojado na Galiza (a casa de um amigo) para participar nas regatas.