A vitamina D é uma vitamina absolutamente essencial para a saúde dos nossos ossos. É certo que todos sabemos que o cálcio é igualmente importante, no entanto, por mais rica que a dieta possa ser em cálcio, a verdade é que é a vitamina D que determina a absorção de cálcio pelo intestino. E o papel da vitamina D não fica só por aqui: regula igualmente os níveis de fósforo e magnésio no nosso organismo.

A suplementação dietética com vitamina D está preconizada no primeiro ano de vida, recomendando-se a ingestão de 400 UI de vitamina D por dia.

No entanto, ao contrário de algumas vitaminas que não são produzidas no nosso organismo, a vitamina D pode ser sintetizada pela nossa pele. Assim, como se pode obter vitamina D?

  1. Síntese cutânea de vitamina D através da exposição à luz solar.

A quantidade de vitamina D que a pele consegue produzir vai depender do tempo de exposição solar à radiação UV, da intensidade da exposição, da pigmentação natural da pele e do uso de protetores solares. Em Portugal, fruto da nossa latitude e clima moderado, a intensidade da luz solar é adequada, mesmo nos meses de inverno. Não seríamos, à partida, um país de risco para a deficiência em vitamina D.

Ainda assim, um estudo bastante simples e com uma amostra pequena realizado no grande Porto em 2009 estabeleceu em cerca de 25% o número de crianças dos 2,5 aos 16 anos, com níveis deficitários de Vitamina D.

Para isto pode contribuir o facto das crianças portuguesas terem elevados níveis de sedentarismo, sobretudo com tempos de permanência no exterior muito limitados, como ficou evidente no relatório “Brincar em equilíbrio” publicado em 2016 pela SKIP: 70% das crianças portuguesas dispõem de menos de 60 minutos de brincadeira ao ar livre por dia e apenas 10,8% do seu tempo é passado no exterior.

  1. A dieta

A segunda forma de obtenção da vitamina D é através da dieta. A vitamina D está naturalmente presente em peixes mais gordos, como o salmão, o atum e as sardinhas. Os ovos têm apenas uma pequena quantidade. Frequentemente os alimentos associados à ingestão de vitamina D são o leite, os iogurtes e os cereais de pequeno almoço, mas reparem, estes alimentos são artificialmente suplementados. Assim sendo, dietas restritivas podem constituir um fator de risco acrescido para a deficiência em vitamina D.

  1. A suplementação

A terceira forma de obtenção de vitamina D é através de suplementos alimentares. No entanto, a suplementação sistemática acima do primeiro ano de vida não é recomendada.

O que acontece quando a criança não obtém vitamina D suficiente?

Uma vez que a vitamina D tem um papel tão importante para o desenvolvimento e crescimento ósseo, o seu défice revela-se com o desenvolvimento de raquitismo. Atualmente, visto que a esmagadora maioria das crianças tem uma dieta minimamente equilibrada, o raquitismo é mais uma curiosidade histórica. No entanto, sabemos hoje que a vitamina D também interfere com o sistema imunitário, como um factor protetor contra as intercorrências infecciosas e patologia auto-imune.

E o impacto do confinamento?

Em todo o mundo, o confinamento atingiu crianças e adultos por igual. No entanto, uma vez que as crianças se encontram em crescimento, o impacto da menor exposição solar é maior. Num estudo publicado em novembro de 2020, avaliando o impacto do primeiro confinamento nos níveis de vitamina D em 3600 crianças entre os 0 e 6 anos de idade na província de Guangzhou na China, detectou-se um aumento significativo de défice de vitamina D, quando comparando os níveis de vitamina D no triénio 2017-2019 com o ano de 2020. A prevalência de níveis deficitários de Vitamina D foi sobretudo marcante e 4x superior nas crianças entre os 3 e os 6 anos.

Como estabelecer um equilíbrio?

Não parece haver uma forma consensual de abordar o risco de deficiência de vitamina D. Que o défice parece ser algo prevalente na população portuguesa, colocando-o como meta de saúde passível de ser abordada do ponto de vista da saúde pública, é verdade. Como no último ano, fruto do confinamento, temos testemunhado um maior sedentarismo da população pediátrica e a consequente menor exposição à luz solar, o risco de deficiência de vitamina D na população pediátrica, parece ter aumentado.

Assim, até dispormos de recomendações específicas no que toca ao reforço da suplementação em vitamina D nas crianças e jovens pelas sociedades ou academias de pediatria, é importante incentivar o combate ao sedentarismo, sobretudo com um incremento das actividades lúdicas ao ar livre. Atenção que, em nenhum momento, se recomenda a abstenção do uso de protecção solar.

Adicionalmente, seria igualmente importante reforçar a ingestão de alimentos naturalmente ricos em vitamina D bem como dos alimentos sinteticamente enriquecidos com esta vitamina. Esta recomendação é útil e extensível para toda a família.

Um artigo da médica pediatra Joana Martins.