A maioria dos professores em Portugal tem, pelo menos, 50 anos e quase não existem docentes com menos de 30 anos (0,6%), sublinha o relatório “Estado da Educação 2019”, divulgado hoje pelo CNE.

Segundo o CNE, a maioria dos docentes das escolas poderá estar reformado até 2030: Dos quase 90 mil docentes que em setembro do ano passado tinham, pelo menos 45 anos, quase 52 mil (57,8%) poderão aposentar‑se nos próximos dez anos.

Até 2024, deverá haver menos 17.830 professores, nos cinco anos seguintes serão menos 24.343 e finalmente, entre 2029 e 2030, outros 10 mil poderão deixar a profissão, segundo um estudo do CNE.

Nas escolas, as maiores faltas serão de professores de educação pré-escolar (73%) e, no 2º ciclo, vão sair essencialmente professores das disciplinas de Português, Estudos Sociais/História, Francês, Matemática e Ciências Naturais.

Educação Tecnológica, Economia e Contabilidade, Filosofia, História e Geografia são as áreas em que deverá haver mais reformas no 3º ciclo e secundário.

O CNE volta a defender a necessidade de serem adotarem medidas, tais como a integração urgente de mais professores no sistema, e alerta para a “baixa atratividade da profissão docente”.

Exemplo disso é a diminuição gradual de alunos que procuram os cursos da área da educação: Entre 2011/2012 e 2017/2018 registou-se uma diminuição de cerca de 50% de alunos inscritos, refere o relatório.

A instabilidade da carreira poderá ser um dos motivos pelos quais os jovens não sonham ser professores. São conhecidas as histórias de profissionais que, durante anos a fio, percorrem escolas de todo o país até conseguirem entrar para os quadros.

Os números do Recenseamento de Docentes 2019, da Direção-Geral da Administração Escolar, confirmam estes relatos: Os professores do 1º escalão da carreira têm, em média, mais de 43 anos de idade e 14 anos de serviço.

No topo da carreira, a média de idades é de 60 anos e 38 de trabalho, sendo que apenas 8,7% dos docentes atingiram o topo da carreira.

O relatório do CNE olha também para os restantes profissionais das escolas e alerta para a diminuição de funcionários na última década: Em 2018/2019, eram menos 4.409 do que em 2009/2010.

Nos últimos anos tem havido um reforço de pessoal não docente, tendo o Ministério da Educação decidido alterar o diploma que define quantos assistentes deve ter cada escola.

A covid-19 obrigou o ministério a aumentar o pessoal não docente, mas diretores, professores e encarregados de educação consideram que continuam a ser insuficientes para responder às novas tarefas que surgiram com a pandemia.

O relatório anual do CNE traça um retrato do sistema educativo português e faz uma análise da evolução registada nos últimos dez anos, com base em estudos nacionais e comparações internacionais.

A utilização de tecnologias para a realização de atividades escolares também é abordada no relatório, mas esta foi uma das realidades escolares mais alteradas este ano, quando em março as escolas foram obrigadas a fechar portas devido à pandemia.

Em apenas quatro dias, quase dois milhões de crianças e jovens, desde creches ao ensino superior, abandonaram as escolas e o contacto com os professores passou a fazer-se através de um ecrã.

O relatório do CNE refere que, no ano passado, professores e alunos utilizavam pouco as tecnologias para a realização de atividades escolares e que faltavam computadores eficientes e internet nas escolas.

Os dados indicam que antes da pandemia, apenas 7% dos alunos utilizavam essas tecnologias e que 83,7% dos computadores das escolas tinham mais de três anos.