A cantora brasileira Giulia Be pisa esta noite pela primeira vez um palco em Portugal, onde dá início à sua digressão ‘Disco Voador’, o mesmo nome do seu álbum de estreia, lançado em novembro de 2022, e que ganhou no passado mês de julho uma versão ‘deluxe’, com novos temas, incluindo o seu último single, ‘Perfeita’.

Em entrevista ao Fama ao Minuto, a cantora e atriz, que já aterrou em solo português para atuar no Meo Sudoeste (9 de agosto) e na Feira de São Mateus, em Viseu (12 de agosto), mostrou um lado mais sonhador, falou sobre o seu mais recente trabalho, recordou a parceria que fez com David Carreira para a música de apoio à Seleção Portuguesa no Euro2020 e mostrou a alegria que sentiu ao dar os primeiros passos como atriz.

Em outubro de 2022 foi lançado na Netflix o filme ‘Depois do Universo’ – que deu origem a uma música com o mesmo nome –, o primeiro projeto de Giulia Be nos ecrãs, no qual deu vida à protagonista Nina.

Se contasse àquela menina com 17 anos que ela estaria de volta aos 24 para fazer um espetáculo para milhares de pessoas eu nunca acreditaria

Começo por perguntar o motivo pelo qual decidiu começar a digressão em Portugal.

Estava a dever um momento de festival em Portugal. No ano passado era quando eu queria ter feito isso, mas acho que por tudo o que estava a acontecer na minha vida... acho que Deus escreve direito por linhas tortas e preparou este ano para ser o meu 'debut' [estreia]. E estou a sonhar, as últimas semanas da minha vida têm sido só isso. Todos os dias acordo, ‘passo o show’ duas vezes por dia, e começo logo a dizer "E aí, Portugal! Boa noite, Portugal!", a falar como seu já estivesse aí em palco, já a ver o 'show' como se ele estivesse a acontecer. Estou muito, muito animada, como nunca estive. E até vou passar aí o meu aniversário [13 de agosto]!

E já tem planos para esse dia?

Ainda estou à procura. Portugal tem praias lindas, por isso eu estou a procurar algo como um beach club, para me divertir com os meus amigos. Lembro-me do meu aniversário de 17 anos, que passei no Algarve, então... se contasse àquela menina com 17 anos que ela estaria de volta aos 24 para fazer um espetáculo para milhares de pessoas eu nunca acreditaria.

O melhor para mim de qualquer espetáculo é quando as pessoas cantam junto comigo

O que é que espera do público português?

O público português sempre foi muito carinhoso comigo, tenho uma troca muito grande, tenho clubes de fãs aí há muitos anos. Todas as vezes que eu fui aí para participar em programas de rádio tinha sempre alguém à minha espera à saída, então é muito bom poder imaginar que vai ser isso, mas numa escala gigantesca. E fora que o melhor para mim de qualquer espetáculo é quando as pessoas cantam junto comigo. Montei o alinhamento de uma forma a que pelo menos o final do concerto - sem dar muitos ‘spoilers’ (risos) – vai ter músicas que tiveram boa repercussão em Portugal. Acho que há boas hipóteses de as pessoas cantarem em conjunto!

Em relação ao seu álbum, ‘Disco Voador’, que lançou no ano passado... de onde veio a necessidade de este ano lançar uma versão ‘deluxe’?

Sempre gostei muito dessa ideia de lançar uma versão ‘deluxe’, onde não só se trazem músicas que ainda têm a ver com aquele projeto, mas também outras que tenham sido deixadas ao longo do caminho e unir todas as canções que fizeram parte daquele momento da minha vida. Queria que os meus fãs tivessem um lugar onde pudessem aceder e dizer 'Isto representa toda aquela parte da carreira da Giulia. Isto é o que ela foi de 2020 até 2023'. O 'Solta' era isso. Foi o meu primeiro trabalho, e sinto que ele definia muito do que eu sempre fui e do que eu era na época em que o lancei.

Disse ao Universo que ia encontrar um homem que prestasse, mesmo sem naquela altura ainda o ter encontrado, e aí ele veio

Se tivesse de escolher uma música do álbum, qual é que escolhia e porquê?

