Quando refletimos sobre a integração de jovens/adultos com deficiência no mercado laboral, pensamos inicialmente no tipo de atividades que podem desenvolver. Estas funções são designadas por atividades socialmente úteis e são definidas porque proporcionam a valorização pessoal e o máximo aproveitamento das capacidades da pessoa, no sentido da sua autonomia, facilitando uma possível, transição para programas de integração socioprofissional.

O diploma (Portaria n. º432/2006 de 3 de maio) regulamenta o exercício das atividades socialmente úteis, a que se refere o Decreto-Lei 18/89, de 11 de janeiro: “estas podem ser desenvolvidas pelos Centros de Atividades Ocupacionais (CAO) ou em outras estruturas existentes na comunidade, adiante designadas, respetivamente, por CAO e estruturas de atendimento, e ainda no domicílio dos utentes do CAO. As estruturas existentes na comunidade podem ser: estabelecimentos oficiais ou particulares criados para satisfazerem de um modo específico necessidades de interesse geral, sem carácter industrial ou comercial; estabelecimentos e serviços das autarquias locais; ou estabelecimentos de empresas públicas”.

Os desafios começam logo no primeiro momento em que contactamos as empresas ou autarquias, muitas vezes por desconhecimento tanto da Lei, ou por desconhecimento do potencial que cada um destes jovens/adultos possui e do valor acrescentado que dão às empresas quando fazem parte delas. Cabe à equipa que trabalha com estas pessoas diariamente, e ao próprio jovem/adulto demonstrar as suas competências e demonstrar as suas mais-valias.

Depois de ultrapassar a barreira do desconhecimento e estabelecer um protocolo de colaboração entre a Fundação, o jovem/adulto ou tutor legal e a empresa, iniciam-se novos desafios, este podem ir desde o treino de transportes até ao local de trabalho, adaptações técnicas no posto de trabalho, se for necessário, formação aos colaboradores da empresa sobre como lidar com o Jovem/adulto, sobre as capacidades que têm e também as suas dificuldades.

Da experiência que temos, de mais de 15 anos na integração destes jovens/adultos, normalmente depois do primeiro obstáculo ultrapassado, o sucesso é praticamente de 100%. Ou seja, quando todos estão envolvidos e empenhados, família, jovem/adulto, Fundação e Empresa a integração destes jovens/adultos torna-se uma experiência muito positiva para todos. A Fundação AFID Diferença conta, hoje em dia, com mais de dez parceiros e cerca de 20 jovens que todos os dias contribuem de forma útil na nossa sociedade.

Claro que temos ainda muito caminho para fazer, mas sabendo que temos hoje uma sociedade cada vez mais inclusiva e não baixamos os braços perante as dificuldades. Como dizia Fernando Pessoa, “… Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um Castelo…”.

O papel diário

Há mais de 10 anos, a nossa Instituição teve a necessidade de criar um novo grupo para dar resposta, por um lado, a novos utentes que chegavam com outras capacidades intelectuais e funcionais, por outro lado, continuar a reafirmar o posicionamento da AFID no trabalho com a comunidade. A Fundação acredita, e sempre acreditou, que a Inclusão se consegue realmente se o utente estiver, efetivamente, inserido em contexto de comunidade, numa óptica de trabalho de parceria (cliente, família, AFID e entidades parceiras), a fim de eliminar barreiras, empoderando os utentes naqueles que são os seus direitos, as suas vontades, sonhos e projetos de vida.

É a partir do Grupo de Inclusão que uma equipa de três colaboradoras afetas a esta equipa trabalha diariamente as capacidades e os comportamentos dos clientes numa perspetiva de empowerment dos utentes.

São exemplos de tarefas desenvolvidas internamente na Fundação:

- Tarefas sequenciais (montagem e embalamento de componentes);
- Lavagem de vidros e de automóveis;
- Limpeza e arrumação de espaços (apoio organizacional na creche, lavandaria, lar, jardim, etc.);
- Estufa hidropónica (Controlo do PH, limpeza dos tubos de alfaces, apanha de alfaces, tomates, hortelã, etc.);
- Horta pedagógica (plantar, regar e cuidar de várias espécies hortofrutícolas);
- Apoio à creche (apoio aos almoços, às brincadeiras, leitura de contos, etc.);
- Tratamento de animais (alimentação e arrumação e lavagem dos espaços).
- Mercado (apoio à venda dos produtos de CAO);
- Apoio aos lanches (organização do espaço de trabalho, cortar pão e barrar pão com manteiga, doce, marmelada…);
- Empacotamento de talhares;
- Atendimento telefónico.

Ao longo dos anos foi-se conseguindo criar neste grupo um sentido de pertença, de união, de inter ajuda e de responsabilidade partilhada.

Somos como um puzzle, todas as peças são especiais e únicas e quando falta uma peça, o puzzle está incompleto!

Sem uma intervenção multidisciplinar era muito difícil manter as Pessoas com Deficiência, neste caso intelectual, a desenvolver com sucesso e felicidade as atividades na comunidade.

Algumas das atividades que os clientes desenvolvem diariamente:

- Atividades Terapêuticas (Snoezelen, Psicologia, Reabilitação Psicomotora, Musicoterapia); Atividades Desportivas (natação, ginásio, Corfebol);

- Atividades de Desenvolvimento Pessoal e Social (treinos de autonomia pessoal – alimentação, vestuário, higiene, atividades da vida diária, e social – transportes e aquisição de bens, Autorrepresentação);

- Atividades Estritamente Ocupacionais (expressão plástica, pintura simples, colagens e recortes, estimulação sensorial, treinos psicomotores e motricidade fina);

- Atividades Complementares (Formação Global e Novas Tecnologias, Dança e expressão corporal);

- Atividades Socioculturais (atividades de âmbito lúdico-recreativo, desportivo, cultural, social, festivo ou formativo);

- Atividades Artísticas Oficinais (Cerâmica, Costura, Papel, Pintura e Tecelagem).

Testemunhos de alguns dos clientes do Grupo de Inclusão do CAO da Fundação AFID Diferença

“Para mim, é muito importante estar integrado na FNAC de Alfragide, onde aprendo a fazer novas tarefas ao longo do tempo e os impactos positivos na minha vida passam pela melhoria do meu vocabulário, por um lado, porque trabalho com pessoas sem deficiência e, por outro, de estar ocupado de forma útil” - Pedro Carvalho.

“É muito importante sermos renumerados pelo trabalho que fazemos, pois sabemos que é fruto do nosso esforço e do nosso suor. Por isso, eu gosto muito desta frase: “A Deficiência não reside em nós, a Sociedade é que está Deficiente” - Catarina Seixo

“Tinha vergonha de me dirigir às pessoas por achar que estas não me iam entender. Estar no CAO permitiu-me começar a desenvolver atividades como o de empacotamento de talheres, limpeza de vidros ou confeção dos lanches, entre outras, fizeram-me ganhar ferramentas para depois então, mais tarde, ser integrado no IKEA” - Daniel Pinto

Texto da autoria de: Margarida Paulino, Psicóloga da Fundação AFID Diferença, e Sofia Pinto, Animadora Sociocultural e responsável pelo Grupo de Inclusão do Centro de Atividades Ocupacionais (CAO) da Fundação AFID Diferença