Em declarações à Lusa à margem de uma conferencia em Paris, Nuno Crato defendeu ainda que “há sempre espaço para melhorar as condições dos professores em Portugal”.

“Há um conjunto de insatisfações com muitos assuntos que motiva os professores neste momento e, portanto, deve-se enfrentar este assunto. É preciso falar claro com os professores, tentar entender aquilo que se passa, mas já não sou ministro. É preciso falar verdade e claramente, para que não haja espaço para equívocos”, disse.

Nuno Crato foi um dos convidados de honra da conferência "Agir pour l’éducation", que visa lançar a discussão sobre o estado da educação em França e que envolve o Ministério da Educação francês e os investigadores do College de France.

Perante uma sala cheia, o antigo ministro falou na experiência portuguesa nos testes internacionais de avaliação do ensino, PISA e TIMSS (avaliação específica de matemática), entre 2011 e 2019, referindo que é possível a um país com menos recursos bater-se por melhores posições nestes rankings através de melhorias nos programas e mais formação para os professores.

Na capital francesa, o antigo ministro assinou ainda um protocolo entre a fundação Iniciativa Educação, que dirige, e o Conselho Científico de Educação Nacional francês.

Questionado sobre as preocupações da Sociedade Portuguesa de Matemática, que deu conta esta semana de que o ensino desta matéria no secundário está em “mínimos históricos inexplicáveis”, Nuno Crato confessa que houve uma mudança no ensino que também o inquieta.

“Eu vi o parecer da Sociedade Portuguesa de Matemática e é um parecer que deve ser lido com muita atenção porque, pelo que eu vi, é um parecer bem construído sobre os problemas de viragem do ensino da matemática. Tivemos, durante muitos anos, um ensino mais estruturado da matemática e agora está a fazer-se ao contrário, tal como os programas. A matemática é feita muito de abstração e trabalho, que permite depois enfrentar outros desafios. Também fiquei preocupado com o que a Sociedade de Matemática Portuguesa revelou", concluiu.

Atualmente, estão a decorrer três greves distintas convocadas por várias organizações sindicais de professores em Portugal, com paralisações que vão durar até, pelo menos, ao fim de janeiro. Os professores exigem melhores condições de trabalho e salariais, o fim da precariedade, a progressão mais rápida na carreira, e protestam contra propostas do Governo para a revisão do regime de recrutamento e colocação, que está a ser negociada com os sindicatos do setor.