É difícil... mas vou ter de escolher 'Perfeita' [pode ouvir aqui] neste momento, porque estou a senti-la muito, chorei em quase todos os ensaios, emociono-me quando canto essa canção. É uma música que escrevi para mim mesma, precisava muito dela. Acho que passa uma mensagem de carinho, um carinho que damos tão livremente aos outros e que às vezes nos esquecemos de dar a nós próprios. Representa a paciência e a aceitação de todas as versões pelas quais tive de passar para chegar até aqui. Ela toca num ponto especialmente importante para nós, mulheres, que estamos sempre com um peso, um sentimento de termos de nos adequar para ‘caber’. Mas também amo 'Tempo' [oiça aqui] e 'Pessoa Certa Na Hora Errada' [pode ouvir aqui] . Pronto, falei!

A música 'O Brasil está em festa' [que contém os versos “O Brasil está em festa/ Eu finalmente achei um homem que presta”] é dedicada a alguém em especial?

Na verdade escrevi essa música depois de uma amiga minha, a Sofia, voltar de uma viagem completamente apaixonada. Ela é uma pessoa que realmente merecia aquele amor naquele momento. Então, naquele olhar dela e na forma como ela falava dele, despertou-me a vontade de me apaixonar de novo. E decidi escrever essa música.

Algum tempo depois, fui de facto encontrar um 'homem que presta', só não está é no Brasil! (risos) Disse ao Universo que ia encontrar um homem que prestasse, mesmo sem naquela altura ainda o ter encontrado, e aí ele veio [a cantora namora com o norte-americano Conor Kennedy]!

O português é a minha essência, a minha casa (...) Cada idioma me proporciona uma experiência diferente e a carreira vai-se moldando de acordo com as músicas. Se a música for boa não importa de onde vem

O seu álbum tem algumas músicas em espanhol e também já cantou em inglês. Sente que é importante levar a sua música para o resto do mundo?

Na verdade eu nem gosto do termo 'carreira internacional', porque acho que só temos uma carreira e passamos por vários lugares do mundo com ela. Toda a gente tem uma carreira e as escolhas que faz dentro dela. Claro que podemos escolher coisas que nos levam a rumos diferentes. Eu, na minha música, gosto de experimentar. Amo cada vez mais ouvir artistas latinos e pensar em possibilidades. Gosto de escrever em inglês, porque me traz um outro lado meu. O português é a minha essência, a minha casa, onde mostro muito da minha personalidade, por isso acho que cada idioma me proporciona uma experiência diferente e a carreira vai-se moldando de acordo com as músicas. Se a música for boa não importa de onde vem.

Nesta nova versão do álbum tem parcerias com outros cantores [Luan Santana, Clarissa e Papatinho], ao contrário do primeiro álbum, em que todas as músicas são a solo. Teve a necessidade de juntar outras vozes à sua neste trabalho?

Quando lancei o 'Disco Voador' - a versão normal - lancei sem 'feats' [parcerias]. Lancei 13 músicas no dia 22 de novembro e na versão Deluxe lancei 22 músicas no dia 13 de julho. Sou muito da numerologia. O dia 13 é um número da sorte para mim. No meu EP [‘Solta’] tinha seis músicas. Agora tinha 22 espaços para preencher e cada ‘feat’ foi muito bem pensado. Eu digo que cada parceria do álbum é como se fosse um planeta diferente que eu visitei. Cada um tem o seu momento, acho que têm muito da identidade de cada um deles nas músicas. É muito bom ter amigos nesta jornada, admiro-os muito.

O que é que podemos esperar do seu trabalho daqui para a frente? Quais os próximos projetos?

Por agora estou totalmente imersa na tournée, não consigo pensar noutra coisa. Para mim é um sonho tão grande, que está finalmente a acontecer. Depois de Portugal estou muito focada em voltar para o Brasil, onde o espetáculo vai ser um bocadinho mais longo, porque o tempo de concerto em Portugal [Meo Sudoeste e Viseu] é mais curto. Mas gostaria de ir a Portugal e fazer um espetáculo só meu aí, quem sabe no ano que vem.

O ‘Be’ veio disso. Sempre imaginei que as minhas músicas fossem ser uma maneira de me comunicar com os meus fãs, é quase como se dissesse 'Just be Giulia'

Porquê o nome 'Disco Voador'?

O álbum começou por ter outro nome e, aos '45 do segundo tempo', estava em viagem para o Rio de Janeiro para terminar o álbum e peguei num livro, como sempre faço, para ler no avião. Calhou ser um livro chamado 'Letra Só', do Caetano Veloso, que é uma antologia de todas as letras dele. Eu estava a ler os poemas e um deles chamava-se 'Não Identificado', que foi originalmente gravado pela Gal Costa. Uma das frases era muito linda. "Eu vou fazer uma canção de amor/ Para gravar um disco voador/ Uma canção dizendo tudo a ela/ Que ainda estou sozinho, apaixonado/ Para lançar no espaço sideral".

Achei isto a coisa mais linda, porque tinha a ver com tudo o que eu estava a criar na temática das letras do álbum. Todas as músicas têm amor, é isso que move este álbum inteiro. Sabia que ia ser o nome deste álbum assim que li o poema. E o Caetano é uma grande referência para mim.

Porquê o nome artístico de Giulia Be?

Na altura em que estava a tentar encontrar o meu nome artístico fui a uma livraria e comprei muitos livros de mitologia. Queria encontrar alguma coisa que me chamasse a atenção, que iria usar como meu nome artístico. Tinha essa ambição, porque achava que o meu nome não me ia "fazer acontecer". E então comecei a pensar, inventei milhares de nomes e entretanto já estávamos perto da altura de lançar a minha primeira música e ainda não tinha "batido o martelo". Foi quando falei com a minha mãe e lhe disse "Acho que vou ter de deixar Giulia", ao que ela respondeu "Foi esse o nome que escolhi, então, por favor, se puderes deixar Giulia é melhor!" (risos).

Mas não sabia o resto, seria Giulia quê? O meu nome do meio é Bourguignon. Se fosse uma chef seria maravilhoso, mas para as pessoas pesquisarem no YouTube ia demorar muito tempo. O ‘Be’ veio disso. Sempre imaginei que as minhas músicas fossem ser uma maneira de me comunicar com os meus fãs, é quase como se dissesse 'Just be Giulia', seja você mesma. O ‘Be’ é uma palavra muito forte: "be yourself, be autenthic, be ambicious, be artistic, be creative… [sê tu própria, sê autêntica, sê ambiciosa, sê artística, sê criativa...] há tantas possibilidades quando nos conectamos com a essência do ser!

Representação? Apaixonei-me pelo ofício (...) A experiência para mim foi perfeita e por isso também estou com muitas dificuldades em escolher o próximo papel

Em 2021 lançou, em parceria com a Ludmilla, o David Carreira e o Preto Show, uma música para apoiar Portugal no Euro2020. O que é que essa parceria representou para si?

Tenho uma música com o Cristiano Ronaldo no meu ‘clipe’! É o sonho de qualquer pessoa! Foi uma honra para mim ter sido convidada para participar, sempre quis fazer uma música para a Copa, transmite uma energia tão boa e gostei muito de o David ter pensado 'Eu vou juntar o Brasil' - eu, a Ludmilla, o Preto Show - e trouxe um pouquinho de cada um dos nossos temperos, das nossas personalidades, mas que mostra a união. Foi muito bom, amo essa música, tem uma ótima 'vibe'.

Além de cantora estreou-se como atriz, como protagonista do filme "Depois do Universo". Quer fazer também carreira no mundo da representação?

Com certeza, apaixonei-me pelo ofício, por estar no ‘set’ todos os dias, por estar a viver uma personagem, por ter de aprender textos e colocar-me noutros lugares. Apaixonei-me pela Nina [a personagem de Giulia no filme], transformou a minha vida. A experiência para mim foi perfeita e por isso também estou com muitas dificuldades em escolher o próximo papel. É importante que seja um desafio tão grande quanto este, mesmo sendo o segundo filme. Agora estou concentrada na ‘tour’, mas espero em breve poder focar-me noutra personagem.

E está a pensar estudar representação futuramente?

É um plano para o futuro. A minha participação no filme aconteceu quando não estava à espera, de uma forma que eu nunca imaginei.